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RETOMADA
Apesar de apoio a Lula, empresário diz temer alta dos juros e da meta de superávit; para ele, "tempestade ainda está por aí"
Onda de otimismo traz riscos, afirma Staub
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
O empresário Eugênio Staub,
61, presidente da Gradiente, uma
das maiores empresas do setor
eletroeletrônico no Brasil, enxerga riscos bastante grandes de o
atual momento de otimismo na
economia acabar se transformando num grande problema para o
país no futuro. "Quando as coisas
estão mal, existem riscos para a
economia, mas quando estão
bem, os riscos são ainda maiores", diz Staub.
Para ele, o primeiro grande risco do país é o de o governo achar
que tudo está resolvido e cruzar
os braços. Staub acha que há ainda muito a ser feito para a consolidação do crescimento. "O furacão
apenas passou. A tempestade ainda está por aí", diz o empresário.
Eleitor de primeira hora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e
do conselho de administração do
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Staub diz ainda que vê dois
grandes riscos para a economia
que podem se tornar uma grande
ameaça para a continuação do
processo de crescimento da economia.
O primeiro risco seria o de o governo promover um novo aumento de juros para combater a
ameaça da volta da inflação. A seu
ver, o Brasil deveria até mesmo reduzir os juros.
O segundo risco seria, para
Staub, o de o governo aumentar a
meta de superávit primário de
4,25% do PIB para 4,5% do PIB se
decidir não renovar o acordo com
o FMI (Fundo Monetário Internacional). "O Brasil não precisa
dar esse tipo de prova ou posar de
mais realista do que o rei", diz
Staub.
Para o empresário, o Brasil precisa começar a trabalhar numa
agenda do desenvolvimento para
promover o crescimento sustentável da economia.
A seguir, a entrevista:
Folha - O sr. acha que se justifica
tanto otimismo na economia?
Eugênio Staub - De fato, hoje, há
motivos para o otimismo. Nós estamos muito mais aliviados. Só
neste ano foi criado 1,2 milhão de
empregos formais, e a economia
está mostrando sinais de crescimento, mas isso não significa que
tudo está resolvido. Ainda há
muita coisa a ser feita. Quando as
coisas estão mal existem riscos
para a economia, mas quando estão bem os riscos são ainda maiores. Isso é verdade inclusive na vida empresarial. Os problemas
acontecem exatamente quando
você baixa a guarda. São esses riscos na administração da economia que precisam ser evitados.
Folha - Quais seriam esses riscos?
Staub - São três grandes riscos.
O primeiro grande risco é o de
achar que tudo deu certo e que
não é preciso fazer mais nada.
Nós já vivemos essa experiência
logo depois do Plano Real, quando o país vivia uma tremenda euforia e se achava que o mercado ia
resolver tudo. E fomos surpreendidos por uma sucessão de crises.
Para mim, esse sentimento de que
não é preciso fazer mais nada é
um grande risco para a economia.
Folha - Quais seriam os outros riscos?
Staub - Um grande temor que
tenho, por exemplo, é o fato de
certos setores industriais estarem
com sua produção batendo no teto e isso ser utilizado para aumento dos juros. Já se ouve falar principalmente no meio financeiro
que alguns setores industriais estão no limite da capacidade e que
isso irá provocar aumento de preços, como aconteceu com o aço.
Para combater essa inflação, o governo seria inevitavelmente obrigado a aumentar os juros. No setor financeiro existe essa expectativa. Seria uma barbaridade para a
continuidade do crescimento se o
Banco Central tomasse essa iniciativa.
Folha - Mas não há ameaça de alta da inflação com a indústria no limite de sua capacidade?
Staub - Pode até ter um mês
com inflação mais alta, mas não a
ponto de precipitar um novo aumento de juros. Neste mês, por
exemplo, a inflação até caiu. A
meu ver, acho até que dá para baixar os juros. O governo precisa
baixar os juros reais da economia.
Folha - Qual seria o terceiro risco?
Staub - O terceiro risco, a meu
ver, é de o Brasil não renovar o
acordo com o FMI e as nossas autoridades econômicas quererem
dar uma demonstração de que
são mais rígidos do que o Fundo.
Ou seja, decidirem aumentar a
meta de superávit primários dos
atuais 4,25% do PIB para algo como 4,5% do PIB. O Brasil não precisa dar esse tipo de prova e posar
de mais realista do que o rei.
Folha - O sr. seria a favor de o Brasil renovar o acordo com o FMI?
Staub - Não acho necessário. Se
renovar, terá de ser feito em condições mais favoráveis para o
país. De qualquer forma, o que
me preocupa é o risco de o Brasil
querer andar mais na linha do que
o necessário caso não renove o
acordo com o FMI. O Brasil não
tem necessidade de agir como o
sujeito que sai da cadeia depois de
cumprir sua pena. O país não precisa andar mais na linha do que
qualquer outro.
Folha - O que o Brasil precisa fazer?
Staub - Tem tudo a ser feito. É
necessário voltar a pensar numa
agenda de desenvolvimento econômico. É preciso também trabalhar no detalhamento da política
industrial cujas linhas gerais foram anunciadas há pouco tempo,
mas ainda não saíram do papel.
Há necessidade de o Brasil dar
prioridade à redução da vulnerabilidade externa até atingir o nível
de grau de investimento ("investment grade") pelas agências de
"rating" (significa baixo risco ao
se investir no país). Há necessidade também de promover o investimento produtivo, além é claro
de baixar os juros.
Todos os problemas nacionais
estão aí para serem enfrentados.
O furacão apenas passou. A tempestade ainda está por aí.
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