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Palocci exigiu manutenção de preços e garantia de que não haveria demissões para prorrogar redução do IPI
Congelamento e emprego foram condição
JOSÉ ALAN DIAS
CLAUDIA ROLLI
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O ministro da Fazenda, Antonio
Palocci Filho, condicionou a prorrogação do corte do IPI ao compromisso das montadoras de não
reajustar os preços dos carros e
manter o nível de emprego.
A exigência foi apresentada na
reunião que os representantes do
setor tiveram com o ministro na
quarta-feira, 26 de novembro,
dois dias antes do anúncio da decisão. A Folha apurou que as
montadoras resistiam a assumir o
compromisso de não reajustar
preços sob o argumento de que
seus custos aumentaram desde a
concessão original do benefício,
em agosto. Só com reajustes salariais, houve impacto de 18% na folha de pagamentos -isso representa um aumento de 3% nos custos totais das empresas.
Na quinta, véspera do anúncio,
os dirigentes da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes
de Veículos Automotores) e das
montadoras se reuniram para discutir a viabilidade do compromisso. No fim da tarde do mesmo dia
os negociadores do setor voltaram a Brasília para dar a resposta
positiva ao ministro da Fazenda.
Segundo um dos participantes
das discussões, em nenhum momento o governo deu sinais de
que aceitaria a prorrogação. Na
sexta, dia 28, de manhã, o setor
chegou a pensar que a possibilidade estava descartada, diante de
declarações dadas pelos ministros
do Planejamento, Guido Mantega, e do Desenvolvimento, Luiz
Fernando Furlan.
A confirmação de que o benefício seria prorrogado veio na tarde
de sexta-feira, no telefonema de
um funcionário do Ministério da
Fazenda para o presidente da Anfavea, Ricardo Carvalho.
A Folha apurou que desde a
manhã daquele dia sindicalistas
da CUT já sabiam da extensão do
acordo.
O governo tinha pressa em
anunciar a decisão na própria sexta-feira, para não deixar os consumidores desinformados no fim de
semana e provocar uma corrida
desnecessária a concessionárias.
As montadoras cederam em
parte ao pedido do governo. Isso
porque os preços serão mantidos
somente até o próximo dia 31.
Alegaram que, operando no vermelho, não teriam como arcar
com o peso do dissídio dos metalúrgicos por um período maior
que esse -não por acaso, 30 dias
correspondem à média de estoques nos pátios de montadoras e
concessionárias.
Paul Fleming, presidente da
Volkswagen, argumentara semanas antes do acordo que, além do
repasse da alíquota ""cheia" do IPI
e do dissídio, precisavam considerar a inflação acumulada desde
o último aumento ""geral" do setor, ocorrido em julho. Não fosse
o ""auto-congelamento" acertado
com o governo, as tabelas de preços teriam um reajuste médio de
9% já neste mês.
""A partir de janeiro, voltaremos
a uma situação normal. E os reajustes serão determinados pela
concorrência e dentro da estratégia de cada montadora", diz Ricardo Carvalho, da Anfavea.
Com o acordo, os trabalhadores
ganham estabilidade no emprego
por um prazo de três meses. A
contrapartida foi negociada para
evitar demissões justamente no
setor do qual surgiram vários líderes que estão no governo, entre
eles o próprio presidente Lula.
Próximos passos
O governo deve anunciar nas
próximas semanas a implementação do Modercarga, programa de
financiamento de caminhões para autônomos e pequenos frotistas. A meta é criar 120 mil empregos até 2007, com juros menores e
financiamento de até 60 meses.
Esse programa prevê o uso de
R$ 2,5 bilhões do FAT (Fundo de
Amparo ao Trabalhador) no financiamento para renovação e
aumento da frota de caminhões.
O que emperrava a implementação do programa era o fato de as
montadoras recusarem as contrapartidas dos trabalhadores. Os
sindicatos dos metalúrgicos pediam redução da jornada para 40
horas semanais nas fábricas que
ainda adotam 44 horas (Volks e
Agrale) e piso salarial unificado.
Pelo acordo feito entre montadoras e trabalhadores, cada sindicato terá liberdade em negociar
contrapartidas de forma isolada.
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