São Paulo, domingo, 08 de dezembro de 2002

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INVESTIMENTOS

Temor é não ter caixa para arcar com saques se houver corrida

Bancos vetam capital novo para os fundos de inflação

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Quem ainda pensa em aproveitar a alta da inflação para lucrar um pouco com os fundos de investimento que acompanham a escalada dos preços terá problemas. É que muitas instituições financeiras que oferecem o produto decidiram fechar ou impor limites para novas captações.
Os bancos alegam que a medida visa proteger os clientes. Analistas afirmam que os bancos temem amargar prejuízos. O receio é que a subida dos preços perca força, a rentabilidade dos fundos diminua e os saques disparem. Um movimento desse tipo obrigaria os bancos a venderem no mercado, de um dia para outro, os títulos que compõem esses fundos de investimento.
"O medo é não encontrar compradores para esses papéis. Sem conseguir vender o papel ou tendo de vendê-lo por valores abaixo do que pagaram, os bancos, ou os clientes, teriam de arcar com os prejuízos", avalia Fernando Coelho, analista da ABM Consulting.
Grosso modo, a instituição pega os recursos do cliente interessado no fundo e compra um título indexado à inflação. Quando alguém deseja sacar a aplicação que fez, o banco tem de vender o título para pagar o cliente.
"O perfil do investidor deste tipo de fundo sempre foi de médio e longo prazo. Mas a grande rentabilidade dos últimos meses atraiu um investidor de última hora. O problema é que esse investidor novo entra e sai com a mesma facilidade. Um fundo desse pode evaporar rapidamente da mesma forma que cresceu", afirma o diretor de investimentos do BankBoston, Maurício D'Amico.
A rentabilidade dos fundos indexados à inflação ficou em torno de 5% no mês passado, ganho elevado se comparado ao cerca de 1,5% que os fundos DI deram no período. Os gestores afirmam que esse desempenho foi excepcional e o investidor que se baseasse nele para decidir sua entrada em um desses fundos poderia se decepcionar rapidamente e querer sacar a aplicação.
"Por isso, têm parecido mais vantajoso para os bancos perderem hoje algum ganho com taxa de administração, por exemplo, que correr o risco de terem problemas como falta de caixa para compensar os saques", afirma Coelho.

Coqueluche
Os fundos atrelados à inflação existem no mercado há alguns anos. Mas somente nos últimos meses, com a acelerada da alta dos preços, a procura por eles cresceu.
De R$ 25 milhões que tinha em junho, o patrimônio do fundo do BankBoston indexado à inflação saltou para R$ 1,5 bilhão no fim de novembro. O banco, que tinha duas modalidades desse tipo de fundo, decidiu fechar uma delas para novas captações e impôs um teto de R$ 350 mil para quem quiser entrar na outra. Em outubro, quando o banco começou a se preocupar com a questão, esse teto era de R$ 3 milhões.
Um dos maiores fundos atrelados à inflação, o FIF Capital da CEF (Caixa Econômica Federal), fechou neste mês suas portas para novas captações. O fundo foi criado em agosto e atraiu R$ 140 milhões no primeiro mês de vida. No final de setembro, o patrimônio do fundo já era de R$ 650 milhões e no fim de novembro havia saltado para R$ 2,55 bilhões.

Saques
Algumas instituições já sentiram a rapidez de entrada e saída de recursos desses fundos. O fundo atrelado à inflação da Santos Asset Management, aberto em outubro, chegou a ter patrimônio líquido de R$ 2 milhões na primeira metade de novembro. Os saques começaram e foram tão rápidos que fizeram o patrimônio do fundo iniciar este mês com apenas R$ 1,2 milhão. Isso levou a Santos a impor um teto para novos aportes, que não podem superar 5% do patrimônio do fundo.
Os fundos que seguem a inflação são formados basicamente por títulos públicos -as NTN-Cs, Notas do Tesouro Nacional série C- indexados ao IGP-M. Esses papéis são comprados pelos bancos em leilões feitos pelo Tesouro. Também são negociados no mercado secundário, onde um banco vende o ativo para outro.


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