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CONCORRÊNCIA
Para analistas, regras claras e não-restrição ao capital externo contribuirão para inibir a fuga de estrangeiros
Veto do Cade não deve afastar investidores
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
A decisão do Cade de bloquear a
compra da Garoto pela Nestlé deverá aumentar o risco dos investimentos em fusões e aquisições no
país, o que reduziria os preços dos
ativos. No entanto não provocará
a fuga de investidores. Tanto que
as principais projeções de investimentos para 2004 estão mantidas.
Para Gesner Oliveira, sócio-diretor da consultoria Tendências e
ex-presidente do Cade (Conselho
Administrativo de Defesa Econômica), o veto "atrai e não inibe investimentos". Um estudo de sua
autoria mostra que há estreita
correlação entre a lei de defesa da
concorrência e os investimentos.
"As empresas transnacionais
entram em mercados que têm regras claras. A Nestlé pode reclamar da decisão, mas, para ela, é
melhor a existência de regras de
defesa da concorrência, pois ela
tem interesse em entrar em outros mercados", observa Oliveira.
Paulo Feldman, diretor da consultoria BearingPoint, também
afirma que o veto do Cade à compra da Garoto pela Nestlé não deverá afetar a decisão das empresas
estrangeiras de investir no país.
"O Brasil é o único país que não
tem restrições ao capital estrangeiro, e isso está até na Constituição, que considera nacional toda
empresa com sede no Brasil", diz.
Na sua opinião, esse liberalismo
levou ao desaparecimento da
maioria das empresas nacionais,
nas últimas décadas. "A Garoto é
uma das últimas empresas locais
e atua em um mercado em que somos competitivos. Creio que ela
deveria ser preservada, e o ideal é
que fosse comprada por um grupo nacional", defende.
Mesmo os analistas que temem
algum impacto negativo da medida mantêm as projeções de crescimento do movimento de fusões e
aquisições no país. Márcio Lutterbach, sócio da KPMG Corporate
Finance, teme que, "se o Cade ficar muito conservador, poderá levar as empresas a não investir por
meio de fusões e aquisições".
Mas, segundo ele, as projeções
de negócios para este ano estão
mantidas. A KPMG estima que o
número de fusões e aquisições
chegue a 350 neste ano -foram
230 em 2003. "O impacto da medida é sobre o volume financeiro e
não sobre o número de transações, pois apenas 10% dos negócios passam pelo Cade", diz ele.
A Sobeet (Sociedade Brasileira
de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica) também mantém sua projeção de entrada de US$ 15 bilhões
em investimentos diretos neste
ano -50% acima de 2003.
Antônio Corrêa de Lacerda,
presidente da Sobeet, diz que o caso Garoto-Nestlé reflete o dilema
da globalização: como ser competitivo mundialmente sem ferir a
concorrência. Na sua opinião,
diante dessa contradição básica,
"o importante é tornar a defesa da
concorrência mais ágil; temos de
repensar a estrutura do Cade para
que um negócio não leve dois
anos para ser julgado", diz.
O impacto maior da decisão será sobre o cálculo do risco das futuras fusões e aquisições. "O Cade
vai se tornar, agora, um elemento
relevante na análise de risco dos
investidores", diz Ivo Teixeira, do
escritório Barbosa, Müssnich &
Aragão Advogados, de Brasília,
especializado no assunto.
À demora na análise dos processos, que já incomodava os investidores, soma-se agora a probabilidade de que o veto, inédito,
se repita. A dúvida é se a posição
do Cade no caso Garoto-Nestlé sinaliza uma mudança de política
do órgão ou se é um caso isolado.
"Na dúvida, o risco dos negócios
sobe", diz Teixeira.
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