|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MONTADORAS
Decisão de prorrogar redução do imposto foi tomada pelo presidente, a fim de beneficiar os metalúrgicos do ABC
IPI menor atende a "berço político" de Lula
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A prorrogação do acordo com
as montadoras que reduziu o IPI
(Imposto sobre Produtos Industrializados) em três pontos percentuais para os carros populares
e médios foi uma decisão tomada
diretamente pelo presidente Luiz
Inácio Lula da Silva para atender
especialmente os metalúrgicos do
ABC paulista, seu berço sindical e
político.
O presidente da CUT (Central
Única dos Trabalhadores), Luiz
Marinho, e o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC,
José Lopez Feijóo, tiveram conversas e reuniões com Lula e o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, para tratar da extensão
do benefício.
A área técnica da Fazenda era
contra, por avaliar que o benefício
é um contra-exemplo do que o
governo pretende para uma política industrial. O benefício atende
a um setor específico, abre mão de
arrecadação de impostos e não
traz, na visão da área técnica da
Fazenda, ganhos sistêmicos para
a economia. Ou seja, é um paliativo para determinado público.
Palocci, porém, cedeu aos argumentos de Marinho e de Feijóo. O
principal: a extensão era uma forma de dar uma satisfação à principal base sindical de Lula e de funcionar como instrumento para
evitar novas demissões no ABC
(região paulista que inclui as cidades de Santo André, São Bernardo
do Campo e São Caetano do Sul).
No dia 21 de novembro, o presidente da CUT se reuniu com Lula
e Palocci, no Palácio do Planalto,
para tratar da prorrogação do
acordo, que seria oficializada no
dia 28. Pelo acordo inicial, a redução do IPI iria até o final do mês
passado. Com a decisão de Lula, a
alíquota menor foi prorrogada até
fevereiro de 2004.
Marinho, aliado histórico de
Lula e presidente de uma central
ligada umbilicalmente ao PT, argumentou que o fim do acordo
poderia acirrar os ânimos dos trabalhadores do ABC contra o governo. Não seria conveniente, em
um momento de queda de renda
e de alto desemprego, não prorrogar o acordo.
Por meio da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de
Veículos Automotores), as montadoras também pressionaram
pela prorrogação do acordo. Foram duas as etapas: em princípio,
um grupo de técnicos da Anfavea,
liderados por Aurélio Santana,
gerente de planejamento estratégico, analisou os resultados com o
""incentivo fiscal" e se encarregou
de preparar um estudo pelo qual
tentavam demonstrar que a perda
com o IPI era compensada por
uma arrecadação maior ""no conjunto" de IPI mais PIS/Cofins.
Pelo estudo, a arrecadação de
IPI caiu em média 11% com a
isenção, mas o arrecadado com os
três tributos subira 24% de julho
(pré-isenção) comparado a outubro. Terminada essa etapa, começaram as negociações de ""cúpula", que envolveram outras duas
reuniões. Participaram, pelas
montadoras, Ricardo Carvalho
(presidente da Anfavea e representante da Volks), Persio Pastre
(Fiat), Rogelio Golfarb (Ford) e
Luiz Moan Yabiku Júnior (GM).
O vice-presidente da GM (General Motors) do Brasil, José Carlos Pinheiro Neto, que tem boa relação com Lula desde quando o
presidente era líder sindical no
ABC, também fez lobby pela
prorrogação do acordo.
Pelo governo, os negociadores
foram Palocci, Bernardo Appy,
secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Jorge Rachid (Receita Federal), mais Feijóo, do lado do sindicalismo.
Lula e Palocci se convenceram e
mandaram a área técnica estender o acordo, numa tentativa de
dar uma notícia boa em meio a
notícias ruins na economia real.
Ministro político
Apesar de cuidar da Fazenda,
Palocci é um ministro político.
Quase todos os dias começa o expediente em reuniões no Palácio
do Planalto com Lula e o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. Nesses encontros, além das
questões econômicas, trata dos
outros assuntos prioritários do
governo que fogem da economia.
A Receita Federal chegou a esboçar uma reação contrária, mas
Palocci não arredou o pé. Ficou
acordado que esse seria o último
socorro ""emergencial" e que o setor agora discutirá medidas estruturais. O recado público dessa discussão ""estrutural" foi passado na
quinta: o presidente da Anfavea
defendeu que se aproveitasse a reforma tributária para promover
um ""ajuste" na tabela de IPI.
Não são poucos os motivos de
preocupação do setor. A indústria
automobilística brasileira tem capacidade para produzir 3,2 milhões de automóveis, mas neste
ano não passará do 1,82 milhão de
unidades -poderia ser pior, não
fosse a alta de 38,9% nas exportações, no acumulado em dólares
até novembro, que servem de desafogo para o mercado interno.
Este, no acumulado do ano, registrava até o mês passado queda de
6,8% no número de veículos vendidos. Antes do ""efeito IPI-juros
mais baixos", o tombo em relação
a 2002 era previsto em 10%.
De acordo com analistas, nenhuma das montadoras que desembarcaram no país desde 1990
recuperou os investimentos. Ao
todo, montadoras e fabricantes de
autopeças investiram US$ 32 bilhões no Brasil.
Vítimas foram produzidas com
a crise. A mais notória, o presidente da Volks, Paul Fleming, que
deixará o cargo em janeiro, não
mais que 14 meses depois de assumi-lo. A subsidiária brasileira diz
estar no vermelho há cinco anos.
Colaboraram Cláudia Trevisan,
Claudia Rolli e José Alan Dias,
da Reportagem Local
Texto Anterior: Palco da festa será na Paulista Próximo Texto: Congelamento e emprego foram condição Índice
|