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RASCUNHO DE CRESCIMENTO
Empresários como Antônio Ermírio de Moraes, no entanto, alertam para dependência de exportações
Indústria registra alta de 9,9% nas vendas
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
Apesar do pessimismo da economia dos últimos dias, a indústria brasileira está em plena recuperação no início deste ano. Nos
primeiros três meses de 2004, as
vendas reais da indústria cresceram 12,1% (sem ajuste sazonal) e
9,9% (com ajuste sazonal) em relação ao mesmo período do ano
passado, segundo a pesquisa Sondagem Industrial da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
Os números da CNI mostram
ainda que as vendas da indústria
cresceram 3,32% em março em
relação ao mês de fevereiro. E, em
comparação com o último trimestre do ano passado, as vendas
aumentaram 5,09% de janeiro a
março deste ano. Nos últimos três
trimestres, a indústria já acumula
uma alta de 14,4%.
Esses dados mostram que os
números da recuperação da indústria não se devem apenas ao
fato de a base de comparação, os
primeiros meses do ano passado,
ser muito fraca.
A indústria também está apresentando melhor resultado em
comparação com o final do ano
passado, quando o setor já estava
em franca recuperação.
O presidente da CNI, Armando
Monteiro, afirma que o pessimismo do mercado dos últimos dias
não corresponde ao que de fato
está ocorrendo no mundo real da
economia. "Os números desmentem essa percepção pessimista
que está contaminando o mercado", diz Monteiro.
O presidente da CNI atribui o
crescimento da indústria no início deste ano a três fatores: a recuperação dos salários reais, a retomada do processo de queda dos
juros e o crescimento das exportações.
Segundo a pesquisa da CNI, os
salários reais cresceram cerca de
5% nos primeiros três meses do
ano, o que significa uma recuperação de pouco mais de um terço
em relação à queda de 14% do ano
passado.
A recuperação dos salários se
deve, entre outros componentes,
às recomposições observadas nas
últimas negociações salariais e à
queda da inflação.
Já em relação às exportações, os
números são expressivos. Nos últimos 12 meses, as vendas externas brasileiras já atingiram a cifra
de US$ 80 bilhões, e o superávit
comercial nos primeiros quatro
meses soma US$ 8,1 bilhões, o que
significa um aumento de cerca de
45% em relação ao mesmo período do ano passado.
Apesar de achar o pessimismo
atual exagerado diante desses números, Armando Monteiro Neto,
da CNI, afirma que o governo
precisa melhorar o processo de
coordenação e articulação de suas
decisões para poder melhorar o
desempenho em algumas áreas
da economia. "Isso reforçaria a
percepção dos agentes econômicos de que o ambiente econômico
não é tão ruim quanto se imagina", afirma Monteiro.
O presidente da CNI diz acreditar também que o processo de recuperação da indústria irá continuar firme neste ano, apesar de o
cenário externo indicar algumas
preocupações. Monteiro aposta
num crescimento da indústria de
4,5% neste ano, superior aos 3,5%
projetados para o PIB (Produto
Interno Bruto).
Contraponto
Apesar dos números otimistas,
ainda há muitas dúvidas entre os
empresários a respeito da recuperação da economia. O presidente
do grupo Votorantim, Antônio
Ermírio de Moraes, por exemplo,
diz que o desempenho da indústria ainda está muito dependente
do mercado externo. "Não fosse
pela exportação, estávamos parados", afirma.
Segundo Ermírio de Moraes,
51% da produção de alumínio da
CBA (Companhia Brasileira de
Alumínio), por exemplo, está sendo exportada, assim como 60%
do níquel.
Já a produção de cimento do
grupo, que depende do mercado
interno, encolheu 2%. "Pelo visto,
o Espírito Santo já está cansado
do Brasil", diz Ermírio.
Já o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo), Horacio Lafer Piva,
acredita que o Brasil cresça os
3,5% do PIB previstos para este
ano, mas ele acha esse número absolutamente insuficiente diante
das necessidades do país.
Para Piva, o país deveria crescer
a taxas de 5,5% ao ano para absorver a massa de 1,5 milhão de jovens que entram todos os anos no
mercado de trabalho.
Piva atribui esse crescimento da
economia neste ano principalmente ao forte desempenho das
exportações.
Mas só as exportações não garantem a retomada de crescimento do país. Seria preciso, a seu ver,
recuperar a massa salarial e a renda no país. A atual renda interna
não autorizaria muito otimismo.
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