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Rendimento baixo estimula maior consumo
DA REPORTAGEM LOCAL
Embora economistas acreditem que o Banco Central vá reagir
à recente disparada da inflação e
elevar novamente os juros, novas
possíveis fontes de pressão inflacionária já preocupam.
O forte aumento do volume de
dinheiro que é rolado no chamado mercado overnight (que remunera as aplicações com taxas
de juros diárias), por exemplo,
traz o risco de maior inflação.
Entre maio e os últimos dias, o
montante de recursos que circula
diariamente pelo overnight saltou
de cerca de R$ 6 bilhões para mais
de R$ 60 bilhões.
"Esse salto reflete, principalmente, a incerteza de investidores
em relação ao futuro da economia
sob a gestão do próximo governo.
O adiamento do anúncio do nome do futuro presidente do Banco
Central aumentou essa tensão nos
últimos dias", afirma Carlos Carvalho, sócio da Questus Asset Management.
Alta generalizada
O grande risco, alerta Carvalho,
é que esse dinheiro que não está
preso em nenhum investimento
de médio prazo acabe contribuindo para o aumento da inflação.
"O problema é que esse dinheiro que está solto pode ser usado
para o consumo, principalmente
se os investidores começarem a
temer a disparada da inflação."
Outra preocupação de economistas é a alta generalizada dos
preços. Isso começa a indicar que
a inflação não está restrita a produtos cujos preços são afetados
pela alta do dólar e já chega, por
exemplo, ao setor de serviços.
Segundo o último informativo
econômico do Itaú, dos 525 subitens que compõem o IPC calculado pela Fipe, 43% subiram mais
de 2%. Em setembro passado, o
percentual de preços que tiveram
reajuste acima de 2% era de 50%.
No total, 60% dos subitens tiveram aumento superior a 1% em
novembro.
Por isso, economistas acreditam que o BC será obrigado a subir novamente a Selic, atualmente
em 22% ao ano.
Isso contribuiria para a recuperação da rentabilidade real das
aplicações financeiras que vêm
perdendo para os índices de preços ao consumidor. Segundo analistas, os IPCs são os índices ideais
para a medição dos juros reais, já
que refletem o verdadeiro custo
de vida do consumidor.
"Os IPCs retratam mais fielmente os juros reais em comparação aos retornos das aplicações. O
custo de oportunidade de um investimento é medido pelos bens
que o investidor poderá comprar
no futuro", diz Hugo Penteado,
economista-chefe do ABN-Amro
Asset Management.
Quando o investidor começa a
se dar conta de que não vale a pena poupar porque os preços subirão mais, em determinado período, do que a rentabilidade de seu
investimento, pode partir para o
consumo imediato.
Segundo Penteado, no entanto,
esse risco deverá ser bastante reduzido com a elevação dos juros.
"Esperamos um aumento da Selic
para, no mínimo, 24%." Por isso,
o economista não aconselha que
os investidores saiam de suas aplicações agora. "Os ganhos reais
tendem a voltar", diz Penteado.
De qualquer modo, analistas
alertam que as aplicações financeiras tendem a oferecer rendimentos reais menores no futuro
do que os conseguidos nos últimos anos. Isso poderá aumentar a
demanda por aplicações mais arriscadas, como os fundos de
ações.
(EF)
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