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LUÍS NASSIF
As mulheres dos nossos sonhos
Dia desses, li uma reportagem sobre a ex-vedete Darlene Glória. O tempo é impiedoso, senão você saberia quem foi
Darlene para os adolescentes da
minha geração.
O que faz uma mulher marcar
época? A beleza é fundamental,
mas não basta. A sensualidade
ajuda, mas deve ser dosada, de
acordo com o perfil da musa,
um temperamento forte, ainda
que desgovernado, a inteligência, desde que desacompanhada
do intelectualismo forçado que
acomete as belas com complexo
de belas.
Minha infância foi marcada
por duas belezas clássicas, das
maiores que este país já teve:
Marta Rocha e Tônia Carrero, e
uma beleza para paladares
muito sofisticados -Danuza
Leão. E havia ainda os dentes e
as pernas de misses como Adalgisa Colombo e as covinhas de
Terezinha Morango.
Nos anos 60, as revistas passaram a ser mais ousadas, e as
musas, mais carnais. Mas ainda
eram tempos de mulheres maduras, curvilíneas. Começam os
reinados de Norma Benguell e
de Odete Lara, protagonistas de
um dos clássicos eróticos do cinema nacional, "Os Cafajestes".
E também o período das "Certinhas do Lalau", que Stanislaw
Ponte Preta imortalizaria nas
páginas da "Última Hora", com
as imbatíveis pernas de Íris
Bruzzi.
No final dos anos 60 e início
dos anos 70, há espaço maior
para negras monumentais, como Marina Montini -a musa
de Di Cavalcanti-, Adele Fátima e Piná, que virou a cabeça
do príncipe Charles.
Os programas humorísticos de
televisão começam a consagrar
as musas maliciosas, sucessoras
das vedetes do rebolado, fazendo o tipo ingênuo ou burro, bastante calcados em Brigitte Bardot, como as "francesas" Jaqueline Mirna e Anick Malvill e a
norte-americana Kate Lyra.
Sem contar a "língua presa" de
Sônia Mamede.
Surge um tipo de musa para
públicos mais intelectualizados,
como a insuperável Leila Diniz,
e, no Cinema Novo, a beleza
plácida (e estragada pelo intelectualismo do Cinema Novo)
de Helena Ignez, que Glauber
Rocha fez, e Adriana Prietto, de
morte trágica e prematura.
Nesse período, os "catecismos"
clássicos de Carlos Zéphiro são
substituídos pelas primeiras revistas masculinas com uso
abundante de nus, como a pioneira "Fairplay", que, pela primeira vez, traria nus explícitos
de Betty Faria, Pepita Rodrigues
e da belíssima modelo Marisa
Urban. As modelos, aliás, sempre tiveram seu espaço: nos anos
50, Danuza, nos anos 60, Milla,
Marisa Urban e Lucia Cúria.
No final dos anos 60 e início
dos anos 70, no rastro da Garota
de Ipanema -que se torna símbolo mundial de sensualidade-, começa a se desenvolver
um novo padrão de musa, mais
jovem, magra, tipo "gata" ou
"pantera" -termos pelos quais
eram tratadas. Além da original, Helô Pinheiro, o período
consagra Lueli Figueiró, a trágica Ângela Diniz (a "pantera"
mineira morta por um amante
enlouquecido) e três monumentos absolutos da época: Rose di
Primo, com suas fotos em biquíni em cima de uma motocicleta,
Monique Evans, com a campanha "o fino que satisfaz", para
cigarro, e a santista Alcione
Mazzeo.
O cinema nacional continuava atuante, agora com as pornochanchadas. Há a beleza estonteante na presença discreta de
Kate Hansen, a sensualidade
explícita de Sandra Bréa, assim
como a brasileiríssima beleza de
Sonia Braga e a beleza estrangeira de Bruna Lombardi.
Nos anos 80 e 90, a televisão
foi o meio que consagrou as novas deusas. Muitas atrizes passaram, se popularizaram, muitas vedetes se transformaram
em símbolos sexuais, provavelmente surgiu a mais bela fantasia brasileira, que foi Luma de
Oliveira. E também um conjunto de atrizes semi-adolescentes,
padrão Globo, como Lídia
Brondi e Glória Pires, nos anos
80, e Malu Mader e Cláudia
Abreu, nos anos 90.
Há mulheres que se destacaram pelo conjunto da obra
-beleza, sofisticação, personalidade e história de vida-, como Luiza Brunet, o tipo brasileiro por excelência, e Rita Camata. E símbolos sexuais que surgem e desaparecem na voracidade que caracteriza os tempos
atuais, como Tiazinha e Feiticeira.
Obviamente, nem chegam aos
pés da maior fêmea (com o perdão das feministas), a beleza
eterna, a mulher que constrói e
desconstrói o mito, que vence as
intempéries da vida e da idade e
a rapidez da mídia, e renasce
sempre, imbatível: Vera Fischer,
que começa miss no início dos
anos 70, passa pelas pornochanchadas dos anos 70 e torna-se
grande atriz nos anos 80.
De qualquer modo, as eróticas
explícitas que me perdoem, mas
a sensualidade discreta é imbatível, junto com a beleza, a inteligência e um toque de classe.
Na relação das minhas musas,
além de Tônia Carrero, estariam Ana Paula Arósio, Maitê
Proença e Carolina Ferraz.
E-mail - LNassif@uol.com.br
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