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CONTAS EXTERNAS
Aumento das exportações (reflexo da estagnação) melhorou índices, mas país está atrás de outros emergentes
Dados do BC apontam menor vulnerabilidade
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Indicadores calculados pelo
Banco Central apontam para uma
menor vulnerabilidade externa da
economia brasileira. O crescimento das exportações, reflexo da
desvalorização do real e da estagnação da economia, foi um dos
principais fatores que explicam o
movimento. Apesar da melhora,
os números ainda são inferiores
aos de outros países emergentes.
Periodicamente, o BC calcula 11
índices referentes à situação das
contas externas do país (veja quadro ao lado). Eles comparam o tamanho da dívida externa brasileira e os gastos com juros com outros indicadores, como o tamanho das reservas em moeda estrangeira do governo e o total de
exportações.
No ano passado, 9 desses 11 índices registraram melhora quando comparados com os resultados de 2002. Em relação a 2001,
houve avanços em sete itens.
Números apurados em setembro de 2003, por exemplo, mostravam que os gastos com o chamado serviço da dívida externa
(pagamentos de prestações somados às despesas com juros) representavam 70% das exportações
brasileiras. Em dezembro de
2002, essa proporção estava em
84,4%. Ou seja, o pagamento da
dívida externa brasileira compromete, hoje, parcela menor dos dólares obtidos com as exportações.
Já as reservas em moeda estrangeira do governo são suficientes
para pagar o equivalente a aproximadamente um ano e um mês de
serviço da dívida externa. Entre
2001 e 2002, os recursos eram suficientes para cobrir as despesas de
pouco mais de oito meses.
"Houve uma melhora, mas os
números ainda são piores do que
a média dos outros países", diz Lisa Schineller, diretora da agência
de classificação de riscos Standard & Poor's. Segundo Schineller, uma das responsáveis pela
análise dos países da América Latina, os indicadores brasileiros
continuam abaixo dos observados em outros emergentes.
Nota "B+"
Hoje a dívida externa do Brasil
recebe da agência a nota "B+",
que indica investimento de caráter especulativo. Senegal e Turquia são outros países que recebem a mesma classificação da
Standard & Poor's.
Levantamento feito pelo próprio BC mostra, por exemplo, que
os juros da dívida externa pagos
pelo Chile equivalem a apenas
5,8% das suas exportações país.
No caso do Brasil, a proporção está em 21,8%.
Apesar disso, Schineller diz que
as perspectivas são boas. "As exportações cresceram, o saldo da
balança comercial está melhorando. Embora um dos motivos disso
seja o desaquecimento da economia, há sinais de que há avanços
estruturais na economia brasileira", afirma, referindo-se ao aumento nas exportações de manufaturados nos últimos anos.
A estagnação da economia foi
um dos fatores que explicam os
recentes saldos comerciais elevados alcançados pelo Brasil. Com a
estagnação, a procura por bens
importados se reduziu, o que ajudou no equilíbrio das contas externas. No ano passado, por
exemplo, o crescimento ficou
próximo de zero.
O economista-chefe do BNP Paribas no Brasil, Alexandre Lintz,
cita a forte desvalorização do real
desde 2001 como um dos fatores
que mais influenciaram a evolução das contas externas. "O fator
chave nesse processo foi a forte
depreciação do câmbio", diz.
Com a alta do dólar, os produtos brasileiros ficam mais competitivos no exterior e os bens importados ficam mais caros em
reais, o que desestimula a sua procura. Lintz diz ainda que vários fatores externos contribuíram para
a melhora nos indicadores brasileiros: o crescimento da economia
norte-americana, a gradual recuperação da Argentina e uma elevação no preço dos produtos agrícolas no mercado internacional, o
que favorece as vendas brasileiras.
Mesmo que a economia retome
o crescimento neste ano, afirma
Lintz, as contas externas não devem apresentar problemas, desde
que se mantenha uma taxa de
câmbio próxima dos níveis atuais,
o que garantiria o bom desempenho das exportações. Também
para Schineller, as perspectivas
são boas: "A vulnerabilidade externa deve continuar se reduzindo gradualmente", diz a diretora
da Standard & Poor's.
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