|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BNDES deve pressionar por ganho na venda da Aracruz
Acionista, banco reivindicará oferta igual para minoritários
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
A BNDESPar (empresa de
participações do BNDES) foi
apanhada de surpresa pelo
anúncio da VCP (Votorantim
Celulose e Papel) sobre a oferta
de compra de 28% das ações
com direito a voto da Aracruz
Celulose feita à família Lorentzen. A Folha apurou que, como
detentora de 12,5% das ações
ordinárias da Aracruz, a
BNDESPar deve pressionar para que a oferta de compra seja
estendida aos minoritários.
O BNDES integrou o bloco
de controle acionário da Aracruz até maio, quando o acordo
de acionistas foi extinto. Por 20
anos, cumpriu o acordo, firmado em 1988, para garantir a manutenção do controle da empresa com capital nacional e
votou alinhado com Safra, VCP
e Lorentzen. Com o fim do
acordo, o banco ficou na condição de acionista minoritário.
A VCP anunciou, na quarta,
que a Arapar (empresa da família Lorentzen) aceitou lhe vender sua participação no capital
da Aracruz por R$ 2,7 bilhões,
correspondentes a R$ 21,25
por ação. Com isso, a VCP, que
já possui 28% da Aracruz, pode
assumir o controle da empresa.
Por enquanto, trata-se de
uma possibilidade, uma vez
que o grupo Safra, que detém
outros 28% do capital da Aracruz, por um acordo firmado
em 2003, tem direito de preferência na compra das ações da
família Lorentzen.
Se o Safra não quiser exercer
o direito de compra, tem a opção de vender sua parte à VCP
nas mesmas condições oferecidas aos Lorentzen ou permanecer com sua participação
atual. O Safra tem três meses
para anunciar sua decisão.
A discussão sobre se haverá
ou não troca de controle na
Aracruz e se isso implica ou
não obrigação de oferta aos minoritários pode representar
uma diferença de cerca de R$
450 milhões para a BNDESPar.
O BNDES não se manifesta
oficialmente sobre a polêmica,
mas a questão já está sendo
examinada pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
A VCP apressou-se em informar que não fará oferta pública
para a compra de ações dos minoritários, pois, por já ser acionista da empresa, não haveria
mudança de controle. Pela lei,
quando há troca de controle, o
novo controlador tem de oferecer ao minoritário a opção de
vender ações com direito a voto por 80% do valor oferecido
ao acionista controlador.
A BNDESPar tem 56,88 milhões de ações ordinárias da
Aracruz. Se houver a oferta pública aos minoritários, ela receberá R$ 967 milhões. Caso contrário, suas ações seriam trocadas por ações ordinárias da
VCP, com valor estimado pelo
mercado em R$ 520 milhões.
O advogado e ex-presidente
da CVM Luiz Cantidiano, que
assessora a VCP na operação,
disse à Folha que a negociação
não envolve mudança de controle acionário. Segundo ele, há
duas interpretações em relação
ao controle da Aracruz: a de
que a companhia está sem
acionista controlador desde
maio, quando o acordo de acionistas se extinguiu, e a de que o
Safra, a Arapar, a VCP e a
BNDESPar permanecem controladores por não haver acordo de acionistas substituto.
Em ambos os casos, segundo
ele, a compra das ações pela
VCP não configuraria mudança
de controle acionário. "Configuraria a expansão por parte de
um acionista, mas não a venda
de controle acionário."
Esse entendimento é contestado por outros advogados.
Edison Garcia, da Amec (Associação dos Investidores do
Mercado de Capitais), entende
que o Safra e a família Lorentzen são os controladores da
Aracruz por causa do acordo
que firmaram em 2003 e que a
compra mudaria o controle.
Texto Anterior: Governo quer ouvir concorrentes da BrT-Oi Próximo Texto: Vaivém das commodities Índice
|