São Paulo, segunda-feira, 07 de julho de 2008 |
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ANÁLISE Crise global põe investimentos em xeque DO "FINANCIAL TIMES"
Os últimos 12 meses vêm
sendo estranhos para os mercados de ativos, mesmo por
seus padrões habituais de imprevisibilidade. Desde que a retração do crédito começou, os
preços das ações caíram e se recuperaram, caíram e se recuperaram novamente, acompanhando os choques econômicos que vêm abalando o mundo. Agora, porém, as falhas estão começando a se evidenciar.
A queda dos preços dos ativos
verificadas na semana passada
eleva a probabilidade de uma
retração econômica global.
Os mercados acionários de
EUA e Europa tiveram uma semana ruim, e o mesmo se aplica
aos índices que medem o risco
de empresas deixarem de saldar suas dívidas. Houve várias
notícias de destaque relativas a
grandes empresas, entre elas a
queda dramática nas vendas da
varejista britânica Marks and
Spencer, vista como referência
no mercado acionário.
Mas o que chama ainda mais
a atenção são as quedas nos valores de ativos que eram vistos
como protegidos contra riscos.
Ações chinesas e indianas, antes muito fortes, caíram para
praticamente a metade de seus
picos de 2007. O preço de se
fretar um navio de carga caiu, e
muito. Os preços das ações de
muitas mineradoras, que vêm
se saindo bem com o boom de
commodities, estão muito distantes de seus níveis mais altos.
Os mercados não estão mais
apenas refletindo os problemas
no mercado habitacional dos
EUA e dos instrumentos financeiros relacionados a ele. Essas
quedas são consistentes com
um desaquecimento global suficientemente amplo para reduzir a demanda por energia e
por exportações chinesas. Duas
forças podem ter esses efeitos:
a retração do crédito, que não
diminuiu, e a alta vertiginosa
do preço do petróleo.
Os mercados de crédito se
acalmaram, mas não são fixos.
O ágio pago pelos bancos para
contrair empréstimos uns dos
outros não está num pico "de
crise" como os que foram alcançados em setembro e dezembro do ano passado, mas
ainda se encontra excepcionalmente alto. O mercado de obrigações avalizadas por hipotecas
ainda está fechado e, diferentemente da situação de seis meses atrás, não há perspectivas
de uma recuperação no curto
prazo. A confiança nesses ativos foi destruída a tal ponto que
levará anos para ser reconstruída, se é que isso será possível.
Assim, os investidores precisam continuar a reduzir sua
alavancagem. Muitos que contraíram empréstimos baratos e
usaram o dinheiro para adquirir um portfólio de propriedades, títulos de governos ou investimentos mais exóticos vão
descobrir que não será possível
refinanciar sua dívida e ainda
auferir lucros. Alguns serão
obrigados a vender, e isso vai
impor pressão ainda maior sobre os preços de ativos.
Enquanto isso, o petróleo é
uma commodity que não vem
manifestando a menor fraqueza de preço. O petróleo a US$
146 o barril terá efeitos econômicos dramáticos. Vai reduzir a
lucratividade de uma ampla gama de setores industriais, desde casos óbvios, como companhias aéreas, até o varejo e empresas de lazer afetadas pela redução nos gastos dos consumidores. Muito capital -aeronaves, carros e maquinário velhos- terá que ser eliminado.
Os importadores de petróleo
terão que exportar mais e consumir menos.
É possível que o ajuste econômico só seja conquistado
através de um longo período de
crescimento lento. Nesse cenário, com propriedades e ações
ainda altamente valorizados
em comparação com suas médias históricas, os preços deverão cair ainda mais. Ativos mais
baratos representam uma
oportunidade para investidores de longo prazo, mas haverá
muito sofrimento também.
Tradução de CLARA ALLAIN Texto Anterior: Mineiro ganhou a disputa do pregão virtual do mês passado Próximo Texto: Mercado reduz projeção do PIB de 2009 para até 3% Índice |
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