|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Cresce o risco de novas panes na internet, afirma especialista
Rede de transmissão da web no país é uma caixa-preta, diz ex-superintendente da Anatel, que sugere aumento nos investimentos em infra-estrutura de transmissão
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
A capacidade da rede de
transmissão de dados do Brasil,
por onde trafegam a internet e
a telefonia, é uma caixa-preta, e
há riscos de novos blecautes no
país, como o ocorrido, na semana passada, em São Paulo, afirma o ex-superintendente de
Serviços Públicos e de Universalização da Anatel (Agência
Nacional de Telecomunicações), Edmundo Matarazzo, 53.
O consultor diz que as empresas mantêm ""a sete chaves"
os dados sobre a capacidade e o
nível de utilização das redes.
Para ele, o investimento na infra-estrutura de transmissão
não acompanhou a demanda.
De 1995 para cá, o número de
telefones fixos passou de 13 milhões para 40 milhões; e o de
celulares, de 1,4 milhão para
130 milhões. Já são 40 milhões
os usuários de internet.
FOLHA - Por que o sr. defende a separação da infra-estrutura de transmissão da exploração dos serviços?
EDMUNDO MATARAZZO - Por ser
um insumo comum para telefonia fixa, celular e internet.
Quando um meio de transmissão é atingido, o estrago na
prestação de serviços é muito
grande.
FOLHA - O senhor tem informação
sobre os investimentos feitos pelas
empresas na transmissão? Elas têm
metas a cumprir nesta área?
MATARAZZO - Têm a obrigação
de manter a infra-estrutura para o serviço funcionar adequadamente, mas não há metas
obrigatórias de investimento.
Em caso de interrupção, a Anatel apura e, se houve negligência, a empresa será multada.
FOLHA - A capacidade de transmissão acompanhou a explosão dos
serviços?
MATARAZZO - Com certeza, não.
Quando o modelo atual foi
construído, o serviço telefônico
fixo era a base de tudo. Fax e internet eram unicamente por
acesso discado. A internet evoluiu, cresceu, mas o sistema de
transmissão é o mesmo, embora o acesso em banda larga não
passe pela central telefônica.
Os contratos feitos na privatização da Telebrás [1998] obrigaram as concessionárias a implantarem sistemas digitais de
transmissão nas capitais até
2005. Não foram criadas novas
metas na renovação dos acordos de concessão. A autoridade
deve se preocupar mais em regular os meios de transmissão,
até porque os serviços mudam,
mas a capacidade de transmissão é sempre essencial.
FOLHA - O apagão em São Paulo
deve ser o início de uma discussão
sobre a infra-estrutura de internet?
MATARAZZO - É o momento para isso, porque o setor está envolvido na discussão do novo
Plano Geral de Outorgas (PGO)
e do Plano Geral de Atualização
da Regulamentação das Telecomunicações no Brasil . O foco
da discussão, porém, está na fusão de empresas [compra da
BrT pela Oi], na entrada da terceira geração do celular e na
banda larga nas escolas.
Se fosse uma discussão sobre
energia elétrica, com metas para aumento de consumo, alguém perguntaria sobre a fonte
de energia e a linha de transmissão. Em telecomunicações,
como não há fonte de energia,
parece que a infra-estrutura virá do céu. Mas não é assim. O
que vai difundir a internet não
é a banda larga, mas a existência de meios de transmissão pelo Brasil afora. O desafio do país
não é colocar um telefone público em lugarejos de até cem
habitantes, mas levar o meio de
transmissão até lá.
FOLHA - A infra-estrutura de transmissão é a soma das redes de várias
empresas. Como o governo poderia,
então, coordenar os investimentos?
MATARAZZO - No modelo atual,
não tem como. Quem faz telefonia fixa vai providenciar estrutura para o negócio dele, e o
mesmo acontece na móvel. Para ter coordenação seria preciso integrar os competidores.
Está claro para mim que a infra-estrutura de transmissão
deveria ser explorada separadamente da prestação de serviços. Não se trata de separar toda a rede, só a que é usada por
todos. A construção da infra-estrutura exige investimento
antecipado, de amortização demorada, diferentemente do
serviço, que é faturado no dia
seguinte. Para haver confiabilidade na rede de transmissão, é
preciso existir capacidade ociosa, o que conflita com o interesse de competição na prestação
de serviços ao usuários.
A linha de transmissão é o
calcanhar-de-aquiles das comunicações e a capacidade de
suportar falhas é muito baixa. A
possibilidade de haver blecautes é crescente, pela velocidade
de expansão da demanda.
FOLHA - O que o senhor sugere para evitar os blecautes?
MATARAZZO - O meio tem de ser
compartilhado. Não é possível
construir redes de transmissão
individuais para telefone fixo,
celular e internet. Por isso, são
necessários modelos de negócios diferentes para a exploração de serviços e para a infra-estrutura. O prestador de serviços tem de ter a garantia de que
não lhe faltará infra-estrutura.
FOLHA - O senhor diria que os dados sobre a rede de transmissão são
uma caixa-preta?
MATARAZZO - Muito preta. Como consultor, tentei identificar
e quantificar a rede de transmissão (capacidade instalada
das fibras ópticas, nível de utilização, projeção de vida útil etc.)
e não consegui. Os dados são
trancados a sete chaves.
FOLHA - A Anatel tem acesso?
MATARAZZO - Suponho que sim.
Mas, na discussão do PGO, a
Anatel não mexe no modelo de
infra-estrutura de transmissão,
o que seria prioritário.
Texto Anterior: Varig provoca impacto negativo de US$ 318 milhões para a Gol Próximo Texto: Falha derruba conexão da Oi em 2 Estados
Índice
|