|
Texto Anterior | Índice
RECALL DA PRIVATIZAÇÃO
Papéis irão a leilão para pagar parte da dívida de US$ 604 mi da AES Transgás com o banco
BNDES pode comprar ações da Eletropaulo
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
O BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) pode vir a ser o comprador
das ações da Eletropaulo que vão
a leilão para pagar a dívida da AES
Transgás com o próprio BNDES.
A única hipótese de as ações não
serem leiloadas é a AES, dona da
Eletropaulo, apresentar uma proposta para a solução global do seu
débito de US$ 1,131 bilhão com o
banco estatal.
Segundo a Folha apurou, técnicos do BNDES estão convencidos
de que nada impede o banco de
participar do leilão como comprador. Eles estão também certos
de que essa participação será um
grande negócio, qualquer que seja
o resultado da operação.
A AES Transgás deve ao BNDES
o equivalente a US$ 604 milhões
(R$ 2,114 bilhões) de um empréstimo feito em janeiro de 2000, de
aproximadamente US$ 1 bilhão,
para a compra de 64% das ações
preferenciais (sem direito a voto)
da Eletropaulo. O banco já recebeu cerca de US$ 600 milhões.
No dia 28 de fevereiro a AES
Transgás deixou de pagar uma
parcela, a penúltima do financiamento, no valor de US$ 330 milhões (R$ 1,15 bilhão). O banco
não aceitou uma proposta de
prorrogar o vencimento para 15
de abril.
Com isso, segundo a interpretação dos técnicos do BNDES, o caminho natural é o leilão das ações
para o pagamento do débito remanescente. O leilão deverá ser
feito pela CBLC (Câmara Brasileira de Liquidação e Custódia), órgão da Bovespa responsável pela
liquidação (pagamento) das operações em Bolsa no país.
As ações, que foram vendidas a
termo (para entrega no final do
pagamento), estão sob custódia
da CBLC. Ela espera um sinal do
BNDES, titular das garantias representadas pelas ações, para
marcar o leilão e fixar as regras.
O problema, para o BNDES, é
que as ações estão valendo hoje
em torno de US$ 100 milhões, menos que a décima parte do valor
da época em que foram vendidas.
Caso receba o resultado da venda
ao preço atual, o BNDES perderá
cerca de US$ 500 milhões (R$ 1,75
bilhão).
Por isso, os técnicos do banco
pensam que a melhor solução será entrar no leilão como comprador. Se o BNDES comprar as
ações pelos US$ 100 milhões (R$
350 milhões) que estão valendo,
receberá de volta esse dinheiro, já
que o leilão será feito para pagar a
dívida da AES Transgás com o
próprio banco, e deixa de receber
integralmente os US$ 604 milhões
do seu crédito remanescente.
Em compensação, o banco ficará com as ações em carteira. O
BNDES poderá esperar que essas
ações voltem a se valorizar para
vendê-las e recuperar integralmente o prejuízo, ou até mesmo
ganhar mais dinheiro.
E se a participação do banco no
leilão despertar o interesse do
mercado pelas ações e elas tiverem supervalorização, o banco
deixará que o mercado compre os
papéis e receberá o valor dessa
venda, conseguindo assim reduzir seu prejuízo em relação aos
US$ 100 milhões que receberia pela venda a preço de mercado.
Ações ordinárias
Antes de se definir pela marcação do leilão, o BNDES está
aguardando uma proposta da
AES que inclua solução tanto para
a dívida referente às ações preferenciais quanto para o débito de
US$ 527 milhões (R$ 1,84 bilhão)
remanescente do empréstimo de
US$ 888,6 milhões feito em abril
de 1998 para a compra do controle (ações ordinárias) da Eletropaulo. Essa dívida é da AES Elpa.
O BNDES quer que nessa proposta a empresa norte-americana
inclua, além do controle da própria Eletropaulo, a AES Tietê, geradora de energia, também comprada em leilão de privatização,
que é considerada hoje o melhor
ativo do grupo AES no Brasil. A
AES já esclareceu que não pretende incluir a Tietê nas negociações.
Com isso, a solução para a dívida da AES Elpa deverá ser a execução judicial para o recebimento
pelo banco das ações compradas
pela AES no leilão de privatização.
Elas representam a garantia principal do empréstimo. Esse caminho judicial é moroso e o BNDES
preferia não percorrê-lo, mas irá,
caso não tenha outra saída.
A batalha judicial já tem data
para começar. Será no dia 2 de
maio, quando terão passado 90
dias contados a partir de 31 de janeiro deste ano, quando a AES Elpa se declarou inadimplente com
uma parcela de US$ 85 milhões
(R$ 297,5 milhões pelo câmbio da
última sexta-feira) de sua dívida
com o banco. Esse prazo de 90
dias é regulamentar para o início
da cobrança judicial.
No BNDES, não há temor de
que a cobrança judicial se transforme em uma questão diplomática entre o Brasil e os EUA, como
temem alguns analistas. A diretriz
dentro do governo é a de que o
banco aja como um credor em relação a um devedor inadimplente,
sem politizar a cobrança.
Texto Anterior: Mercados e serviços: BC eleva valor para declarar bens no exterior Índice
|