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Sair da Bolsa na crise exige muito cuidado
Especialista aconselha
paciência e lembra que investimentos em ações devem ser feitos visando sempre o longo prazo
Com 51.939 pontos e no 4º mês consecutivo de queda, Bolsa de Valores de São Paulo acumula perda de 18,7% ao longo do ano
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Se 2008 estivesse em seu fim,
este seria o pior ano da Bovespa
em uma década. Após uma semana de perdas generalizadas,
a Bolsa de Valores de São Paulo
passou a acumular desvalorização de 18,7% neste ano, rondando seus mais baixos patamares desde 2007. Na sexta-feira, a Bovespa terminou o
pregão aos 51.939 pontos.
Como ninguém sabe com
certeza como se comportará o
mercado acionário até o fim de
2008, a recomendação dos analistas é a de sair da Bolsa apenas
se tiver necessidade imediata
do dinheiro aplicado. Do contrário, o melhor é esperar.
Para o investidor que entrou
no mercado acionário nos últimos anos esta pode ser a primeira grande turbulência que
enfrenta. Desde 2002 a Bolsa
de Valores não encerra um ano
com queda acumulada. Foram
cinco anos de ganhos seguidos,
de 2003 a 2007. Nesse período,
a Bovespa se valorizou 467%.
"Quem entrou na Bolsa e
quer sair depois de alguns meses porque o mercado está ruim
investiu errado. Se a intenção
era apenas a de tentar fazer o
dinheiro se multiplicar rapidamente, era melhor ter apostado
no jóquei. Investir em Bolsa
exige sempre que se pense no
longo prazo", afirma William
Eid Júnior, coordenador do
Centro de Estudos em Finanças da FGV (Fundação Getulio
Vargas).
A Bolsa está atravessando
seu quarto mês seguido de queda. Se for considerado seu pico
histórico, que foram os 73.516
pontos registrados em 20 de
maio, a desvalorização acumulada chega a 29,4%. Isso significa que uma pessoa que tivesse
aplicado R$ 10 mil em um fundo atrelado ao Ibovespa nesse
período contaria hoje com pouco mais de R$ 7 mil.
Se o investidor abandonar
suas aplicações em ações agora,
terá de assumir essa perda financeira. Com um pouco de paciência, terá chances de ver
suas economias se recuperarem. Todavia, apesar de historicamente o mercado acionário
costumar se recuperar no longo prazo, não existem garantias
de que os próximos meses ou
anos serão melhores que o
atual momento.
"Muito investidor se animou
com as altas seguidas e acabou
por entrar na Bolsa quando estava rondando os 70 mil pontos. Sem saber o que era uma
crise, esse investidor acabou ficando engessado, pois o cenário ainda vai seguir turbulento", diz Luiz Roberto Monteiro,
assessor de investimentos da
corretora Souza Barros.
O que dificulta ainda mais as
projeções dos especialistas é
que o mercado acionário brasileiro tem sido abatido pelo cenário internacional. A ameaça
de recessão somada à escalada
inflacionária nas principais
economias do planeta têm feito
com que os investidores liquidem suas posições de maior risco, como as ações.
No caso do Brasil, a elevada
participação dos investidores
estrangeiros nas operações da
Bolsa tem sido bastante prejudicial neste momento. Ao venderem maciçamente ações de
companhias brasileiras, os estrangeiros abateram a Bovespa.
Nem mesmo o fato de o Brasil
ter sido promovido neste ano à
categoria de "investment grade" (grau de investimento) ajudou a amortecer a saída de capital externo da Bolsa.
Quando as agências de classificação de risco, como a Standard & Poor's e a Fitch, elevam
um país a "investment grade"
dão um selo que indica que
aquela economia passou a representar baixo risco de calote.
Em outras palavras, se tornou
um local seguro para investir.
Mesmo assim, mais de R$ 17
bilhões líquidos em capital externo deixaram as ações brasileiras desde junho.
"Há muitas incertezas no cenário internacional, a crise não
está perto de seu fim. Dessa forma, não tem como a Bovespa
escapar da volatilidade. Não dá
para saber o que vai ocorrer no
mercado acionário nesse momento. Por isso, quem entrou
na Bolsa deve ficar. Bolsa é investimento de longo prazo",
afirma Eid Júnior.
Apenas na semana passada, o
índice Ibovespa -que reúne as
66 ações mais negociadas- registrou depreciação de 6,72%.
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