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Dólar vai a R$ 1,77 e zera perdas no ano
Moeda sobe mais 2,13% e atinge maior cotação desde 30 de janeiro; empresas elevam procura por proteção cambial
Analista duvida que moeda
tenha força para se manter na
casa de R$ 1,80 e vê pressão
de bancos para ganharem
com saída de estrangeiros
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
A expectativa de uma saída
lenta de dinheiro de investidores estrangeiros da Bolsa, especialmente de ações ligadas ao
setor de commodities, como
Vale e Petrobras, levou ontem o
dólar a subir mais 2,13% e a bater em R$ 1,772, a maior cotação desde 30 de janeiro.
Com a alta de ontem, o dólar
praticamente zerou as perdas
no ano (ainda há queda de
0,28%). Analistas acreditam
que a moeda possa chegar a R$
1,80 nos próximos dias.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que a
desvalorização do dólar chegou
ao seu limite e a tendência agora é de alta da moeda. Para
Mantega, a queda na Bolsa é
fruto do repatriamento de capital, seja para cobrir perdas em
outros países ou porque mudaram as perspectivas para os
preços das commodities "Chegamos ao limite da valorização
do real", disse (leia à pág. B4).
No mercado, há dúvidas se
essa saída de dólares ficará restrita à Bolsa ou afetará o restante da economia. Os bancos notaram um aumento da demanda por operações de hedge
[proteção] cambial das empresas com dívida em dólar. A volta
do risco cambial -o dólar subiu
13,6% desde 1º de agosto- inviabilizou as captações externas, tornando o financiamento
em reais mais atraente.
Altair Assumpção, diretor de
Empresas Médias do Banco
Real, afirma que houve um aumento da procura por proteção
contra o aumento do dólar, mas
que os empresários continuam
tranqüilos na hora de tomar dinheiro emprestado em reais
em meio à volatilidade.
"Do ponto de vista da empresa média, o sentimento é de
tranqüilidade. Elas não são afetadas diretamente. Os desembolsos [de crédito] não são
agressivos, mas têm se mantido
altos. Talvez [o crédito] encareça mais com o Copom, mas o
reflexo não será sentido imediatamente. Já o exportador
antecipa um pouco -não tudo- o que tem a receber. Ele
espera uma valorização."
Sidnei Nehme, diretor da
corretora de câmbio NGO, é
um dos que duvidam que o dólar tenha força para se manter
na casa de R$ 1,80 por muito
tempo. Nehme vê pressão dos
grandes bancos para manterem
o câmbio elevado e ganhar mais
no caso de saída de investidores
estrangeiros. "A tesouraria está
dando uma beliscada no estrangeiro que pretende sair nos
próximos dias. Vemos movimentos muito rápidos pela manhã. A gente nota que tem alguma mão puxando a taxa. Mas
eles não acreditam que essa taxa se sustente tão alta."
Para Nehme, a maior prova
de que os agentes do mercado
não acreditam na alta do dólar é
que o BC comprou a moeda todos os dias. "O BC sanciona que
o mercado não está sob uma
pressão. Se visse pressões demasiadas no mercado, não estaria participando", disse.
A tendência de valorização
do dólar ganhou força nesta semana após a intervenção do governo americano no mercado
de hipotecas. Há uma percepção de que o governo americano fará de tudo para impedir
que a crise de crédito contamine o restante da economia.
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