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LUÍS NASSIF
Mamãe, eu quero
Outro dia meu historiador
oficial, Hugo Pontes, que está reescrevendo a história de Poços de Caldas, me mandou cópia
do "Diário de Poços", com a relação dos shows de uma temporada
qualquer dos anos 40. Com destaque, estava lá a orquestra de Vicente Paiva.
Como muitos dos grandes compositores dos anos 30 a 50, Vicente de Paiva tornou-se o anônimo
compositor de músicas imortais.
Uma delas se tornou das músicas
brasileiras mais conhecidas de todos os tempos, aqui e lá fora, o
"Mamãe, Eu Quero", parceria
com Jararaca, gravada por Carmen Miranda. Outra é das mais
belas composições da história,
que mereceu gravações irretocáveis de Dalva de Oliveira, Elizeth
Cardoso e, mais recentemente, de
Gal Costa, o "Olhos Verdes"
("vem, de uma remota batucada /
uma cadência bem marcada...").
Vicente Paiva nasceu em São
Paulo, em 1908, mas começou a
carreira em 1926, em Santos, como pianista. Como quase todos os
grandes músicos da época, seguiu
para o Rio de Janeiro para fazer
carreira na indústria radiofônica
local. Começou de cara tocando
na orquestra de Simon Bountman, famosa na época. Em 1928,
estreou como cantor, gravando
"Beijar Não É Pecado" (Oscar
Cardona) e "Mulher" (Pascoal
Barros).
Depois, entre 1934 e 1945, foi diretor musical do Cassino da Urca
no Rio, o que explica a sua convivência com Poços, já que o proprietário, Joaquim Rolla, também
tinha cassino por lá. Dali até o final dos anos 50, a orquestra de
Vicente Paiva tornou-se das mais
populares do país.
"Mamãe, Eu Quero" foi composta em 1937. No coro, estava o
ainda desconhecido Cyro Monteiro, mais Almirante e Odete Amaral. Dois anos depois, a parceria
resultou em outro sucesso, o "Vamos, Maria, Vamos", gravada
por Jararaca.
Jararaca era dessas figuras históricas e folclóricas da música
brasileira. Fez parte do conjunto
"Turunas Pernambucanos",
montou dupla caipira consagrada com Ratinho (autor do choro
"Saxofone, Por Que Choras") e foi
parceiro de compositores semi-eruditos, como Henrique Voegeler.
Nos anos 40, Vicente Paiva inicia uma fieira de sucessos gravados por Carmen Miranda. Torna-se parceiro de um dos grandes letristas brasileiros de todos os tempos, Luiz Peixoto. Com ele, compõe "Voltei pro Morro", gravado
por Carmen Miranda e mais de
dez outras músicas. No ano seguinte, com o mesmo parceiro,
compôs o "Disseram que Eu Voltei Americanizada", a vingança
de Carmen Miranda contra seus
detratores, na linha do mais puro
samba-choro.
Ao lado de Assis Valente, J. Cascata, Leonel Azevedo, Antonio
Almeida, Sá Roris (seu parceiro),
Vicente passa a integrar um
grande time da música brasileira
no período, os compositores que
vão abastecer os conjuntos vocais
da época com sambas-choro,
sambas sincopados, sambas-exaltação e marchinhas.
Também teve intensa participação nos teatros de revista dos
anos 40 e 50. Era o chamado compositor musical, o sujeito que ia
montando a parte das composições, ao lado do produtor, do diretor e do coreógrafo.
De 1945 a 1952, foi regente de
orquestra da Companhia de Revistas de Walter Pinto, outro
grande produtor com ligação direta com Poços. Lá, Walter Pinto
explorava o Gibimba, considerado na época o maior cabaré do
Brasil. Aliás, sua ligação com o
teatro de revista se dava em todos
os níveis, até na escolha dos parceiros, como Luiz Peixoto e
Chianca de Garcia, um português
de nascimento, jornalista, músico
e com ligações com o cinema e figura de destaque no teatro de revista.
No início dos anos 50, Vicente
Paiva estava no auge de seu talento. O samba-canção "Ave Maria" ("Ave Maria / dos seus andores / olhai por nós / os pecadores"),
com Jayme Redondo, outro compositor paulista extremamente
versátil, que enveredou pela interpretação e pelo cinema, e a
mais bela de todas, o "Olhos Verdes", ambas gravadas por Dalva
de Oliveira no Trio de Ouro.
Morreu em 18 de fevereiro de
1964.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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