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Mercado americano melhora, mas segue cético
FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
O maior mercado acionário
do planeta, em Nova York, teve
uma boa reação inicial ao pacote do governo para salvar as gigantes do mercado de financiamento imobiliário, Fannie Mae
e Freddie Mac. O mesmo aconteceu nas principais Bolsas européias e asiáticas.
Mas, conforme o dia foi chegando ao final, a euforia foi perdendo fôlego. A Bolsa de Nova
York subiu 290,4 pontos. Na
manhã, tinha ganho 350 pontos. O secretário do Tesouro
dos EUA, Henry Paulson, apareceu logo cedo dando entrevistas a canais de TV especializados em economia. Tentou
acalmar o mercado e defender
o pacote: "Intervenção do governo não é algo que eu gostaria
de apoiar, mas é certamente a
melhor alternativa".
Indagado pela TV CNBC sobre o quanto o contribuinte
norte-americano pagará, ele
respondeu que a resposta depende de "quanto tempo vai levar para que os preços dos imóveis se estabilizem e a economia volte a crescer". Paulson
foi realista: "Enquanto o grosso
dessa crise não ficar para trás,
continuaremos a ter nervosismo".
Além da alta na Bolsa, pelo
menos outro indicador relevante deu um sinal positivo ontem. A taxa fixa de juros para
empréstimos imobiliários caiu
de 6,5% para 6% anuais (financiamentos de 30 anos).
A economia dos EUA é 72%
baseada em consumo. O consenso dos analistas é de que as
medidas anunciadas devem demorar para fazer efeito pelos
menos algumas semanas, ou
até meses.
Por enquanto, muitos indicadores ruins serão conhecidos
sobre o que já passou. Ontem,
por exemplo, o Fed (BC dos
EUA) anunciou que o volume
de empréstimos dos consumidores em julho é o menor dos
últimos sete meses, sobretudo
por causa da demanda menor
para a compra de carros, que
em julho foi a menor em 16
anos.
Até agora, a administração
Bush já tomou três providências de intervenção direta na
economia por causa da crise no
setor imobiliário. Ajudou com
US$ 29 bilhões na operação de
venda do banco de investimentos Bear Stearns para o JPMorgan, em março. Baixou um pacote de estímulo aos contribuintes que receberam cheques num total de US$ 100 bilhões para aquecer o consumo.
E agora veio a injeção de até
US$ 200 bilhões para as financeiras imobiliárias.
Para o economista Ken
Goldstein, do renomado Conference Board (instituição responsável pelos principais índices de confiança do consumidor dos EUA), o pacote de domingo "foi só o primeiro passo,
não último capítulo" na reestruturação do setor de crédito
imobiliário. Em entrevista à
Folha, Goldstein disse que "vai
demorar uma década para o setor voltar ao normal. O período
mais dramático são as próximas semanas, quando será necessário observar se a taxa de
juros cobrada de empréstimos
imobiliários cairá de maneira
sustentável para níveis normais".
Ele viu como positiva a ação
do governo, pois havia um imobilismo "de quase três quartos
de século, quando essa estrutura foi montada". Agora, Goldstein avalia que um dos problemas reais terá de ser atacado.
"Tínhamos essas empresas
que recebiam altos volumes de
dinheiro subsidiado para alimentar o mercado imobiliário.
Há mais dinheiro público indo
para as pessoas comprarem casas do que para empresas fazerem investimentos. O problema é que muitos investidores
europeus e asiáticos se aproveitavam do dinheiro barato para
aplicarem no mercado imobiliário dos EUA. Agora, creio que
haverá uma discussão a respeito da utilidade de tal tipo de política", diz o economista.
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