|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Serra e Dilma fazem acerto para a Cesp
Ministra aceita prorrogar concessão de usinas em troca de compromisso de governador de não vender controle da empresa de energia
Também houve acordo sobre
o trecho sul do ferroanel em
SP e sobre trem que ligará o aeroporto de Guarulhos à estação da Luz do metrô
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A ministra Dilma Rousseff
(Casa Civil) e o governador José Serra (PSDB) chegaram a um
acordo na última quinta-feira a
respeito do futuro da Cesp
(Companhia Energética de São
Paulo). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalizou a negociação, de acordo com o que
apurou a Folha.
Pelo acordo, Serra não privatizará mais a companhia, mas
venderá ações até o limite em
que ela se mantenha sob controle estatal. Em troca, Dilma
prometeu que o governo federal prorrogará as concessões de
duas usinas hidrelétricas da
Cesp, Jupiá e Ilha Solteira, responsáveis pela maior parte da
receita da estatal.
Segundo a Folha apurou, o
acordo deverá ser tornado público em breve. O acerto contempla o desejo do governo federal de que a Cesp não seja
privatizada. Ao mesmo tempo,
a prorrogação das concessões
valorizará a empresa, o que interessa a Serra.
Ainda houve entendimento
sobre outros assuntos administrativos de interesses federal e
estadual. Foi acertada a realização do trecho sul do ferroanel da capital paulista -o objetivo é evitar que cargas para o
porto de Santos que venham de
outros Estados, como Minas
Gerais e Mato Grosso, tenham
de passar antes pela cidade. Essa obra está estimada em cerca
de R$ 150 milhões. Sobre o trecho norte do ferroanel, há três
opções em debate pelos governos federal e paulista.
Houve acordo também sobre
o trem expresso que o governo
paulista fará do aeroporto de
Guarulhos até a estação de metrô da Luz. A obra deve chegar a
R$ 1,5 bilhão. O governo paulista dará a exploração do serviço
à iniciativa privada sob a forma
de concessão -mecanismo similar ao que o governo federal
estuda para os aeroportos administrados pela Infraero.
Serra ouviu ainda os planos
do governo federal para criar
um trem-bala entre o Rio e São
Paulo até 2014. O trem sairia de
Campinas -exatamente do aeroporto de Viracopos. Seguiria
para o centro da capital paulista, passaria por São José dos
Campos e chegaria ao centro
do Rio. O trecho Campinas-São
José é estimado em R$ 7 bilhões. O custo total do trem-bala Rio-São Paulo gira em torno dos R$ 20 bilhões. O governo paulista negocia ainda com o federal a venda da Nossa Caixa ao Banco do Brasil.
Bastidores da Cesp
A negociação sobre o destino
da Cesp foi difícil e demorada,
apesar de Serra e Dilma terem
demonstrado boa relação pessoal, de acordo com técnicos
que acompanharam a negociação. Ambos são potenciais candidatos à Presidência em 2010
e têm interesse em vender realizações administrativas.
Do ponto de vista político, interessa a Serra que Dilma se
viabilize como a candidata do
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva. Para o governador, um
terceiro pólo na disputa presidencial de 2010 lhe ajudaria a
enfrentar dois obstáculos. Internamente, Serra avalia que
seria mais fácil conquistar a
candidatura do PSDB, derrotando o também presidenciável
tucano e governador de Minas,
Aécio Neves. Externamente, o
fortalecimento de Dilma enfraqueceria a chance de um adversário figadal de Serra, o ex-governador e deputado federal
Ciro Gomes (PSB-CE).
Dilma sempre se mostrou
contrária à privatização da
Cesp. Ex-ministra de Minas e
Energia, ela gosta da área energética. Na visão de Dilma, o Estado de São Paulo já obtivera a
amortização de todo o investimento feito na Cesp. Entregá-la à iniciativa privada seria um
prêmio.
Já Serra tinha interesse na
venda da companhia para obter
recursos para realizar obras até
o final de seu mandato, em
2010. No final de março passado, fracassou uma tentativa de
leilão para privatizar a companhia. Na época, Serra creditou
parte do fracasso à indefinição
do governo sobre a eventual
prorrogação da concessão das
usinas de Jupiá e Ilha Solteira.
Pelo contrato atual, a Cesp
deve devolver as duas usinas à
União em 2015 -prazo final da
concessão. A prorrogação prometida por Dilma permitirá a
Serra vender ações da Cesp a
preços maiores. Serra gostaria
de renovar o prazo de concessão por 30 anos. O governo
paulista argumenta que uma
resolução da Aneel (Agência
Nacional de Energia Elétrica)
permitiria a renovação das concessões, mas há ainda a possibilidade de que isso possa ser feito por meio de lei aprovada pelo
Congresso Nacional.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Stephen Roach: Tarefa de Pequim: conter a inflação Índice
|