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ANO DO DRAGÃO
Poupança fecha 2002 no vermelho; fundos DI e de renda fixa apanham do IPCA de 3,02% em novembro
Inflação e IR "roubam" lucro do investidor
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de mais de uma década
de trégua, a inflação volta a atormentar a vida dos investidores. As
cadernetas de poupança encerrarão 2002 no vermelho, ou seja, seu
retorno anual será inferior à inflação oficial medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor
Amplo) em 12 meses.
A combinação de inflação alta e
o desconto do Imposto de Renda
também tem derrubado os ganhos reais (descontada a inflação)
dos fundos de investimento mais
conservadores, como os DI e de
renda fixa.
Em novembro, esses fundos tiveram ganhos entre 1,7% e 2%, retornos bem inferiores ao IPCA,
que foi de 3,02% no período. Ou
seja, essas aplicações encerraram
o mês pagando juros reais negativos. Apesar disso, os investidores
ainda tiveram de arcar com o pagamento do IR, cuja alíquota de
20% incide sobre a rentabilidade
nominal (que não leva em conta a
inflação) desses fundos.
Também por conta da cobrança
do IR e da inflação crescente, o retorno real dos fundos em 12 meses tem minguado. Até novembro, os fundos DI estavam com
rentabilidade real de apenas 2,2%
-a pior desde 1997.
"O investidor está começando a
pagar IR sobre a inflação, já que os
juros reais estão negativos", afirma Mauro Halfeld, professor de
finanças da Universidade Federal
do Paraná.
Segundo Marcelo D'Agosto, diretor do site Fortuna e da consultoria InvestMate, a tendência agora é que o peso do IR comece a incomodar mais o investidor.
"Nos últimos anos, com inflação estável e juros altos, os ganhos
reais dos fundos eram altos. Agora, com a disparada da inflação, os
juros reais têm sido muito baixos
e até negativos, e o IR começa a
pesar mais", diz o consultor.
O IR também tem começado a
distorcer a captação líquida -resultado de depósitos menos resgates- do mercado de fundos de
investimento. Em novembro, essa
conta ficou negativa em R$ 314
milhões, segundo dados do Fortuna. Teria sido positiva não fosse
o efeito do IR que é contabilizado
como resgate.
Na verdade, as entradas no mercado de fundos excederam os saques no mês passado em R$ 811
milhões. O problema é que outro
R$ 1,13 bilhão deixou os fundos e
foi para os cofres do governo, como pagamento do IR.
"As incertezas provocadas pelas
mudanças na contabilidade dos
fundos, em maio, estão passando.
As entradas, aos poucos, já superam os saques. Mas como a rentabilidade nominal de alguns fundos tem sido alta, o volume de IR
é elevado e a captação acaba ficando negativa", afirma D'Agosto.
Poupança
A rentabilidade da poupança
em 12 meses até novembro perdeu para a inflação do mesmo período, como a Folha havia antecipado. O IPCA encerrou o mês
com alta anualizada de 10,9%,
contra o retorno de 8,9% da poupança no mesmo período.
Em dezembro, a poupança
-que terá retorno de 9,14% em
2002- voltará a perder para a inflação oficial, que deverá ultrapassar 11% neste ano.
Desde 1992, época em que o país
sofria com a hiperinflação, o retorno da poupança em 12 meses
não perdia para o IPCA anualizado por dois meses seguidos, de
acordo com a ABM Consulting.
Segundo Halfeld, entre 1992 e
1995, apesar da alta inflação, os investimentos deixaram de amargar juros negativos em consequência de uma política monetária agressiva. Justamente no fim
de 1991, a equipe de diretores do
BC passou a ser formada por economistas ortodoxos como Armínio Fraga (atual presidente do
BC) e Pedro Bodin, do banco Icatu, que é o nome mais cotado para
ocupar o cargo no governo Lula.
Assim como naquela época,
economistas esperam que uma
nova alta na taxa de juros, atualmente em 22% ao ano, volte a derrubar a inflação.
"Obviamente, a situação no início da década de 90 era bem mais
séria, o país vivia uma profunda
instabilidade e a inflação estava
descontrolada. Mas, atualmente,
a alta dos preços já começa a
preocupar", diz Halfeld.
O grande temor dos analistas é
que o retorno -cada vez menor e
até negativo- das aplicações financeiras leve os investidores a
preferir consumir em vez de poupar. Isso colocaria mais lenha na
fogueira da inflação.
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