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Para não ser vilão, Sendas diz que aceita vender com margem zero
DA REPORTAGEM LOCAL
"O cliente não acha que é a Nestlé que está aplicando um aumento abusivo. Ele pensa que é a rede
Sendas. É normal que a possível
indignação do consumidor atinja
a imagem do varejo. Não queremos ser vilões."
A avaliação é de Nelson Sendas,
40, herdeiro da rede Sendas, a
quinta maior do país, com faturamento superior a R$ 2,5 bilhões
por ano.
Na última semana, a rede colocou um aviso em seu site na internet informando que "devido aos
aumentos de alguns de nossos
fornecedores poderão faltar mercadorias em nossos estoques".
A medida foi malvista pela indústria, mas Sendas não parece
preocupado com isso.
A seguir, os principais trechos
da entrevista.
Folha - O dólar sobe há meses e o
preço dos alimentos dispara. É a indústria que aproveita o momento
para subir demais os preços ou o
varejo que não quer reduzir sua
margem?
Nelson Sendas - De maneira nenhuma acreditamos que a indústria age de má-fé. Até porque
quem age assim não vai muito
longe.Tivemos aumento de enlatados por conta da subida do alumínio, que é cotado em dólar. O
leite também tem os custos atrelados ao dólar, assim como o açúcar
e a farinha de trigo. Mas não dá
para mandar subir o preço do leite em 10% porque a indústria aumentou. Por isso, podemos até
trabalhar com margem zero, dependendo do produto. Somos a
ponta do mercado, somos nós
que mantemos contato direto
com o cliente. Por isso, essa ação
de barrar reajustes tem de ser nossa. Temos olhado aumento por
aumento.
Folha - No início dos anos 90 o varejo ganhou a imagem de vilão. Os
preços subiam, e o consumidor passou a crer que era a loja que os aumentava. Agora, o varejo vem a público dizer ao consumidor que é a
indústria que pede altos reajustes.
O que mudou?
Sendas - Não queremos ser vilões. Mas isso é complicado. O
cliente não acha que é a Nestlé que
está aplicando aumento abusivo.
Ele pensa que é a rede Sendas. É
normal que a possível indignação
do consumidor atinja a imagem
do varejo. Por essa razão, somos
nós que temos de ter uma atitude
muito mais pró-ativa do que a indústria. Não condeno essa atitude. Essa forma de mostrar ao
cliente o que está acontecendo,
por meio de avisos, é transparência.
Folha - Há risco de uma disparada
da inflação?
Sendas - Achamos que os preços
já chegaram ao pico e agora a tendência é de queda. Com a retração
recente na cotação do dólar, acreditamos que isso irá se refletir no
valor de alguns produtos. Principalmente por causa da demanda,
que anda devagar.
Folha - Há a possibilidade de a rede Sendas impor limites de venda
de açúcar e de outros produtos em
suas lojas, caso a dificuldade de negociar com a indústria cresça e faltem produtos?
Sendas - Produto não vai faltar.
Pelo menos se depender da gente.
Hoje não estamos determinando
limites para a compra, mas no futuro podemos fazer isso. Pensamos em algumas maneiras de evitar que as pessoas comprem para
revenda e para simples estoque
em casa. Até porque isso não faz
sentido. Estocar produtos agora,
remetendo à época da inflação na
casa dos 80%, é um absurdo. Ao
percebemos que há correria nas
lojas, estudamos a possibilidade
de impor limites na hora da compra passar pelo caixa.
Folha - Como está a negociação
com a indústria? Teremos mais aumentos?
Sendas - Temos um estoque razoável, regular. Não há excesso.
Mas não está nada fácil negociar
mesmo. Costumo dizer que esse
assunto não tem mais graça. É
desgastante e estressante. Para o
açúcar, por exemplo, estamos
aceitando reajuste em torno de
45%, que é o que dá para negociar. Mesmo assim, é alto. Com taxa perto disso, a gente precisa
pensar na possibilidade de trabalhar com margem zero no produto. Repassar para o consumidor
só o aumento da indústria.
(AM)
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