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Estimativa de crescimento para 2005 cai de 3,9% para 3,5%
Crise política abala confiança dos analistas na economia
DA REPORTAGEM LOCAL
A recente crise política e a conseqüente lentidão com que o governo toca seu programa de reformas neste ano caíram como um
balde de água fria sobre o bom
humor do mercado financeiro em
relação ao PT, verificado em 2003.
Críticas mais veementes e sinais
de preocupação começam a surgir em relatórios de bancos e em
conversas com economistas-chefes e diretores das principais instituições financeiras.
Isso tem se refletido de forma
crescente nas projeções do mercado para o fôlego da economia.
Entre a última semana de janeiro
deste ano e a semana passada, a
estimativa de crescimento do PIB
(Produto Interno Bruto) em 2005
caiu de 3,9% para 3,5%.
"Os acontecimentos recentes e a
reação do mercado indicam que,
talvez, o melhor de tudo tenha ficado para trás. Isso não quer dizer
que essa situação não possa se inverter novamente. Mas o cenário
atual traz motivos para preocupação", diz José Antonio Pena, economista-chefe do BankBoston.
Segundo Pena, embora a crise
detonada por denúncias de corrupção envolvendo um ex-funcionário direto do ministro José
Dirceu (Casa Civil) tenha perdido
a força, há outros sinais de instabilidade política no caminho, como greves de várias categorias de
servidores públicos. Um dos riscos, segundo ele, é o de que a concessão de aumentos muito acima
do previsto comprometam planos de investimento em 2004.
"Acho que o governo manterá o
compromisso com o ajuste fiscal.
O risco é ter de cortar investimentos para compensar outros gastos.
Por esses motivos, vejo 2005 com
menos otimismo", afirma Pena.
O mesmo tom de preocupação
aparece em um relatório novo do
HSBC sobre a América Latina.
Embora elogie a politica macroeconômica do governo, o banco
ressalta que, sozinha, ela não será
capaz de fazer o país retomar o
crescimento sustentado. O relatório afirma que a recente aliança
entre o presidente Lula e os senadores José Sarney (PMDB-AP) e
Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), cujo objetivo foi aplacar a
crise política, pode favorecer interesses regionais em detrimento da
agenda de reformas do governo.
O banco lembra que essa mesma
aliança teve efeitos nocivos sobre
a administração anterior.
Segundo Paulo Vieira da Cunha, diretor e economista-chefe
para a América Latina do HSBC,
em Nova York, o governo não
tem um programa de desenvolvimento que permita aumentar
drasticamente a produtividade da
economia brasileira e pavimentar
o caminho para que o país possa
crescer a taxas de 5% a 6% ao ano.
"O problema é que o governo
talvez se contente com taxas de
crescimento de 3% a 3,5% ao ano,
que, embora baixas, são melhores
que as dos últimos anos", afirma
Vieira da Cunha. "Talvez isso seja
suficiente para o governo realizar
seu projeto político de reeleição.
O problema é que essas taxas são
muito baixas para atender as necessidades do país."
Emissões
A apreensão dos bancos e de investidores já pôde ser sentida pelo
setor privado brasileiro. Entre os
doze países que fizeram operações de emissão de títulos no exterior para levantar recursos, o Brasil foi o que menos fechou negócios entre meados de fevereiro e o
fim de março, segundo dados da
consultoria norte-americana
Thomson Financial. Foram apenas três operações. No mesmo período, empresas e o governo de
Taiwan e da Coréia do Sul conseguiram realizar, respectivamente,
30 e 36 captações externas.
No primeiro trimestre, o Brasil é
o sexto país emergente que mais
realizou captações -15, no total.
Nas últimas duas semanas, empresas e bancos brasileiros, como
Vale do Rio Doce e Bradesco, voltaram a captar recursos no mercado externo. Agora, há a expectativa de que o próprio governo
anuncie nova emissão de títulos.
Mas, segundo analistas, essa retomada de fôlego pode ter vida
curta em conseqüência da expectativa de que os juros norte-americanos subam neste ano.
Essa perspectiva e a paralisia do
governo no que se refere ao andamento das reformas são as principais causas do temor do mercado
em relação ao Brasil.
(ÉRICA FRAGA)
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