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LIÇÕES CONTEMPORÂNEAS
Vive la difference
ALOIZIO MERCADANTE
Ainda embalado pela nostalgia do Real e sentindo as
mesmas dores do isolamento por
que fez passar seu antecessor, já
que não foi acionado por seus antigos correligionários para contribuir na atual campanha, Fernando Henrique Cardoso reaparece
no cenário eleitoral de 2004 declarando seu voto no dia da eleição e também lançando um desafio ao atual governo, veiculado
pela mídia. Quer o ex-presidente
uma comparação entre o período
inicial de seu governo e o do governo Lula. Não há por que não
fazê-la, apesar do tom rancoroso
e agressivo adotado por FHC contra o PT e o nosso governo.
FHC foi eleito presidente em
1994 na esteira do sucesso do Plano Real. Menos lembrado -ingratidão histórica- é que o responsável político por esse divisor
de águas foi o presidente Itamar
Franco. Mas não se pode retirar
dos seus ministros da Fazenda,
antes e depois do lançamento da
nova moeda, o mérito de terem
preparado a economia para a reforma monetária e a implementado com diligência e favorecidos
pela desinflação em escala planetária que, de uma média de 30%
em 1994, cai para 4% em 2003,
conforme estudos realizados por
Kenneth Rogoff com base em dados de 134 países.
Os primeiros 18 meses de FHC
foram marcados por uma guinada na trajetória inicial do Plano
Real. Itamar Franco entrega a
administração com um PIB crescendo 10,7% no último trimestre
de 1994 (IBGE), taxa de desemprego em queda e forte geração de
empregos no comércio e nos serviços. Em março de 1995, o governo
FHC, já sofrendo os primeiros sinais da vulnerabilidade externa
provocada pela âncora cambial,
reage à crise do México corrigindo levemente o câmbio, cortando
o crédito e iniciando uma escalada nas taxas de juros reais. Já no
final de 1995, o PIB trimestral
caía 1,7% e assim permaneceu
por dois períodos. No mês seguinte tem início o mais longo processo de queima de postos de trabalho industriais da história do
país. O emprego industrial caiu
10,5% até junho de 1996 e 30,67%
até dezembro de 2002 (Fiesp). As
taxas de desemprego na Grande
São Paulo subiram 28,6% nos primeiros 18 meses e 46,8% em oito
anos (Dieese/Seade). O ponto positivo no período foi a recuperação dos rendimentos reais e do salário mínimo propiciada pelo
crescimento inicial da economia e
pela desinflação. No entanto,
após 1996, inicia-se uma queda
contínua dos rendimentos que
cancelaram os ganhos iniciais do
Plano Real.
Houve um ajuste brutal de preços relativos na economia do
Real, impulsionado pela intensa
desnacionalização dos serviços
públicos. Enquanto o IPCA/IBGE
subia 30,4% (janeiro de 95 a junho de 96), as tarifas de telefone
subiam 114,74%, e os aluguéis,
177,33%. Naquele momento, as
tarifas de luz e gás ainda não haviam disparado, o que ocorreu
posteriormente. O IPCA subiu
100,72%, e o salário mínimo,
85,70%; a conta de luz básica subiu 173,2%, o gás de botijão,
522,02%, e as contas de telefone,
603,9% em oito anos (Dieese).
O governo Lula não assumiu
com um quadro de expansão econômica, de empregos e de rendimentos. Pelo contrário, o crescimento do PIB em 2002 foi de 1,9%
e, no último trimestre, estava em
0,2%. O desemprego continuava
crescendo e o emprego industrial
e os rendimentos reais caindo
desde o final de 1996.
Enquanto FHC gerou um déficit em transações correntes de
US$ 26 bilhões nos 18 meses iniciais (US$ 186 bilhões em oito
anos), o governo Lula gerou um
superávit de US$ 8,5 bilhões. Enquanto FHC aumentou as exportações em 10% no período em
questão (38,6% em 96 meses, ou
oito anos), Lula aumentou
38,15% em 18 meses. Enquanto
FHC aumentou a dívida líquida/
PIB em 7,8% (85% em oito anos),
Lula praticamente estabilizou esse indicador -crescimento de
0,58% em 18 meses.
Com Lula, o mercado de trabalho começa a mostrar recuperação após anos de regressão. Foi
gerado 1,466 milhão de postos formais de trabalho (Caged/ MTE).
Mais de 79% das categorias profissionais, segundo o Dieese, conseguiram reajustes iguais ou superiores ao INPC no primeiro semestre de 2004 e os rendimentos
reais cresceram 5% na região metropolitana de São Paulo após
anos em queda (Dieese/Seade).
Esses são alguns elementos de
comparação que atendem ao desafio proposto por FHC. Este espaço é insuficiente para avaliações mais amplas, no entanto estamos dispostos a realizá-las, neste ou em qualquer outro fórum,
pois nossa postura não é a de interditar a reflexão pública sobre
as grandes questões nacionais
nem a de difundir um pensamento único, como foi a atitude constante nos mandatos de FHC.
Aloizio Mercadante, 50, é economista e
professor licenciado da PUC e da Unicamp, senador por São Paulo e líder do
governo no Senado Federal.
E-mail - mercadante@mercadante.com.br
Internet: www.mercadante.com.br
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