|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Teles pressionam para adiar nova regra
Portabilidade, serviço que permitirá a troca de companhia com a manutenção do número telefônico, enfrenta resistência
Perda de clientes e dificuldade
para implementar sistema
preocupam operadoras;
mudança, em etapas, deve
começar em 1º de setembro
JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL
No que depender das operadoras de telefonia, a portabilidade numérica, serviço que
permitirá mudar de prestadora
mantendo o número do telefone (fixo ou móvel), deverá ser
adiada.
Há três anos, um movimento
parecido conseguiu postergá-la. A mudança começa aos poucos, a partir de 1º de setembro,
mas encontra resistência, principalmente entre as teles fixas.
No final de maio, a ABRT
(Associação Brasileira de Recursos em Telecomunicações)
-que gerencia a portabilidade
entre as operadoras- enviou
uma carta à Anatel (Agência
Nacional de Telecomunicações) em que comunicou a
preocupação das companhias
com o cumprimento de prazos.
"À medida que avançamos no
projeto, foram observados alguns riscos para o cumprimento dos prazos e nos sentimos
obrigados a dividir essa visão
junto à Anatel com o objetivo
de mitigar riscos eventuais",
afirmava a ABRT em um trecho
da carta.
Na resposta, enviada em 3 de
junho, a Anatel teria cobrado
explicações porque, segundo as
operadoras, os relatórios dos
testes indicaram o cumprimento dos prazos.
Procurados pela Folha na
sexta-feira, nem a Anatel nem a
ABRT se pronunciaram. Na semana anterior, Luiz Antônio
Vale Moura, coordenador-geral do GIP (Grupo de Implantação da Portabilidade), negou
problemas com as teles. Foi ele
quem assinou a carta à ABRT
em nome da Anatel.
Segundo empresas de tecnologia envolvidas nesse projeto,
os investimentos das operadoras chegam a R$ 400 milhões.
Esses valores referem-se à
compra de equipamentos para
a montagem de um banco de
dados por onde trafegarão as
informações dos clientes que
saírem ou chegarem.
Cada sistema desse nas operadoras "conversará" entre si
por meio do banco de dados da
ABRT, que centralizará todos
os cadastros portados.
Segundo as empresas contratadas para integrar os sistemas, Telefônica, Embratel,
Claro e TIM estariam enfrentando dificuldades devido à
complexidade de suas redes de
telecomunicações. A Folha
consultou as principais delas e
todas reafirmaram o cumprimento dos prazos. Boa parte
negou problemas na rede.
Em duas semanas, elas serão
obrigadas a implementar a fase
final de testes, quando trocarão
não só dados cadastrais com o
banco de dados da ABRT como
terão de efetivar as chamadas
após a portabilidade.
A Anatel acredita que o assinante terá de pagar cerca de R$
10 à operadora de destino e não
será preciso informar a empresa de saída. Ainda não está definido se ele terá de pagar toda
vez que optar pela portabilidade. Uma vez solicitada a mudança, a operadora terá até cinco dias úteis para concretizá-la,
com duas horas de tolerância
após o horário informado ao
cliente para a conversão.
Competição só na móvel
Apesar dos empecilhos técnicos, o que mais preocupa as
operadoras são as perdas de
clientes. Uma pesquisa feita pelo Yankee Group revelou que,
na telefonia fixa, 46% dos assinantes trocariam de operadora
se pudessem levar o número do
telefone. Telefônica e Oi seriam
as concessionárias com maior
perda de clientes. Na rede móvel, esse índice seria de 48%. No
início deste ano, um levantamento do Morgan Stanley indicou que, na telefonia móvel, esse índice seria de 20%. BrT e
TIM seriam as mais afetadas.
Embora sirvam de termômetro, é preciso cuidado na hora
de analisar esses indicadores
porque traduzem apenas um
desejo do cliente. "Daí a dizer
que eles de fato migrarão vai
uma longa distância", diz Julio
Püschel, do Yankee Group.
Um novo relatório do instituto revela ainda que as grandes
empresas serão as maiores candidatas à portabilidade. Entre
elas, 56% trocariam de prestadoras de call center (0300 e
0800), 46% mudariam a operadora móvel, e 42%, a fixa. Essas
empresas serão as maiores beneficiadas com a portabilidade.
Isso porque, em geral, elas
estão concentradas em áreas
das cidades, especialmente nos
grandes centros urbanos, onde
existe mais de uma operadora.
Segundo a própria Anatel, a
portabilidade na rede fixa será
uma possibilidade para poucos,
e os clientes residenciais estão
bem longe das vantagens. Apenas 260 municípios, de um total de 5.564 no país, dispõem de
duas operadoras fixas.
Essa situação também ocorre
porque, diferentemente da
maioria dos países, no Brasil a
portabilidade será implantada
antes da desagregação das redes fixas, chamada de "unbundling". Segundo ela, as concessionárias devem alugar parte
de sua rede para qualquer outra
operadora interessada em
competir na sua área de atuação. A Anatel decidiu regulamentá-la mais tarde, até porque a farta oferta de celulares
resolveu, em boa parte, a questão do acesso à telefonia.
"Infelizmente, tudo isso
comprometeu a competição na
fixa", diz Luiz Moura, do GIP.
Segundo ele, será na telefonia
móvel que a portabilidade surtirá efeito rápido no bolso do
consumidor, com ofertas
agressivas em planos e promoções que, na prática, serão convertidos em redução da tarifa.
Texto Anterior: Vinicius Torres Freire Próximo Texto: Telefônica deve ser a operadora mais afetada Índice
|