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CORRUPÇÃO NO TRABALHO
Segundo pesquisa, golpista começa mais cedo no Brasil e dá um rombo maior para a empresa
Brasileiros fraudam mais que americanos
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O cruzamento dos dados de
duas pesquisas sobre fraudes em
empresas privadas, obtidas pela
Folha, mostra que os empregados
brasileiros são mais corruptos do
que os seus colegas norte-americanos.
Os fraudadores que surrupiam
o caixa das empresas começam
nessa vida mais cedo -entre 36 e
40 anos- do que os norte-americanos. Desviam mais recursos e a
maioria deles -oito em cada
dez- são homens. No Brasil, as
mulheres fraudam menos do que
nos EUA e é raro pegá-las com a
boca na botija.
Há informações, no mínimo,
curiosas e preocupantes. Companhias privadas do setor industrial
são cada vez mais o alvo preferido
dos fraudadores brasileiros
-mais até do que os bancos.
Não é só isso. Segundo levantamento da GBE Peritos, empresa
especializada em desmantelar os
esquemas, 29,2% dos casos de
fraudes no Brasil promoveram,
em 2001, desvios de recursos que
variaram de mais de US$ 100 mil a
até US$ 500 mil.
Os esquemas foram montados
por empregados de alto e baixo
escalão. Quarenta e três casos foram analisados.
Essa é a maior taxa verificada no
levantamento. O montante não é
nada desprezível. Nos EUA, por
exemplo, um número menor
-27,6% dos mais de 600 casos
analisados neste ano- surrupiou
a mesma quantia, informa o levantamento finalizado em julho
pela ACFE (Association of Certified Fraud Examiners), entidade
que reúne 25 mil investigadores
em cem países.
A pesquisa analisou 663 casos
de desvios de recursos nos EUA.
Ela mostra que 35% -a maior taxa na pesquisa americana- dos
"gatunos" de lá roubam de US$ 10
mil a até US$ 100 mil.
Criatividade
Outro detalhe chama a atenção.
Ao cruzar os dados da GBE e da
ACFE, descobre-se que o crime
preferido dos empregados que assaltam o caixa das empresas no
Brasil é a corrupção.
Nessa categoria entram os crimes em que os fraudadores usam
da influência de seus cargos para
conseguir algum benefício. Aqui,
mais de 56% das investigações
identificaram um cenário de corrupção dentro da empresa.
Normalmente, o esquema é
descoberto porque a companhia
solicita aos auditores uma investigação sigilosa.
Nos EUA, no entanto, 85,7%
dos casos eram de apropriação indevida de bens -caracterizada
por uma situação de roubo ou de
mau uso dos ativos da empresa.
Mais cuidadosas
Na hora de agir na surdina, as
mulheres são menos pegas. Isso
não acontece só porque a maioria
dos fraudadores são homens, mas
porque elas são mais cuidadosas e
pacientes do que eles.
"O homem frauda e pouco tempo depois vai gastando o dinheiro. A mulher não. Ela espera porque sabe que corre o risco de ser
pega", diz Marcelo Gomes, diretor da GBE.
Há uma tendência, porém, que
já preocupa as companhias. Mais
de 46% dos fraudadores, nos 663
casos analisados nos Estados Unidos, são do sexo feminino. Em
1996, a taxa não passava de 40%.
No Brasil, mais de 84% dos acusados são homens.
Há exemplos de fraude à vontade. Anos atrás, Gomes investigava
desvios no caixa de uma multinacional. Desconfiava que um dos
diretores lesava a empresa, mas
não sabia como.
BMW na garagem
Numa noite, um dos diretores
encontrou o possível fraudador
na garagem da empresa estacionando um BMW. Não deu outra:
no dia seguinte ele foi colocado
contra a parede. Perdeu o emprego, mudou de cargo e está trabalhando em outra empresa.
"Isso ocorre muito. O cara é pego, mas a empresa tem medo da
má exposição do caso e o demite
na surdina. O cara procura uma
empresa de recolocação respeitável e consegue um novo emprego.
E volta a operar na clandestinidade", conta Gomes.
Por isso, há dificuldade em levantar números de executivos
atrás das grades.
Histórias como a do diretor
com o BMW entram nas estatísticas como "descoberta por acidente". O acaso facilitou a identificação do fraudador. Quase 19% das
descobertas dos investigadores da
ACFE ocorreram sem querer.
"O método mais comum de detectar é a denúncia anônima do
colega, que ocorre em um quarto
dos casos esclarecidos", informa o
trabalho da associação.
Nesses esquemas dentro das
companhias, o jovem executivo é,
normalmente, o larápio. Aqueles
entre 36 e 40 anos são responsáveis por quase 42% das fraudes no
país, segundo o estudo da GBE
nos 43 casos com 155 pessoas acusadas do crime. Nos EUA, 30%
delas têm entre 41 e 50 anos.
Até na 3ª idade
Acredita-se ainda que os que
terminaram o ensino superior estão mais perto de cometer o crime, até pelo cargo que ocupam
-de gerência e diretoria. Mas especialistas norte-americanos ressaltam que quem fez a "high
school" (equivalente ao colegial
no Brasil), já é responsável por
quase 57% dos casos registrados.
Outro dado chama a atenção:
aqueles com mais de 60 anos desviam, em média, volumes que
chegam a ser 27 vezes superiores
àqueles desviados por jovens com
menos de 26 anos nos EUA. A informação não é confirmada pelas
auditorias no Brasil.
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