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INVESTIMENTOS
Temor é não ter caixa para arcar com saques se houver corrida
Bancos vetam capital novo
para os fundos de inflação
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem ainda pensa em aproveitar a alta da inflação para lucrar
um pouco com os fundos de investimento que acompanham a
escalada dos preços terá problemas. É que muitas instituições financeiras que oferecem o produto decidiram fechar ou impor limites para novas captações.
Os bancos alegam que a medida
visa proteger os clientes. Analistas
afirmam que os bancos temem
amargar prejuízos. O receio é que
a subida dos preços perca força, a
rentabilidade dos fundos diminua e os saques disparem. Um
movimento desse tipo obrigaria
os bancos a venderem no mercado, de um dia para outro, os títulos que compõem esses fundos de
investimento.
"O medo é não encontrar compradores para esses papéis. Sem
conseguir vender o papel ou tendo de vendê-lo por valores abaixo
do que pagaram, os bancos, ou os
clientes, teriam de arcar com os
prejuízos", avalia Fernando Coelho, analista da ABM Consulting.
Grosso modo, a instituição pega
os recursos do cliente interessado
no fundo e compra um título indexado à inflação. Quando alguém deseja sacar a aplicação que
fez, o banco tem de vender o título
para pagar o cliente.
"O perfil do investidor deste tipo de fundo sempre foi de médio
e longo prazo. Mas a grande rentabilidade dos últimos meses
atraiu um investidor de última
hora. O problema é que esse investidor novo entra e sai com a
mesma facilidade. Um fundo desse pode evaporar rapidamente da
mesma forma que cresceu", afirma o diretor de investimentos do
BankBoston, Maurício D'Amico.
A rentabilidade dos fundos indexados à inflação ficou em torno
de 5% no mês passado, ganho elevado se comparado ao cerca de
1,5% que os fundos DI deram no
período. Os gestores afirmam que
esse desempenho foi excepcional
e o investidor que se baseasse nele
para decidir sua entrada em um
desses fundos poderia se decepcionar rapidamente e querer sacar a aplicação.
"Por isso, têm parecido mais
vantajoso para os bancos perderem hoje algum ganho com taxa
de administração, por exemplo,
que correr o risco de terem problemas como falta de caixa para
compensar os saques", afirma
Coelho.
Coqueluche
Os fundos atrelados à inflação
existem no mercado há alguns
anos. Mas somente nos últimos
meses, com a acelerada da alta
dos preços, a procura por eles
cresceu.
De R$ 25 milhões que tinha em
junho, o patrimônio do fundo do
BankBoston indexado à inflação
saltou para R$ 1,5 bilhão no fim de
novembro. O banco, que tinha
duas modalidades desse tipo de
fundo, decidiu fechar uma delas
para novas captações e impôs um
teto de R$ 350 mil para quem quiser entrar na outra. Em outubro,
quando o banco começou a se
preocupar com a questão, esse teto era de R$ 3 milhões.
Um dos maiores fundos atrelados à inflação, o FIF Capital da
CEF (Caixa Econômica Federal),
fechou neste mês suas portas para
novas captações. O fundo foi criado em agosto e atraiu R$ 140 milhões no primeiro mês de vida. No
final de setembro, o patrimônio
do fundo já era de R$ 650 milhões
e no fim de novembro havia saltado para R$ 2,55 bilhões.
Saques
Algumas instituições já sentiram a rapidez de entrada e saída
de recursos desses fundos. O fundo atrelado à inflação da Santos
Asset Management, aberto em
outubro, chegou a ter patrimônio
líquido de R$ 2 milhões na primeira metade de novembro. Os
saques começaram e foram tão
rápidos que fizeram o patrimônio
do fundo iniciar este mês com
apenas R$ 1,2 milhão. Isso levou a
Santos a impor um teto para novos aportes, que não podem superar 5% do patrimônio do fundo.
Os fundos que seguem a inflação são formados basicamente
por títulos públicos -as NTN-Cs, Notas do Tesouro Nacional
série C- indexados ao IGP-M.
Esses papéis são comprados pelos
bancos em leilões feitos pelo Tesouro. Também são negociados
no mercado secundário, onde um
banco vende o ativo para outro.
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