|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PIRATARIA VERMELHA
Apropriação de patentes e uso indevido de marcas causam prejuízos estimados em US$ 24 bi por ano
Falsificações lesam multinacionais na China
CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM
A Antarctica não vende guaraná
na China, mas uma logomarca
quase idêntica à do seu mais célebre produto está nas prateleiras
de supermercados de Pequim, na
versão local da bebida fabricada
pela Lida Gualana Beverages.
Os desavisados imaginam estar
comprando guaraná Antarctica,
mas aos poucos percebem que estão diante de mais uma das centenas de casos de utilização de marcas consagradas por produtores
locais, um dos principais problemas da China para as empresas
estrangeiras.
Falsificações, apropriação de
patentes e uso indevido de marcas
são tão comuns na China quanto
as bicicletas e atingem fabricantes
de todos os tipos de produto: de
elevadores e autopeças a tênis e
Viagra.
O governo norte-americano estima que 90% dos softwares,
DVDs e CDs comercializados na
China sejam piratas. Só nesses setores, o prejuízo anual das companhias dos Estados Unidos com
as falsificações na China é estimado em US$ 2,6 bilhões.
A venda de produtos de grife pirateados é institucionalizada e
ocorre em grandes mercados nas
principais cidades do país. Exemplares perfeitos de Prada, Gucci,
Giorgio Armani, Christian Dior,
Hermés, Louis Vuitton e Hugo
Boss são vendidos nas ruas por
uma ínfima fração de seu preço de
mercado. DVDs custam US$ 1, e
CDs, entre US$ 0,60 e US$ 0,90.
Máquinas também
Mas o desrespeito à propriedade intelectual não fica apenas nos
bens de consumo e atinge também fabricantes de máquinas. A
Embraco, empresa sediada no
Brasil que é a maior fabricante de
compressores para geladeiras do
mundo, está prestes a iniciar uma
batalha judicial para impedir a
utilização de certos componentes
de seus compressores por duas fábricas do sul da China.
Instalada no país asiático desde
1995, a Embraco descobriu o problema em uma das inspeções de
rotina que faz nos aparelhos de
seus concorrentes. Os componentes foram desenvolvidos pela empresa e patenteados na China. Isso significa que, para utilizá-los,
qualquer outra companhia teria
de obter licença da Embraco e pagar royalties pela patente.
Essa não é a primeira vez que a
empresa tem problemas com propriedade intelectual na China: há
pouco mais de um ano ela ganhou
uma ação que obrigou uma de
suas concorrentes a deixar de
produzir compressores com a utilização do nome "Aspera", companhia italiana comprada pela
Embraco.
Como foi bem-sucedida na primeira vez em que recorreu à Justiça, a Embraco acredita que vai
conseguir novo resultado positivo. "Há disposição do governo e
da Justiça para coibir esse problema. Quando provamos que havia
uso indevido da marca, ganhamos a ação", afirma Mauro Roberto Santos, gerente de pesquisa
e desenvolvimento da Embraco
na China.
Empresas criam comitê
As multinacionais donas das
marcas mais visadas pelos falsificadores uniram forças em 2000
no Comitê de Proteção a Marcas
de Qualidade (QBPC, na sigla em
inglês), entidade que reúne 92
empresas com investimentos totais de US$ 30 bilhões na China.
"Apesar de a falsificação não
ocorrer apenas na China, o crescimento econômico sem precedentes do país levou a um aumento
da falsificação que, em tamanho,
amplitude e gravidade, parece
não ter paralelo na história", afirma documento de apresentação
do QBPC.
As empresas reunidas na entidade estimam que os produtos pirateados correspondam a 25% de
seu mercado na China.
Quando se cansam das tecnicalidades, os chineses lançam mão
do argumento histórico, com boa
dose de ironia: depois de inventar
o papel, a tinta, os fogos de artifício e nunca receber um centavo
do Ocidente pela sua utilização,
por que teriam agora de pagar pelo uso das invenções ocidentais?
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Guaraná brasileiro vira "guolana" Índice
|