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COMÉRCIO
País encontra barreiras nos setores em que se torna competitivo
Eficiência do Brasil vira "armadilha" na exportação
FABÍOLA SALANI
DA REDAÇÃO
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao mesmo tempo em que o Brasil consegue ampliar sua participação no mercado internacional,
vê seus produtos mais competitivos se tornarem "sensíveis"
-protegidos com barreiras e
subsídios por potenciais clientes.
Os recentes resultados de controvérsias na OMC (Organização
Mundial do Comércio) sobre algodão e açúcar ilustram a armadilha do comércio exterior para o
Brasil. Os países concorrentes
atribuem a dumping -venda
abaixo do preço de produção-
os valores competitivos alcançados pelos produtores brasileiros
devido à maior e melhor produtividade do país.
Ao dar razão ao Brasil, a OMC
negou que o país mantivesse práticas ilegais -atestando que o
preço baixo é mesmo fruto de
vantagens estruturais.
"A escolha do que é sensível não
é nossa, mas dos outros. Um país
se aproveita das suas capacidades
de produzir melhor, mais barato e
mais rápido. Esse é precisamente
o caso do Brasil no agronegócio",
disse Arnaldo Brazil Ferreira,
consultor-sênior da Prime Action
Consulting.
Para Marcos Jank, diretor-presidente do Icone (Instituto de Estudos do Comércio e Negociações
Internacionais), equivoca-se
quem diz que o país deve diminuir a ênfase em exportações
agrícolas. "O Brasil tem vantagens
competitivas na agricultura, como condições climáticas e solo, e
não pode virar as costas ao setor."
Por isso, Jank diz que o Brasil
tem que continuar a negociar como faz hoje e, quando encontrar
barreiras questionáveis a seus
produtos, levar o caso à OMC.
Tanto Jank quanto Ferreira
lembram que países desenvolvidos são também grandes exportadores de commodities. "Os EUA,
por exemplo, antes de serem potência industrial eram potência
agrícola", disse o consultor. "Exportar commodities não é errado.
Entre os dez maiores exportadores, cinco são países desenvolvidos", afirmou Jank.
Novas estratégias
No final de 2006, cerca de 60%
do mercado mundial de produtos
agrícolas será dominado por produtos alimentícios processados.
Essa mudança no cenário do comércio global vai forçar os setores
exportadores brasileiros a buscarem a inserção internacional de
novos produtos.
Isso não significa, contudo, que
a batalha pela abertura de mercado para os produtos mais protegidos deverá sair do caminho da diplomacia brasileira.
"Taticamente o Brasil tem que
lutar por mais acesso a mercado,
mas isso já está mais ou menos
em andamento na Rodada Doha", diz Mauro de Rezende Lopes,
professor da FGV-RJ (Fundação
Getúlio Vargas). "Estrategicamente, temos que lutar por novos
produtos, novos mercados e por
novas estratégias de negócios."
Nesse contexto, Lopes cita a carne cozida congelada. Segundo ele,
o Brasil já tem uma exportação relevante desse produto para o mercado europeu. "A Europa não impõe barreiras a esse produto porque precisa desse tipo de carne."
Mas o país não pode descuidar
do controle sanitário. "Ainda que
todas as regras de impedimento
terminassem, as de controle sanitário não terminam nunca e contra elas não há o que fazer, pois se
trata de saúde pública", disse Ferreira. "Temos que melhorar a defesa fitossanitária, o controle de
qualidade interno e o conhecimento dos mercados [importadores]", ressaltou Lopes.
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