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Produtor de açúcar diz que preço
tem de subir mais devido ao dólar
DA REPORTAGEM LOCAL
O aumento no preço do açúcar
deveria ser até maior. A opinião é
de Eduardo Pereira de Carvalho,
62, presidente da Unica (União da
Agroindústria Canavieira de São
Paulo). Carvalho, que é diabético,
teve noção exata da disparada no
preço do produto na semana passada. "Decidi passar no supermercado para ver, e o preço subiu
mesmo. Mas subiu porque precisava", diz.
Para acompanhar a atual disparada no dólar (o produto tem cotação em moeda estrangeira), e
para seguir o aumento na cotação
nas Bolsas no exterior, o reajuste
deveria superar os 77%, diz.
Sem meias palavras, Carvalho
diz que a negociação com o varejo
é um jogo "em que às vezes estamos por cima, às vezes por baixo". Leia trechos da entrevista.
Folha - O consumidor pode esperar por mais reajustes ou pela falta
de açúcar nas lojas?
Eduardo Pereira de Carvalho - Há
demanda no mercado interno e
há açúcar, então isso vai se resolver. Não é verdade que estamos
exportando tudo agora e falta
açúcar. O que o setor tinha de enviar para fora já enviou. Exportamos, em média, 60% do que produzimos. E isso não subiu. Os outros 40% é produção para atender
à demanda interna. A verdade é
que, nos últimos três anos, o setor
aumentou a produção, reduziu o
endividamento e os lucros subiram. E isso nos tornou mais competitivos, deixamos de ser um setor frágil, que aceita tudo.
Folha - O setor "aceitava tudo" e
agora quer se fazer ouvir pelo varejo? Qual o custo disso para o consumidor?
Carvalho - Não é isso. Em 1999,
metade das nossas indústrias de
açúcar refinado quebraram. Sabe
por quê? Não é "bolinho" enfrentar Pão de Açúcar e Carrefour,
não. Agora que estamos numa situação favorável, podendo exportar, vamos aproveitar o momento, como já fizemos e exportamos.
Não é revanche. Isso é mercado. O
mercado funciona assim. Às vezes
estamos por cima, às vezes por
baixo. Eu aprendi isso e essa é a
graça, a beleza do jogo. Os aumentos pedidos são necessários.
Folha - O varejo diz que o aumento proposto, de 77%, é abusivo. E
que o setor é extremamente concentrado, o que torna difícil a negociação. Como o senhor vê isso?
Carvalho - No final do primeiro
semestre havia queda na cotação
internacional do produto. De junho para cá, o preço subiu 30% na
Bolsa de Nova York. Além disso,
ainda há o dólar, com valorização
perto de 50%. Você pega tudo isso
e não dá outra: o aumento deveria
ser até maior do que o setor propôs, de 77%. Se há poucos fabricantes de açúcar refinado, é porque a operação é de baixa rentabilidade, ao contrário do que acontece com o açúcar cristal, em que
temos mais de 300 fornecedores.
Concentrado está o varejo, isso
sim.
Folha - A indústria não teme ficar
com a imagem de "vilã" nesse embate com o varejo por reajustes de
preços? Afinal, os avisos nas lojas
jogam a "culpa" do aumento no fabricante.
Carvalho - O consumidor não está vendo essa situação com bons
olhos. Pode ter certeza disso. Ele é
esperto, pesquisa, compara, sabe
quem está fazendo jogo de cena.
"Vilão" será sempre quem aumentou o preço e o cliente sabe
que quem aumenta o preço é a indústria. O varejo não aumenta o
preço. Ele aumenta sua margem
ou não a reduz quando não quer.
Isso, pode ter certeza de que o
consumidor sabe. Essa atitude de
colocar avisos sobre a dificuldade
de negociar com a indústria é parte do jogo. Afinal, quem mais entende de varejo nesse país? Quem
transformou uma padaria no
maior supermercado do país? O
Abílio Diniz (presidente do grupo
Pão de Açúcar). Essa ação de
ameaçar informar o consumidor
do reajuste faz parte do jogo dele.
Folha - Se falta açúcar e a indústria demora a negociar novas entregas, ela perde venda. E as marcas perdem participação de mercado. Isso não preocupa?
Carvalho - Açúcar todo mundo
tem de comprar. Não tem essa de
ficar sem o produto por dois ou
três meses. Se as empresas perderem venda, bem, isso é um risco.
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