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Apenas 16% dos pedidos de portabilidade têm sucesso
Anatel cobra empresas telefônicas que ainda apresentam problemas técnicos
Falhas das teles e de usuários atrasam efetivação dos pedidos e evitam que as operadoras possam incluir novos clientes em sua base
JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL
Um e-mail de Luiz Antônio
Vale Moura, coordenador-geral do GIP (Grupo de Implantação da Portabilidade) para a
ABRT, a associação que gerencia a portabilidade no país, elevou o tom da cobrança pela
qualidade do serviço que permite ao consumidor mudar de
operadora mantendo o número
do telefone, fixo ou móvel.
Na mensagem, enviada na
sexta-feira passada, Moura,
responsável pela portabilidade
na Anatel (Agência Nacional de
Telecomunicações), exige que a
ABRT seja mais rigorosa com
as companhias que ainda demoram em responder toda vez
que são solicitadas por clientes
em busca da portabilidade.
Sem a confirmação de todas
as teles, o sistema adia automaticamente a conclusão do processo. Resultado: entre 1º de setembro, data da estréia do serviço em sete Estados, e o dia 9,
só 16,3% dos 6.555 pedidos de
portabilidade foram efetivados.
Esse baixo índice inclui também as falhas ocorridas por culpa dos clientes, como os pedidos simultâneos em mais de
uma operadora e até desistências. Mesmo excluindo esses
casos, as teles operavam entre
70% e 75% de eficiência até a
manhã de ontem, índice que
chegava a 87% na última semana da fase de testes.
A implantação da portabilidade exigiu que todas as operadoras instalassem em suas redes um sistema informatizado
que permitisse receber e enviar
dados de clientes entre si a partir de uma central, que fica na
ABRT, em Brasília.
Seis vezes por dia, a associação informa os números que
estão trocando de operadora a
todas as teles (fixas e móveis).
Para que essa operação seja
concretizada, todas as companhias têm de confirmar o recebimento das mensagens da
ABRT. O problema é que muitas ainda não conseguem responder em tempo, cerca de
quatro segundos.
Dadas as dificuldades técnicas, a Folha apurou que os pedidos de portabilidade estão
sendo efetivados com reposta
positiva de 90% das teles em alguns casos, uma exceção à exigência de 100% para que o prazo de cinco dias, definido como
limite para o consumidor, não
seja desrespeitado.
Apesar de ser uma margem
considerada segura, existe
chance de que alguns números
que mudaram de operadora
não recebam chamadas.
No primeiro dia de implantação da portabilidade, só dez números foram migrados, resultado que se repetiu no segundo
dia. Entre o dia quatro e o dia
cinco, esse desempenho melhorou, passando para 230.
Segundo o regulamento da
portabilidade, definido pela
Anatel, o índice de sucesso
mensal das operadoras não pode ficar abaixo de 95%. Caso
contrário, abre-se um processo
administrativo contra as operadoras. A multa mínima é de
R$ 3 milhões.
Prevendo dificuldades, a
Anatel estabeleceu que as
maiores cidades ficariam para
a última fase da implementação da portabilidade, entre janeiro e março de 2009. Por isso, só 17,5 milhões de assinantes (9,7% do total) têm hoje
acesso ao serviço, em cidades
menores.
Mesmo assim, proporcionalmente, os pedidos diários nessas localidades estão dentro
das expectativas da Anatel, que
estima em 11,3 milhões o total
de solicitações até março de
2009, quando São Paulo e Rio
de Janeiro terão o serviço.
O e-mail enviado pela Anatel
à ABRT cobra uma postura
mais dura da associação contra
as teles que estão comprometendo a qualidade do serviço.
No último parágrafo, a agência
afirma que os atrasos não serão
mais tolerados, porque essa
prática fere a livre concorrência entre as operadoras.
Esse também é o argumento
das teles que investiram na
portabilidade, cumpriram o
prazo de implementação do
sistema definido pela Anatel.
São as que, neste momento,
mais atraem clientes.
Ganha e perde
No primeiro dia de implantação da portabilidade, a Claro
recebeu cerca de 470 pedidos
de migração. Nenhum deles foi
efetivado. A operadora continua na frente em novas adições
de clientes. Até as 17h do dia 8,
tinha recebido 2.000 pedidos
de adesão, contra 650 saídas.
Ela reclama que não é possível
incorporar esses clientes à sua
base e dar início à amortização
do investimentos realizados
até o momento.
Também a Embratel, do
mesmo grupo, tem posição parecida. A cada cliente que deixa
a operadora, outros seis são recebidos. Por isso, a companhia
teria pedido formalmente à
Anatel uma posição mais firme.
Entre as móveis, BrT (Brasil
Telecom), Vivo e TIM são as
que mais perdem clientes. Na
BrT, a cada quatro clientes que
saem, apenas um chega. Na média, a Vivo perde cinco e recebe
três, sem contar a Telemig. Na
TIM, essa proporção é de oito
contra cinco.
Na telefonia fixa, a GVT e a
Embratel estão com melhor desempenho, tomando clientes
da BrT e da Telefônica, respectivamente. A operadora espanhola é a que mais perde clientes, numa média de 36 saídas
contra uma chegada. Na BrT
esse índice é de seis contra um.
Os resultados da Oi, tanto na
móvel quanto na fixa, estão
praticamente empatados. A
companhia foi advertida na
sexta-feira passada pelo grupo
especial da Anatel, que faz auditoria nas teles, porque o software da Oi que "lê" as mensagens da ABRT não estava funcionando adequadamente. O
problema só não ocorria quando a companhia era informada
dos números "portados" entre
concorrentes.
Para funcionar perfeitamente, o sistema da portabilidade
exige que todas as teles estejam
com as redes em ordem. Muitas
relutaram em implantar o sistema porque elas estariam investindo em algo que poderia
acarretar mais perdas do que
ganhos de clientes.
Segundo a Anatel, a portabilidade está prevista desde 1997.
Há três anos, as teles deveriam
ter implantado o sistema, mas
conseguiram o adiamento.
Desta vez, elas sabiam há mais
de um ano que teriam de oferecer o serviço com qualidade. E é
isso o que a agência está cobrando neste momento.
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