São Paulo, domingo, 08 de dezembro de 2002

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ANO DO DRAGÃO

Poupança fecha 2002 no vermelho; fundos DI e de renda fixa apanham do IPCA de 3,02% em novembro

Inflação e IR "roubam" lucro do investidor

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de mais de uma década de trégua, a inflação volta a atormentar a vida dos investidores. As cadernetas de poupança encerrarão 2002 no vermelho, ou seja, seu retorno anual será inferior à inflação oficial medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) em 12 meses.
A combinação de inflação alta e o desconto do Imposto de Renda também tem derrubado os ganhos reais (descontada a inflação) dos fundos de investimento mais conservadores, como os DI e de renda fixa.
Em novembro, esses fundos tiveram ganhos entre 1,7% e 2%, retornos bem inferiores ao IPCA, que foi de 3,02% no período. Ou seja, essas aplicações encerraram o mês pagando juros reais negativos. Apesar disso, os investidores ainda tiveram de arcar com o pagamento do IR, cuja alíquota de 20% incide sobre a rentabilidade nominal (que não leva em conta a inflação) desses fundos.
Também por conta da cobrança do IR e da inflação crescente, o retorno real dos fundos em 12 meses tem minguado. Até novembro, os fundos DI estavam com rentabilidade real de apenas 2,2% -a pior desde 1997.
"O investidor está começando a pagar IR sobre a inflação, já que os juros reais estão negativos", afirma Mauro Halfeld, professor de finanças da Universidade Federal do Paraná.
Segundo Marcelo D'Agosto, diretor do site Fortuna e da consultoria InvestMate, a tendência agora é que o peso do IR comece a incomodar mais o investidor.
"Nos últimos anos, com inflação estável e juros altos, os ganhos reais dos fundos eram altos. Agora, com a disparada da inflação, os juros reais têm sido muito baixos e até negativos, e o IR começa a pesar mais", diz o consultor.
O IR também tem começado a distorcer a captação líquida -resultado de depósitos menos resgates- do mercado de fundos de investimento. Em novembro, essa conta ficou negativa em R$ 314 milhões, segundo dados do Fortuna. Teria sido positiva não fosse o efeito do IR que é contabilizado como resgate.
Na verdade, as entradas no mercado de fundos excederam os saques no mês passado em R$ 811 milhões. O problema é que outro R$ 1,13 bilhão deixou os fundos e foi para os cofres do governo, como pagamento do IR.
"As incertezas provocadas pelas mudanças na contabilidade dos fundos, em maio, estão passando. As entradas, aos poucos, já superam os saques. Mas como a rentabilidade nominal de alguns fundos tem sido alta, o volume de IR é elevado e a captação acaba ficando negativa", afirma D'Agosto.

Poupança
A rentabilidade da poupança em 12 meses até novembro perdeu para a inflação do mesmo período, como a Folha havia antecipado. O IPCA encerrou o mês com alta anualizada de 10,9%, contra o retorno de 8,9% da poupança no mesmo período.
Em dezembro, a poupança -que terá retorno de 9,14% em 2002- voltará a perder para a inflação oficial, que deverá ultrapassar 11% neste ano.
Desde 1992, época em que o país sofria com a hiperinflação, o retorno da poupança em 12 meses não perdia para o IPCA anualizado por dois meses seguidos, de acordo com a ABM Consulting.
Segundo Halfeld, entre 1992 e 1995, apesar da alta inflação, os investimentos deixaram de amargar juros negativos em consequência de uma política monetária agressiva. Justamente no fim de 1991, a equipe de diretores do BC passou a ser formada por economistas ortodoxos como Armínio Fraga (atual presidente do BC) e Pedro Bodin, do banco Icatu, que é o nome mais cotado para ocupar o cargo no governo Lula.
Assim como naquela época, economistas esperam que uma nova alta na taxa de juros, atualmente em 22% ao ano, volte a derrubar a inflação.
"Obviamente, a situação no início da década de 90 era bem mais séria, o país vivia uma profunda instabilidade e a inflação estava descontrolada. Mas, atualmente, a alta dos preços já começa a preocupar", diz Halfeld.
O grande temor dos analistas é que o retorno -cada vez menor e até negativo- das aplicações financeiras leve os investidores a preferir consumir em vez de poupar. Isso colocaria mais lenha na fogueira da inflação.


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