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Mantega vê "exagero" na expansão do crédito
Para ministro, crescimento no volume de empréstimos bancários deveria cair de 30% para um intervalo entre 20% e 25%
Titular da Fazenda também
diz que a piora na balança
comercial e a redução do
fluxo de capitais vão resolver
problema do real valorizado
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que é
"um pouco exagerado" o crescimento do crédito no país nos
últimos meses. "O crédito subiu 30%, 32%. É um pouco exagerado. Vamos um pouco mais
devagar, vamos moderar e crescer só 20% a 25%. Tá bom, né?",
disse à noite, durante discurso
no coquetel do seminário sobre
os 200 anos de criação do Ministério da Fazenda.
Em julho, segundo os dados
mais recentes do Banco Central, os empréstimos bancários
feitos no país registraram alta
de 32,7% em 12 meses. Com isso, o total de operações de crédito do sistema financeiro chegou a R$ 1,086 trilhão, valor
equivalente a 37% do PIB. A
previsão do BC é que esse número feche o ano em 40%.
Mantega também afirmou,
durante o mesmo discurso, que
o problema do real valorizado
será resolvido com o resultado
da balança comercial e a redução do fluxo de capitais para o
Brasil. "Temos um câmbio flutuante. Hoje, ele está flutuando
para cima", afirmou o ministro.
Segundo ele, a trajetória atual é
de alta na cotação do dólar, que
ontem fechou a R$ 1,735.
"Temos o resultado da balança comercial [cujas importações vem crescendo num ritmo
maior que as exportações] e
não tem tanto capital disponível para vir para o Brasil. Então,
teremos mais um problema resolvido", disse Mantega. Apesar
do otimismo com o câmbio, ele
afirmou que há um problema
com o balanço de pagamentos:
"Temos que olhar, sim, para o
déficit em transações correntes. Isso é perigoso".
Conta que inclui as negociações de bens e serviços com outros países, as transações correntes têm déficit acumulado
em US$ 19,512 bilhões no ano.
À tarde, no primeiro debate
do seminário, organizado para
exaltar o desenvolvimento econômico do país, o centro das
atenções e das críticas foi a política monetária do BC.
Na véspera do primeiro dia
da reunião do Copom (Comitê
de Política Monetária), responsável por definir os juros, Delfim Netto e Luiz Carlos Bresser-Pereira, ex-ministros convidados para contar sua história à frente da pasta, aproveitaram para condenar o aumento
da Selic -que deve ter amanhã,
último dia da reunião do Copom, a quarta elevação do ano.
Sem citar os últimos aumentos dos juros, Mantega destacou, à tarde, o crescimento econômico de até 5% (o resultado
do PIB do segundo trimestre
será divulgado amanhã) e afirmou que o Brasil será o único
país a cumprir a meta de inflação do ano, mantendo a variação de preços dentro do intervalo de tolerância, de dois pontos percentuais para mais, ou
seja, até 6,5%.
Pela manhã, em cerimônia
no Ministério da Fazenda, para
descerramento de placa comemorativa dos 200 anos do Ministério da Fazenda, Mantega
afirmou que o Brasil está crescendo a 5% ao ano de forma
sustentável, sem gerar pressão
inflacionária. O argumento do
BC ao elevar os juros é exatamente o descompasso entre a
oferta e a demanda.
"Eu não estou totalmente
convencido do seu otimismo",
disse Bresser a Mantega. Na
opinião do ex-ministro, a sustentabilidade do crescimento
brasileiro está ameaçada pela
ortodoxia do BC.
Um dos principais conselheiros econômicos do presidente
Lula, Delfim Netto, também
criticou o BC. Ele disse que o
produto potencial, ou seja, o limite de crescimento de um
país, não existe. Por isso, não
adianta o BC calcular o limite
de crescimento da oferta para
calibrar o aumento dos juros.
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