São Paulo, domingo, 06 de julho de 2008

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Teles pressionam para adiar nova regra

Portabilidade, serviço que permitirá a troca de companhia com a manutenção do número telefônico, enfrenta resistência

Perda de clientes e dificuldade para implementar sistema preocupam operadoras; mudança, em etapas, deve começar em 1º de setembro

JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL

No que depender das operadoras de telefonia, a portabilidade numérica, serviço que permitirá mudar de prestadora mantendo o número do telefone (fixo ou móvel), deverá ser adiada.
Há três anos, um movimento parecido conseguiu postergá-la. A mudança começa aos poucos, a partir de 1º de setembro, mas encontra resistência, principalmente entre as teles fixas.
No final de maio, a ABRT (Associação Brasileira de Recursos em Telecomunicações) -que gerencia a portabilidade entre as operadoras- enviou uma carta à Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) em que comunicou a preocupação das companhias com o cumprimento de prazos.
"À medida que avançamos no projeto, foram observados alguns riscos para o cumprimento dos prazos e nos sentimos obrigados a dividir essa visão junto à Anatel com o objetivo de mitigar riscos eventuais", afirmava a ABRT em um trecho da carta.
Na resposta, enviada em 3 de junho, a Anatel teria cobrado explicações porque, segundo as operadoras, os relatórios dos testes indicaram o cumprimento dos prazos.
Procurados pela Folha na sexta-feira, nem a Anatel nem a ABRT se pronunciaram. Na semana anterior, Luiz Antônio Vale Moura, coordenador-geral do GIP (Grupo de Implantação da Portabilidade), negou problemas com as teles. Foi ele quem assinou a carta à ABRT em nome da Anatel.
Segundo empresas de tecnologia envolvidas nesse projeto, os investimentos das operadoras chegam a R$ 400 milhões.
Esses valores referem-se à compra de equipamentos para a montagem de um banco de dados por onde trafegarão as informações dos clientes que saírem ou chegarem.
Cada sistema desse nas operadoras "conversará" entre si por meio do banco de dados da ABRT, que centralizará todos os cadastros portados.
Segundo as empresas contratadas para integrar os sistemas, Telefônica, Embratel, Claro e TIM estariam enfrentando dificuldades devido à complexidade de suas redes de telecomunicações. A Folha consultou as principais delas e todas reafirmaram o cumprimento dos prazos. Boa parte negou problemas na rede.
Em duas semanas, elas serão obrigadas a implementar a fase final de testes, quando trocarão não só dados cadastrais com o banco de dados da ABRT como terão de efetivar as chamadas após a portabilidade.
A Anatel acredita que o assinante terá de pagar cerca de R$ 10 à operadora de destino e não será preciso informar a empresa de saída. Ainda não está definido se ele terá de pagar toda vez que optar pela portabilidade. Uma vez solicitada a mudança, a operadora terá até cinco dias úteis para concretizá-la, com duas horas de tolerância após o horário informado ao cliente para a conversão.

Competição só na móvel
Apesar dos empecilhos técnicos, o que mais preocupa as operadoras são as perdas de clientes. Uma pesquisa feita pelo Yankee Group revelou que, na telefonia fixa, 46% dos assinantes trocariam de operadora se pudessem levar o número do telefone. Telefônica e Oi seriam as concessionárias com maior perda de clientes. Na rede móvel, esse índice seria de 48%. No início deste ano, um levantamento do Morgan Stanley indicou que, na telefonia móvel, esse índice seria de 20%. BrT e TIM seriam as mais afetadas.
Embora sirvam de termômetro, é preciso cuidado na hora de analisar esses indicadores porque traduzem apenas um desejo do cliente. "Daí a dizer que eles de fato migrarão vai uma longa distância", diz Julio Püschel, do Yankee Group.
Um novo relatório do instituto revela ainda que as grandes empresas serão as maiores candidatas à portabilidade. Entre elas, 56% trocariam de prestadoras de call center (0300 e 0800), 46% mudariam a operadora móvel, e 42%, a fixa. Essas empresas serão as maiores beneficiadas com a portabilidade.
Isso porque, em geral, elas estão concentradas em áreas das cidades, especialmente nos grandes centros urbanos, onde existe mais de uma operadora. Segundo a própria Anatel, a portabilidade na rede fixa será uma possibilidade para poucos, e os clientes residenciais estão bem longe das vantagens. Apenas 260 municípios, de um total de 5.564 no país, dispõem de duas operadoras fixas.
Essa situação também ocorre porque, diferentemente da maioria dos países, no Brasil a portabilidade será implantada antes da desagregação das redes fixas, chamada de "unbundling". Segundo ela, as concessionárias devem alugar parte de sua rede para qualquer outra operadora interessada em competir na sua área de atuação. A Anatel decidiu regulamentá-la mais tarde, até porque a farta oferta de celulares resolveu, em boa parte, a questão do acesso à telefonia.
"Infelizmente, tudo isso comprometeu a competição na fixa", diz Luiz Moura, do GIP. Segundo ele, será na telefonia móvel que a portabilidade surtirá efeito rápido no bolso do consumidor, com ofertas agressivas em planos e promoções que, na prática, serão convertidos em redução da tarifa.


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