São Paulo, terça-feira, 09 de setembro de 2008

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Brasil e Argentina selam comércio em moeda local

Para Mantega, acordo é 1º passo para padrão monetário único no Mercosul

Trocas comerciais serão feitas em peso e real, e não mais em dólar; operação deve reduzir custos para pequenas empresas


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Após anos de negociações e ajustes, Brasil e Argentina selaram ontem o início das operações de comércio em moeda local a partir do dia 6 de outubro, o que deve reduzir custos especialmente para as pequenas e médias empresas. Com a medida, as trocas comerciais serão feitas em peso e real e não mais em dólar, como hoje.
Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Cristina Kirchner também assinaram acordos de cooperação, prevendo o lançamento de um satélite e a criação de uma binacional de enriquecimento de urânio.
Os dois países também passam a desenvolver estudos conjuntos na área de TV Digital, o que pode levar a Argentina a adotar o padrão japonês.
Lula disse que, com o comércio em moeda local, Brasil e Argentina "dão o passo inicial para uma futura integração monetária regional". Depois de consolidado, será a vez de ampliá-lo para os demais sócios do Mercosul -Paraguai e Uruguai.
Segundo Cristina, além de ser importante economicamente, a medida tem significado cultural para a integração.
"Essa relação entre Brasil e Argentina, sustentadora do Mercosul e da unidade regional, assegura que a região pode desenvolver independência econômica, tecnológica e fundamentalmente de cabeças."

Novas oportunidades
Para o ministro Guido Mantega (Fazenda), o sistema vai baratear o custo das operações, abrir novas oportunidades para empresas de menor porte e valorizar o real e o peso.
"Isso caminha, no longo prazo, em direção à moeda local, que eu acho que o Mercosul deveria ter no futuro. É um primeiro passo", afirmou, logo após a assinatura do acordo.
Segundo Mantega, o início das operações em moeda local entre Brasil e Argentina vai começar de forma experimental até que seja possível migrar totalmente para o novo sistema.
A diretora de Assuntos Internacionais do Banco Central, Maria Celina Arraes, estima em 4% a redução de custos que pode ser proporcionada às empresas que aderirem ao sistema. "O grande exportador que tiver muitos custos em dólar pode preferir continuar recebendo em dólar", ressaltou.
O BC avalia que de 10% a 20% das operações de comércio optem pela moeda local. O comércio entre os dois países movimentou US$ 24,82 bilhões em 2007 e US$ 20,53 bilhões de janeiro a agosto deste ano.
O acordo prevê a suspensão do sistema em caso de "mudança substancial adversa nas condições dos mercados financeiro ou cambial do Brasil ou da Argentina, motivada, por exemplo, por fatores naturais, políticos, sociais, econômicos ou financeiros, internos ou externos, desde que sejam de caráter extraordinário e criem obstáculos ao cumprimento normal das obrigações assumidas pelos Bancos Centrais".
Os BCs do Brasil e da Argentina, no texto, se eximem de resolver divergências entre importadores e exportadores. Quando houver controvérsias envolvendo os dois bancos, a regra prevista no acordo indica que o caso será resolvido pelo Tribunal de Olivos, a corte arbitral do Mercosul.


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