São Paulo, terça-feira, 09 de setembro de 2008

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Mantega vê "exagero" na expansão do crédito

Para ministro, crescimento no volume de empréstimos bancários deveria cair de 30% para um intervalo entre 20% e 25%

Titular da Fazenda também diz que a piora na balança comercial e a redução do fluxo de capitais vão resolver problema do real valorizado


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que é "um pouco exagerado" o crescimento do crédito no país nos últimos meses. "O crédito subiu 30%, 32%. É um pouco exagerado. Vamos um pouco mais devagar, vamos moderar e crescer só 20% a 25%. Tá bom, né?", disse à noite, durante discurso no coquetel do seminário sobre os 200 anos de criação do Ministério da Fazenda.
Em julho, segundo os dados mais recentes do Banco Central, os empréstimos bancários feitos no país registraram alta de 32,7% em 12 meses. Com isso, o total de operações de crédito do sistema financeiro chegou a R$ 1,086 trilhão, valor equivalente a 37% do PIB. A previsão do BC é que esse número feche o ano em 40%.
Mantega também afirmou, durante o mesmo discurso, que o problema do real valorizado será resolvido com o resultado da balança comercial e a redução do fluxo de capitais para o Brasil. "Temos um câmbio flutuante. Hoje, ele está flutuando para cima", afirmou o ministro. Segundo ele, a trajetória atual é de alta na cotação do dólar, que ontem fechou a R$ 1,735.
"Temos o resultado da balança comercial [cujas importações vem crescendo num ritmo maior que as exportações] e não tem tanto capital disponível para vir para o Brasil. Então, teremos mais um problema resolvido", disse Mantega. Apesar do otimismo com o câmbio, ele afirmou que há um problema com o balanço de pagamentos: "Temos que olhar, sim, para o déficit em transações correntes. Isso é perigoso".
Conta que inclui as negociações de bens e serviços com outros países, as transações correntes têm déficit acumulado em US$ 19,512 bilhões no ano.
À tarde, no primeiro debate do seminário, organizado para exaltar o desenvolvimento econômico do país, o centro das atenções e das críticas foi a política monetária do BC.
Na véspera do primeiro dia da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), responsável por definir os juros, Delfim Netto e Luiz Carlos Bresser-Pereira, ex-ministros convidados para contar sua história à frente da pasta, aproveitaram para condenar o aumento da Selic -que deve ter amanhã, último dia da reunião do Copom, a quarta elevação do ano.
Sem citar os últimos aumentos dos juros, Mantega destacou, à tarde, o crescimento econômico de até 5% (o resultado do PIB do segundo trimestre será divulgado amanhã) e afirmou que o Brasil será o único país a cumprir a meta de inflação do ano, mantendo a variação de preços dentro do intervalo de tolerância, de dois pontos percentuais para mais, ou seja, até 6,5%.
Pela manhã, em cerimônia no Ministério da Fazenda, para descerramento de placa comemorativa dos 200 anos do Ministério da Fazenda, Mantega afirmou que o Brasil está crescendo a 5% ao ano de forma sustentável, sem gerar pressão inflacionária. O argumento do BC ao elevar os juros é exatamente o descompasso entre a oferta e a demanda.
"Eu não estou totalmente convencido do seu otimismo", disse Bresser a Mantega. Na opinião do ex-ministro, a sustentabilidade do crescimento brasileiro está ameaçada pela ortodoxia do BC.
Um dos principais conselheiros econômicos do presidente Lula, Delfim Netto, também criticou o BC. Ele disse que o produto potencial, ou seja, o limite de crescimento de um país, não existe. Por isso, não adianta o BC calcular o limite de crescimento da oferta para calibrar o aumento dos juros.


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