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CAPITALISMO VERMELHO
País deve passar Japão e ficar atrás apenas de EUA e Alemanha; superaquecimento preocupa o governo
China fechará ano como 3º maior importador mundial
JAMES KYNGE
DO "FINANCIAL TIMES"
A China deve superar neste ano
novos marcos no caminho para se
tornar uma superpotência comercial. Pequim não só deve ter
um novo recorde no superávit comercial com os EUA como eclipsará o Japão e vai se tornar o terceiro maior importador do mundo, atrás dos EUA e da Alemanha.
Zeng Peiyan, vice-primeiro ministro chinês, anunciou nesta semana que o comércio externo do
país ultrapassaria os US$ 800 bilhões em 2003. As importações
cresceram 40,5%, para US$ 298,6
bilhões, de janeiro a setembro, e
podem atingir US$ 395 bilhões no
ano, segundo os economistas.
Mas a questão onipresente agora é: até que ponto o surto de importações chinês é sustentável?
A resposta ajudará a determinar
não só a balança da China e, portanto, o curso de sua espinhosa
relação comercial com os EUA,
mas também os preços internacionais de uma gama de metais,
minérios e outras commodities.
Reviravolta
Uma confluência de indícios,
circunstanciais e factuais, sugere
que a demanda descontrolada
por importações nos primeiros
nove meses do ano talvez comece
a se reduzir nos meses seguintes,
com o resfriamento dos investimentos em ativos fixos após uma
série de medidas tomadas para
conter o crédito e aliviar o superaquecimento da economia.
Wang Dayong, diretor do Banco de Desenvolvimento da China,
a principal agência estatal de
apoio ao desenvolvimento, disse
que as altas taxas de crédito nos
primeiros nove meses do ano começavam a perder ritmo, particularmente nos quatro grandes bancos estatais, que controlam cerca
de 60% dos ativos bancários.
Peter Marcus, diretor-executivo
da World Steel Dynamics, empresa de análise do setor siderúrgico,
disse que, ao visitar várias das
maiores siderúrgicas chinesas,
ouviu repetidas vezes que as fontes de crédito começavam a secar.
Jonathan Anderson, economista da UBS Securities em Hong
Kong, disse que o excedente de liquidez que vinha estimulando o
crescimento do crédito poderia se
esgotar, já que o Banco Popular
da China está retirando fundos do
sistema. "Se o banco sustentar essa posição, em breve veremos
uma virada no ciclo de crédito,
com desaceleração no crescimento do nível de empréstimos, investimentos e importações."
Um funcionário do Banco Popular da China informou que o
banco pretendia reduzir o crescimento nos empréstimos para 11%
no quarto trimestre, ante 19% de
janeiro até setembro, e evitar uma
crise de demanda causada pela
política monetária. Se a empreitada der resultado, pode reduzir o
investimento em ativos fixos, que
cresceu à taxa de 30% nos nove
primeiros meses do ano e conduziu a demanda por importações
de cobre, níquel, zinco, alumínio,
ferro, aço e maquinários.
Se o investimento em ativos fixos se desaquecer, como os analistas esperam, o impacto pode
ser sentido nos preços mundiais
de muitas commodities. A China
consome entre um quinto e um
terço do total comercializado no
mundo de alumina, minério de
ferro, zinco, cobre e aço inoxidável, segundo o Deutsche Bank.
A influência nos preços pode ser
acentuada caso os produtores chineses de metais tenham acumulado grandes estoques. "Isso poderia causar tremores nos mercados
mundiais de metais", disse Giles
Chance, diretor de pesquisa na
Evolution Securities de Xangai.
Otimismo
A longo prazo, funcionários do
governo chinês e analistas parecem otimistas quanto às perspectivas para os investimentos e para
a alta das importações.
Wang Mengkui, ministro do
Centro de Pesquisa e Desenvolvimento do Conselho de Estado, a
principal organização de pesquisa
do governo, disse que, nos próximos três anos, o total de importações chinesas atingiria US$ 1 trilhão, superando de longe as exportações, que, afirma, só atingiriam essa marca em 2020.
Um número crescente de funcionários do governo tem dito
que a China precisa estar preparada para combater um possível déficit comercial, talvez já em 2004.
Essa virada na política adotada
logo depois da crise asiática, de
"usar mil estratégias e 100 planos"
para estimular as exportações, deriva em parte da sensação de que
Pequim, que já conta com US$
401 bilhões em reservas cambiais,
não precisa mais se preocupar
com a segurança em conta corrente. Outro fator que estimula a
crescente aceitação das importações na China é a necessidade de
combater o cada vez maior sentimento protecionista dos EUA.
A China necessita importar
uma gama de bens de capital para
alimentar as imensas ambições
em infra-estrutura. Wang disse
que, nos próximos 17 anos, o país
planeja transferir 500 milhões de
pessoas do campo para as cidades. Elas precisarão de casa, sistema de esgoto, água, aquecimento,
transporte público, eletricidade,
telefone e outras comodidades.
Tradução de Paulo Migliaccio
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