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Governo ensaia harmonia pré-Copom
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na véspera de mais uma reunião do Copom, o comitê do
Banco Central que define a trajetória dos juros, o governo ensaia um clima de harmonia econômica. O presidente do BC,
Henrique Meirelles, pavimentou o caminho com o presidente Lula para fazer o que for necessário para evitar descontrole dos preços -leia-se elevar os
juros. Lula, por sua vez, não
gosta de altas de 0,75 ponto
percentual na Selic, mas está
satisfeito com o ritmo de crescimento da economia, que traz
dividendos políticos. Enquanto
isso, Guido Mantega (Fazenda)
e sua equipe comemoram o
bom nível de atividade e o recuo da inflação.
Essa combinação que parece
agradar a todos no governo no
curto prazo, porém, depende
de fatores externos para se sustentar por mais tempo e não
convence quem acompanha as
eternas disputas da equipe econômica nos bastidores.
Para o ex-ministro Delfim
Netto, um dos consultores prediletos de Lula, "há um cabo-de-guerra entre BC e Fazenda.
E o BC, para reafirmar que é independente, precisará aumentar os juros em 0,75 ponto percentual nesta semana. Ficarei
surpreso se ele não fizer isso".
Em agosto, o IPCA ficou em
0,28%, abaixo da expectativa
do mercado. O resultado pôs
em xeque a manutenção da política de alta dos juros, que a Fazenda acha exagerada. Na ata
da última reunião, o comitê sinalizou nova alta de 0,75 ponto.
Meirelles e os diretores que o
acompanham no comitê têm
desfiado nos bastidores uma
série de motivos que justificam
aperto monetário.
Publicamente, porém, o presidente do BC se esquiva de falar sobre o assunto. Segundo a
Folha apurou, para o BC, o resultado de agosto veio "em linha com o esperado", refletindo a queda nos preços dos alimentos. Porém os demais itens
que compõem a inflação, sobretudo os preços do setor de
serviços, permanecem em alta.
Além disso, uma grande incógnita para o BC é qual será o
peso do comportamento do
câmbio para a inflação. Mesmo
se confirmado o cenário de
queda nas commodities, é preciso saber se a esperada desvalorização do real não anulará o
ganho que a redução dos alimentos poderá trazer.
A economia, avaliam os diretores do BC, deverá ter um ritmo menor, mas ainda acelerado, sustentado por ganhos salariais e mais oferta de empregos.
Como a economia brasileira
ainda é bastante fechada, o impacto da queda esperada no
crescimento mundial não deverá ter um peso muito grande.
Por isso, avaliam, não é possível descuidar da inflação, sob
pena de pagar um preço alto em
2010, às vésperas da escolha do
sucessor de Lula.
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