|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Vasp vai à falência e encerra atividades
Empresa terá de vender ativos que somam R$ 6,5 bilhões para pagar dívidas de R$ 3,5 bilhões; gestores vão recorrer
Juiz argumenta que plano de recuperação judicial não foi cumprido; interventor diz que decisões judiciais impediram realização do plano
Caio Guatelli - 12.jun.08/Folha Imagem
|
|
Aviões da Vasp no aeroporto de Congonhas; companhia aérea não opera vôos desde 2005 e teve sua falência decretada na quinta
MARINA GAZZONI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
A falência da Vasp foi decretada pelo juiz Alexandre Lazzarini, da 1ª Vara de Falências e
Recuperações Judiciais de São
Paulo, na última quinta-feira. A
decisão, publicada ontem, põe
fim ao processo de recuperação
judicial da companhia aérea,
iniciado em julho de 2005. Em
despacho, o juiz autorizou o administrador judicial da Vasp,
Alexandre Tajra, a vender em
leilão os ativos da empresa.
"Com a falência decretada, os
bens são arrecadados, vendidos, e o dinheiro será usado para pagar aos credores, de acordo com uma ordem de pagamento prevista em lei", disse
Lazzarini à Folha no dia 22.
Ontem, ele não se manifestou.
De acordo com funcionários
da Vasp, Tajra já lacrou a sede
da empresa e informou-lhes
que as atividades estavam encerradas. Não há informações
sobre demissões.
Sem voar desde janeiro de
2005, a única atividade operacional da Vasp era a manutenção de aeronaves, que movimentava entre R$ 300 mil e R$
500 mil por mês. Com a retomada pela Infraero dos espaços
da Vasp nos aeroportos em
agosto, esses serviços foram interrompidos. A única geração
de renda atualmente era o aluguel de cerca de cem imóveis,
que rendia R$ 200 mil ao mês,
segundo a companhia aérea.
O interventor da empresa,
Roberto de Castro, informou
que a Vasp vai recorrer da decisão. "Não faz sentido decretar a
falência de uma empresa que
tem um patrimônio líquido positivo de R$ 2 bilhões."
Segundo relatório de avaliação de maio de 2006 do escritório de perícia Jharbas Barsanti,
a Vasp tem R$ 6,5 bilhões em
ativos. A maioria deles são créditos judiciais no valor total de
R$ 5,5 bilhões. O quadro de ativos também inclui aeronaves
(R$ 16,8 milhões), imóveis (R$
65 milhões) e participação
acionária no Hotel Nacional e
na empresa de taxi aéreo Brata
(R$ 54 milhões no total).
Os passivos somam cerca de
R$ 3,5 bilhões entre dívidas
trabalhistas, fiscais e com empresas como Infraero, Banco
do Brasil e BR Distribuidora.
O interventor da Vasp, Roberto de Castro, explica que a
falência altera o quadro de credores. A dívida trabalhista, por
exemplo, hoje avaliada em R$
300 milhões, tem seu valor reduzido. A dívida fiscal da Vasp,
uma das últimas na ordem de
pagamento dos credores, está
avaliada hoje em mais de R$ 1,2
bilhão, diz Castro.
De acordo com a lei, os primeiros credores a receber são
os trabalhadores, com limite de
150 salários mínimos. Em seguida, recebem os credores
com garantia real, como os
bancos. Por último, vêm as dívidas tributárias e as demais.
Apesar de lamentar a decisão, a presidente do Sindicato
Nacional dos Aeronautas, Graziela Baggio, disse que não foi
surpreendida. "Era uma possibilidade que não descartávamos após a maioria dos credores votar a favor da falência na
assembléia de 17 de julho."
A principal justificativa de
Lazzarini na sentença do processo para decretar a falência
foi que a Vasp não cumpriu seu
plano de recuperação judicial.
O plano previa a venda de ativos e a retomada dos vôos. Castro responde que o plano não
foi cumprido porque decisões
judiciais impediram a alienação de ativos.
Para o consultor de aviação
Paulo Bittencourt Sampaio, a
crise da Vasp foi uma conseqüência de fatores como a retração nas linhas internacionais em 1999 e os altos gastos
com combustíveis provocados
pelo uso de uma frota antiga.
"A falência vai acelerar a distribuição das áreas da Vasp nos
aeroportos a outras empresas."
Texto Anterior: Comércio exterior: Balança tem saldo de US$ 295 mi na primeira semana deste mês Próximo Texto: Saiba mais: Privatização da empresa foi investigada Índice
|