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PERDAS E DANOS
Setor financeiro internacional dá mostras de que pode reduzir ou congelar linhas de empréstimos para o país
Crédito externo para o Brasil começa a secar
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
A ameaça de uma contração
violenta do crédito de bancos internacionais paira sobre o setor
privado brasileiro.
Atingido pelo recorde de falências nos EUA, pela crise na Argentina e pelas recentes turbulências
no Brasil, o setor financeiro internacional mostra sinais de que planeja congelar ou diminuir drasticamente suas linhas de crédito no
país com o objetivo de compensar
ou evitar perdas.
Poucas instituições financeiras
falam abertamente sobre o assunto, apesar de alguns sinais de que
as companhias privadas poderão
sofrer o que os economistas chamam de "credit crunch".
O FleetBoston, uma das maiores instituições financeiras norte-americanas, perdeu US$ 521 milhões na Argentina em 2001 e, devido a isso, teve na sexta-feira sua
classificação rebaixada pela agência de risco Fitch.
O banco informou, num relatório entregue à SEC, que irá "ajustar sua estratégia" para compensar essa perda. Essa mensagem foi
entendida pelos mercados como
sinal de que a instituição reduziria
sua exposição ou até encerraria
suas operações, não só na Argentina como em toda a região.
Embora tenha negado essa hipótese, o presidente do banco,
Jorge Ramirez, reconheceu que a
instituição não fará novos investimentos na América Latina.
"Existem indícios concretos de
que os bancos podem reduzir sua
exposição ao Brasil em até 50%",
disse Walter Molano, analista-chefe da corretora BCP.
Greg Heywood, gestor de investimentos do Montgomery Assets,
um grande fundo norte-americano detentor de ações de companhias brasileiras, teme e considera
plausível essa hipótese. "O Brasil é
um país que precisa de capital e de
linhas de crédito abertas", disse
ele à Folha.
"O Brasil certamente está sendo
afetado pela aversão dos bancos
privados ao risco", disse Tom
Trebat, analista-chefe para a
América Latina do Salomon
Smith Barney. "Esse é um fator
adicional de preocupação."
O risco de um "credit crunch"
assusta as empresas privadas brasileiras porque, se ocorrer uma
contração violenta dos créditos,
desapareceria a capacidade do setor privado do país de rolar suas
dívidas -e o endividamento do
setor privado foi o que mais cresceu nos últimos anos.
Em abril passado o FMI alertou,
num relatório, que o setor privado brasileiro pode estar ingressando numa crise de crédito acentuada e prolongada. Estudo dos
economistas Adolfo Barajas e Roberto Steiner mostrou que, após
crescerem 4,1% no Brasil entre
1992 e 1998, os empréstimos bancários para empresas do país caíram 5% entre 1999 e 2000, depois
da mudança do regime cambial.
Segundo eles, o Brasil e o resto
da América Latina deverão entrar
numa fase difícil. "Experiências
anteriores na região sugerem que
a redução do crédito deverá ser
prolongada. É certamente possível que o atual desaquecimento
possa estar sinalizando o início de
um longo período de crise do crédito para o setor privado."
Instituições oficiais
Instituições oficiais começam a
se preocupar com o impacto da
crise financeira da América Latina. Na quinta-feira, o IFC (International Finance Corporation),
braço do Banco Mundial que empresta recursos ao setor privado,
reconheceu que seus prejuízos na
Argentina o obrigarão a uma "ginástica" operacional.
O presidente da instituição, Peter Woicke, disse ter elevado as
provisões contra sua exposição na
Argentina para 50%. Em tese, o
aumento das provisões exigiria
um reajustamento interno de recursos e a redução dos empréstimos. No entanto, o IFC informou
à Folha que não pretende reduzir
sua exposição no Brasil.
Para Richard Fox, diretor da
agência de classificação de risco
Fitch IBCA, em Londres, a preocupante necessidade de financiamento externo das empresas brasileiras é consequência da alta dívida interna do governo.
"O governo toma muitos recursos no mercado doméstico. Isso
acaba forçando os juros para cima
e limitando a capacidade das empresa de pegarem empréstimos
no próprio país", disse Fox.
Segundo o diretor da Fitch, a
restrição de crédito que as empresas brasileiras deverão enfrentar
tende a prejudicar ainda mais a
recuperação da economia.
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