Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Laranja é pessoa da esquina, desconhecida"
Irmã de Lap Chan diz que vai tirar dinheiro que tem aplicado em "renda fixa e variável" para adquirir o controle da VarigLog
Chan Lup afirma que entrará na empresa devido a sua experiência e reputação no
mercado financeiro e vê "risco e oportunidade" no negócio
DA COLUNISTA DA FOLHA
Chan Lup Wai Ohira diz que
vai tirar dinheiro que tem aplicado "em renda fixa e variável"
para adquirir o controle da VarigLog. Na entrevista exclusiva
que deu à Folha, disse que o irmão, Lap Chan, não mandará
na empresa e afirmou que não
é laranja dele. "Laranja é uma
pessoa da esquina, desconhecida." A seguir, os principais trechos da entrevista.
FOLHA - Qual vai ser a sua participação na empresa?
CHAN LUP WAI OHIRA - Eu vou ter
51% dos 80% que pertenciam
aos três sócios brasileiros
[Marco Antonio Audi, Luiz
Eduardo Gallo e Marcos Haftel]. Os outros 29% serão comprados pelo Peter Miller [economista]. Estou entrando na empresa devido a minha experiência no mercado financeiro,
de 31 anos. Porque a VarigLog
hoje não tem um problema técnico-operacional. Ela tem um
problema de gestão. E isso eu
sei fazer.
FOLHA - Como surgiu essa idéia?
CHAN LUP - Em razão da situação da VarigLog, estava se buscando uma pessoa com esse
meu perfil e também que tivesse credibilidade no mercado.
Com a minha experiência e reputação, tenho certeza de que
vou conseguir renegociar, alongar dívidas, trazer novos investimentos, fazer parcerias.
FOLHA - Você vai ter que investir
quase US$ 1 milhão na compra das
ações. Tem esse dinheiro?
CHAN LUP - Esse é o valor que a
Justiça definiu para os 80% de
ações que pertenciam aos três
sócios brasileiros [ao afastar os
brasileiros da sociedade da Volo do Brasil, que controla a VarigLog, a Justiça determinou
que o fundo Matlin Patterson
pagasse US$ 428 mil a cada um
deles, ou US$ 1,28 milhão]. Vou
entrar com 51% desse valor,
cerca de US$ 800 mil.
FOLHA - É um empréstimo de seu
irmão para você?
CHAN LUP - Não, é dinheiro
meu. Eu acho que, com 31 anos
de mercado financeiro, tive
condições de acumular certa
reserva, né?
FOLHA - É um dinheiro que está investido e que você vai tirar da caderneta de poupança, vamos dizer assim, para integralizar na empresa?
CHAN LUP - Exatamente. Exatamente. O dinheiro não está em
caderneta de poupança, e sim
em renda fixa, em renda variável. E logicamente eu vou ter
que desaplicar esse dinheiro
para aplicar na empresa.
FOLHA - O seu irmão está te emprestando alguma coisa?
CHAN LUP - Não é necessário.
FOLHA - Você tem condição de
comprovar que esse dinheiro é seu?
CHAN LUP - Absoluta.
FOLHA - E por que apostar fichas
numa empresa envolvida em disputas judiciais, que tem dívidas e está
no centro de um turbilhão político?
CHAN LUP - Primeiro é que, dentro da minha característica,
gosto muito de projetos. No
meu histórico de 31 anos de
mercado financeiro, apareceram vários projetos de que participei, com sucesso. Em segundo lugar, o chinês diz: onde tem
risco tem uma oportunidade.
FOLHA - Então não é só por amor
ao seu irmão?
CHAN LUP - [rindo] Não. Também. Mas o mais importante é
isso: onde tem risco tem oportunidade. Lógico, desde que você tenha capacidade, competência e interesse de fazer.
FOLHA - As pessoas vão perguntar
a você o que perguntaram anteriormente aos três sócios brasileiros: você é laranja do seu irmão?
CHAN LUP - As pessoas que são
inteligentes e entendem de negócios vão perceber que eu estou deixando 31 anos de mercado para entrar num outro segmento com o meu próprio dinheiro. Isso não pode ser caracterizado como laranja. Normalmente laranja é uma pessoa da
esquina, desconhecida.
FOLHA - E os outros, eram laranjas?
CHAN LUP - É o que você vê, a
Justiça fala, né?
FOLHA - Que eles são laranjas...
CHAN LUP - É o que todo mundo
acha. Mas os três não são laranjas, não.
FOLHA - Vocês vão fazer algum
acordo para que o Lap Chan tenha o
real comando da empresa?
CHAN LUP - Não. O comando vai
ser meu.
FOLHA - É que o natural é que as
pessoas imaginem que você está entrando na empresa, mas que quem
vai mandar, de fato, é seu irmão...
CHAN LUP - Com 51% das ações,
eu vou mandar. Eu posso citar o
Jeffrey Pfeffer, uma das autoridades de Stanford: para que a
gente tenha sucesso, tem que
ter vontade de fazer, capacidade de fazer e o poder de fazer.
FOLHA - Que tipo de influência o
Lap Chan vai ter?
CHAN LUP - Na elaboração de
"business plan", como um acionista de 20%.
FOLHA - Em 2007, o Lap Chan tentou comprar as ações dos três sócios
brasileiros por meio da Voloex, empresa tida como de fachada e da
qual você era sócia. Não é a mesma
coisa agora?
CHAN LUP - Eu tinha a intenção
de assumir a empresa, mas
achei que não era ainda o momento. Agora, estou decidida a
enfrentar o desafio.
FOLHA - Não é barato comprar a
VarigLog por US$ 800 mil?
CHAN LUP - Como eu disse, foi
um valor determinado pelo
juiz. E não é pouco, de jeito nenhum. A empresa está com capital negativo.
FOLHA - Qual é a dívida?
CHAN LUP - Não tenho... só sei
que está bem descapitalizada.
FOLHA - Vai ter demissão?
CHAN LUP - Enquanto não tivermos o real quadro da empresa,
seria leviano da minha parte dizer que tem de demitir.
FOLHA - A empresa tinha 19 aviões
há um ano, hoje tem 7. Houve demissões, atrasos nos pagamentos a
prestadores de serviços...
CHAN LUP - Tenho certeza de
que vou conseguir administrar.
É um pouco de mim dizer: se o
propósito é para o bem, o universo conspira a favor.
FOLHA - Os advogados da VarigLog
vão contestar na Justiça a obrigação
de uma empresa aérea ser controlada por brasileiros. Se eles vencerem
essa questão, e a empresa puder ser
controlada por um estrangeiro, pretende devolver as ações para seu irmão?
CHAN LUP - Se estou entrando
no negócio, não é para pensar
em vender lá na frente. É para
ter sucesso e continuar.
FOLHA - De acordo com Marco Antonio Audi, um dos sócios brasileiros
afastados, o advogado Roberto Teixeira [compadre de Lula] "faz chover" no governo. Ele continuará advogando para a empresa?
CHAN LUP - Eu conheço o profissionalismo, a competência dele. É um advogado que administra 300 processos judiciais.
Não tem o que questionar.
FOLHA - Você conhece o presidente
Lula?
CHAN LUP - Não, mas gostaria
muito de conhecê-lo um dia.
FOLHA - Onde está o Lap Chan?
CHAN LUP - Está viajando, para
o aniversário da filha.
Texto Anterior: Lap Chan quer irmã no controle da VarigLog Próximo Texto: Frases
Índice
|