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Retração econômica cruza o Atlântico e já assusta a Europa
OCDE diminui estimativa de avanço de europeus e prevê recessão no Reino Unido
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
Quando se reunirem hoje na
cidade suíça de Basiléia, como
fazem a cada dois meses, os
presidentes dos principais bancos centrais do mundo estarão
atormentados pelo mesmo dilema que enfrentavam no primeiro encontro do ano, em janeiro: cortar juros para conter a
desaceleração econômica ou
mantê-los elevados para afastar os perigos da inflação?
A diferença é que desta vez o
foco não estará mais no risco de
recessão nos EUA, mas na mesma ameaça que agora ronda a
Europa. Os xerifes da economia
mundial reunidos no BIS (Banco para Compensações Internacionais), uma espécie de
banco central dos bancos centrais, provavelmente estarão
torcendo por um final pacífico
para 2008, um ano em que viveram perigosamente.
A virada da maré econômica
foi comprovada em números
na semana passada, quando a
OCDE (Organização para a
Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) reduziu a
sua projeção de crescimento
para todos os integrantes do
G7, o grupo dos países mais industrializados -com exceção
dos Estados Unidos, cujos números melhoraram.
Pior: pela primeira vez a temida palavra que ronda as análises sobre a economia americana nos últimos meses foi usada em relação a um país europeu. Segundo o relatório, a vítima da recessão será o Reino
Unido, que deverá ter dois trimestres seguidos de contração.
O sinal de alerta já havia soado no fim de semana anterior,
quando o ministro das Finanças britânico, Alistair Darling,
afirmara que a economia do
país estava diante da pior crise
dos últimos 60 anos. Já o BC do
Reino Unido espera crescimento nulo por um ano.
Por trás da estagnação britânica estão também os principais motivos do desaquecimento europeu: estouro da bolha
imobiliária, queda na exportação agravada pela sobrevalorização da moeda e redução do
consumo devido ao aperto do
crédito e à disparada nos preços das commodities.
Embora existam outros fortes candidatos para seguir a
mesma trajetória recessiva, como Irlanda e Espanha, o BCE
(Banco Central Europeu) se recusa a cortar os juros, alegando
que as pressões inflacionárias
continuam latentes.
Uma confirmação adicional
de que a Europa é uma máquina em desaceleração foi dada
com a divulgação da primeira
contração (-0,2% no segundo
trimestre) dos países da zona
do euro desde que a moeda comum foi adotada, em 1999. A
Alemanha, seu maior motor,
teve crescimento negativo no
segundo trimestre e dá poucos
sinais de recuperação.
Enquanto isso, nos Estados
Unidos, onde teve início o tsunami financeiro em agosto do
ano passado, com o estouro da
bolha imobiliária do "subprime" (empréstimo de alto risco),
os movimentos são positivos. A
maior economia do planeta
voltou a crescer, o dólar está se
levantando e alguns já se arriscam a dizer que a crise imobiliária chegou ao fim. Porém, o
aumento da taxa de desemprego, divulgado anteontem, devolveu os otimistas à realidade.
Em conversa por e-mail com
a Folha, o economista-chefe da
OCDE, Jorgen Elmeskov,
apontou semelhanças e diferenças entre a crise na Europa
e a nos EUA. "Três fatores contribuíram para a desaceleração
nos dois lados do Atlântico: as
turbulências financeiras, o estouro da bolha imobiliária e o
alto preço das matérias-primas", afirmou Elmeskov.
A diferença, aponta o economista, está nas políticas macroeconômicas usadas pelos
Estados Unidos, como cortes
de juros e alívios fiscais. Além
disso, a Europa teve sua atividade econômica travada pela
valorização do euro, lembra Elmeskov, o que levou à queda
nas exportações.
Para o Brasil, uma recessão
na Europa assusta bem menos
que uma nos EUA, uma vez que
a maioria das exportações do
país para o continente é de alimentos, que tendem a se manter em níveis estáveis. Comparativamente, o Brasil deve se
sair bem, prevê uma fonte do
Itamaraty envolvida em negociações comerciais. "Nosso comércio com os europeus será
menos afetado do que o dos
países da Ásia com os europeus, por exemplo", diz.
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