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Mercado reduz projeção do PIB de 2009 para até 3%
Inflação e juros em alta sustentam previsão negativa
DA SUCURSAL DO RIO
A resposta do Banco Central
à escalada inflacionária- elevações da taxa básica de juros-
está fazendo com que bancos e
consultorias rebaixem as suas
previsões para o desempenho
da economia no próximo ano. E
já há quem projete crescimento
de apenas 3%.
É o caso da Unibanco. Segundo a economista Giovanna Rocca, os números da atividade no
segundo trimestre, quando divulgados, vão ilustrar a atual
trajetória de desaceleração: "É
inevitável, diante do forte crescimento da demanda. Além disso, a economia já estará sob o
impacto da alta dos juros".
A projeção anterior do Unibanco era de um crescimento
de 3,4%- já bem abaixo da expectativa média do mercado.
Segundo a pesquisa Focus, do
Banco Central, que reúne semanalmente as projeções do
setor privado, as instituições financeiras, na média, esperam
crescimento de 4% em 2009.
Mas muitas dessas estimativas estão sendo refeitas nos últimos dias -à luz de uma dupla
pressão inflacionária, externa e
interna. A queda da produção
industrial registrada em maio
pelo IBGE (recuo de 0,5% em
relação a abril) alimentou a
percepção de muitos analistas
de que a economia brasileira se
desacelera rapidamente.
Para a LCA consultores, o
crescimento do PIB cairá para
3,3% no ano que vem, resultado
de uma pressão que levará o
IPCA, índice usado como meta
oficial pelo governo, a estourar
o "teto" de 6,5% neste ano, fechando em 6,8%.
Para evitar descontrole
maior da inflação, o Banco Central passou a elevar a taxa básica de juros desde abril. De lá para cá, os juros subiram um ponto percentual, de 11,25% ao ano
para 12,25%. E há certo consenso entre os analistas de que fecharão o ano em 14,25%. "Evidentemente é um cenário de
piora. Felizmente, não será recessão, como tivemos no passado. Mas é mais do que sinal
amarelo: o ajuste está a caminho, com desaceleração geral",
diz Francisco Pessoa, da LCA.
Ele prevê que o consumo caia
dos 5,7% registrados no ano
passado para 3,8% em 2009. E
que a Formação Bruta de Capital Fixo (a taxa de investimento) migre de 13,4% para 7,8%
nesse mesmo período.
Caso se confirmem as projeções do mercado financeiro, o
desempenho da economia ficará bem abaixo do que ainda hoje promete o governo federal.
Na semana passada, na Câmara
dos Deputados, o ministro da
Fazenda, Guido Mantega, reafirmou que a meta é sustentar
crescimento de 5%, em 2009 e
nos anos seguintes.
Capacidade
No início do ano, antes que as
pressões inflacionárias tivessem se intensificado, o mercado já previa um crescimento de,
no máximo, 4,5% em 2009-
mas isso num cenário em que o
IPCA encerraria 2008 em
4,3%, com juros básicos de
11,25% em dezembro.
"Voltamos à discussão do
produto potencial. Ficou claro
que o crescimento [do PIB] de
5,4% [no ano passado] ficou
acima. Seja qual for o PIB potencial, ele não é de 5%", afirma
a economista Teresa Fernandes, da MB Associados.
O PIB potencial é um conceito usado pelos economistas que
define quanto o nível de atividade de um país pode crescer
sem provocar pressões inflacionárias- se o consumo cresce mais do que a capacidade do
setor produtivo de oferecer
bens e serviços, a tendência será a de que os preços subam.
A estimativa de qual seria o
PIB potencial brasileiro varia
de acordo com a instituição que
realiza a pesquisa e com a metodologia utilizada (o Banco
Central não divulga projeções
sobre o assunto) -e é normalmente combustível para polêmicas entre economistas.
"O aperto monetário de agora mostra que a conta não estava fechando, foi algo além do
que podíamos. Além disso, há
pressões inflacionárias que
vêm de fora. É melhor ir devagar e sempre do que recorrer à
ilusão do crescimento que não
é sustentável", conclui Zeina
Latif, economista do banco
Real.
(ROBERTO MACHADO)
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