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FRAUDES DO CAPITAL
A fim de compensar perdas comescândalos contábeis, bancos reduzem exposição a emergentes
Brasil paga por crise de empresas nos EUA
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
O colapso da economia argentina e a incerteza do processo eleitoral não são os únicos fatores que
reduzem a disposição dos bancos
a emprestar ao Brasil.
Para compensar enormes prejuízos que tiveram nos recentes
escândalos contábeis nos EUA,
grandes conglomerados financeiros americanos estão sendo pressionados a reduzir substancialmente o total de US$ 25 bilhões
que mantêm no Brasil na forma
de investimentos e empréstimos.
Dados disponíveis na SEC (a
agência que policia os mercados
nos EUA) e projeções de analistas
mostram que existe uma identidade entre os grupos financeiros
que elevaram suas exposições ao
Brasil nos últimos anos e aqueles
que mais sofreram com a quebra
da Enron (protagonista da maior
falência da história dos EUA) e
com o escândalo da WorldCom
(gigante das telecomunicações).
O JP Morgan Chase, um dos
dois maiores conglomerados financeiros dos EUA, reconheceu
que seus empréstimos à Enron
somavam US$ 2,6 bilhões antes
da quebra da companhia -apenas US$ 100 milhões a menos que
sua exposição ao Brasil, avaliada
hoje em US$ 2,7 bilhões. A instituição não divulgou o volume de
seus empréstimos à WorldCom,
estimados pelo mercado em torno de US$ 500 milhões.
O Citigroup, maior companhia
de serviços financeiros dos EUA,
tinha, em março, empréstimos e
investimentos de cerca de US$ 12
bilhões no Brasil -quase a metade de toda a exposição de bancos
norte-americanos no país.
Somadas, as perdas confirmadas do grupo com o colapso da
Enron e seu prejuízo potencial devido aos problemas da WorldCom foram estimadas pelo mercado em US$ 2,5 bilhões.
A exposição do Bank of America ao mercado brasileiro era de
US$ 2 bilhões em março. Suas
perdas com a Enron foram de
US$ 231 milhões. A instituição
preferiu não divulgar o volume de
seus empréstimos à WorldCom, o
que tem gerado ilações negativas.
Os três bancos também têm
operações com a Tyco International, Global Crossing, Xerox e
Qwest Communications, outras
companhias envolvidas em problemas contábeis recentes.
Embora um banco não esteja
obrigado a reduzir sua exposição
a um país devido a perdas com
companhias distantes, essas compensações são corriqueiras e imediatas. Em vez de rolar empréstimos a empresas de países emergentes, instituições financeiras
tendem a adotar uma postura defensiva, cortando linhas de crédito para solidificar seus balanços.
"O que está acontecendo no
mundo nos grandes bancos é
uma onda de conservadorismo",
disse à Folha Carlos Novis Guimarães, diretor para a América
Latina das operações de bancos
de investimentos do Salomon
Smith Barney, que pertence ao Citigroup. "Não há mais a atitude
ambiciosa de investimento e de
crescimento dos bancos, que
ocorria quando o céu estava aberto e não havia nuvens no céu. Hoje, o céu está cinza e há trovões
por todos os cantos. Está todo
mundo procurando capa de chuva e guarda-chuva. A inclinação
ao risco desabou."
Segundo Guimarães, as organizações financeiras norte-americanas são tão grandes que algumas
falências corporativas não mudam o dia-a-dia de suas operações. "O problema é que são vários impactos juntos", disse.
O volume de novos empréstimos ao Brasil caiu de U$ 4,7 bilhões para U$ 2,9 bilhões entre os
primeiros semestres de 2001 e de
2002. Para a América Latina, essa
redução foi ainda mais drástica:
caiu de U$ 17,32 bilhões para US$
4,75 bilhões. Os números são da
Loan Pricing Corporation, empresa que fornece informações a
Wall Street e que teve acesso a dados das operações de bancos.
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