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Funcionários no ES temem pelo emprego
ADRIANA CHAVES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM VILA VELHA
A anulação da venda da Chocolates Garoto para a Nestlé, determinada pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) na última quarta-feira, instaurou um clima de apreensão e incerteza entre os cerca de 3.000
empregados da fábrica da empresa em Vila Velha, na região metropolitana de Vitória (ES).
Depois de quase dois anos sob a
administração da multinacional,
eles temem a divisão da empresa e
demissões em massa. A Garoto
está a seis meses de completar 75
anos -ela foi fundada em agosto
de 1929 pelo imigrante alemão
Henrique Meyerfreund.
Os funcionários programam
um abraço simbólico no prédio
na terça-feira, sob o lema: "Defenda o emprego desses garotos".
O ato é coordenado pelo Sindicato dos Trabalhadores em Alimentação, ligado à CUT (Central
Única dos Trabalhadores).
Há 29 anos na empresa, o supervisor de produção Francisco Paulo, 49, tenta manter o otimismo,
mas é um dos que não negam o temor com a suspensão da venda.
"Vi o auge dessa empresa, a decadência recente e a recuperação
no crescimento, com a compra
pela Nestlé. Agora, não sabemos o
que vai acontecer", disse Paulo,
cujo filho, de 23 anos, também
trabalha no local (desde 1999).
"A fábrica é como uma família
para nós. É aqui que passamos a
maior parte do dia. A notícia nos
pegou de surpresa. As pessoas me
perguntam na rua o que vai acontecer", disse a operadora de máquina Rosângela Venturini, 40, há
25 anos na indústria.
"Já tive oito parentes trabalhando aqui. Trabalhava numa loja em
frente à Garoto quando cheguei
de São Gabriel da Paz (ES) e sonhava entrar aqui. Estou há 15
anos e quero me aposentar assim,
mas tomei um baque com essa
anulação da venda", afirmou a
também operadora Maria das
Graças Corbelari Pereira, 34.
Um dos responsáveis pelo controle de qualidade, Alaim Maris
de Barros, 41, há 21 anos na Garoto, disse que seu setor foi um dos
mais afetados durante os 23 meses da nova gestão. "Estudei química e ficava imaginando como
seria ter acesso a toda aquela tecnologia de empresas estrangeiras.
Com a Nestlé, pela primeira vez
abrimos essa possibilidade."
Símbolos
Quem circula por Vila Velha,
que tem cerca de 370 mil habitantes, percebe a identificação da cidade com a fábrica. Há símbolos
da Garoto espalhados em pontos
de ônibus e sobre placas de ruas,
cabines telefônicas e relógios.
A fábrica, segundo o governo do
Estado, chega a ser o ponto turístico mais visitado do Espírito Santo, seguido pelo Convento da Penha, ambos em Vila Velha. Em janeiro de 2003, foram 3.950 visitações, afirma a empresa.
Para os 75 anos, a empresa já
programava várias campanhas
publicitárias. "Queremos ampliar
nosso vínculo com a comunidade, além de atingir outros lugares", afirmou a gerente de marketing da Garoto, Alais Fonseca.
A fábrica é responsável pela
produção de 140 mil toneladas de
chocolate por ano. "O faturamento em 2001 foi de R$ 450 milhões
e, em 2002, de R$ 710 milhões.
Nos últimos cinco anos, R$ 75 milhões foram investidos. E há mais
potencial", disse o governador interino, Lelo Coimbra (PSB).
A Garoto é a maior indústria de
Vila Velha. Só em 2003, foi responsável por 20,78% da arrecadação de ICMS (Imposto sobre a
Circulação de Mercadorias e Serviços) do município.
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