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Setor privado irá gastar mais com dívida externa
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os gastos do setor privado com
pagamentos da dívida externa devem chegar a US$ 33,3 bilhões
neste ano, crescimento de 50%
sobre 2003, segundo o Banco
Central. O endividamento do país
no exterior ainda é apontado como uma das principais vulnerabilidades da economia brasileira e
pode se tornar um problema no
caso de uma crise internacional.
"Não dá para dizer que se trata
de uma tendência. Devido ao perfil da dívida contraída recentemente, coincidiu de, neste ano,
concentrar um volume maior de
vencimentos", diz a economista
Leda Paulani, professora da Universidade de São Paulo. "Mas a
vulnerabilidade externa do Brasil
permanece", completa.
Um dos principais riscos, segundo Paulani, está na possibilidade de os juros norte-americanos serem elevados. Esse aumento ocorreria para evitar que o
crescimento da economia dos
EUA gere pressões inflacionárias.
Com isso, os investidores internacionais iriam preferir direcionar suas aplicações para os EUA,
onde obteriam uma rentabilidade
um pouco melhor.
"O aumento das taxas de juros
norte-americanas vai acontecer
em algum momento. Se for neste
ano, vai pegar o Brasil num momento ruim", diz. Apesar disso,
diz Paulani, a melhora nos saldos
da balança comercial observada
desde o ano passado deve ajudar a
amortecer um eventual choque.
Relatório enviado a investidores
na semana passada pela agência
de classificação de risco Standard
& Poor's voltou a alertar para os
problemas das contas externas
brasileiras. "Os indicadores externos do Brasil são mais fracos do
que o de outros países semelhantes", diz o documento.
"De forma geral, a capacidade
do Brasil de conseguir empréstimos é limitada pelos fracos indicadores externos do país. Os gastos do Brasil com a dívida externa
estão entre os mais altos [dos países analisados pela S&P]", afirma
o relatório.
A dificuldade do país em financiar seus compromissos externos
foi o principal problema causado
pela crise enfrentada pelo país em
2002. Às vésperas das eleições,
muitos bancos se negaram a emprestar dinheiro para as empresas
brasileiras, que se viram obrigadas a enviar dólares para fora para
pagar suas dívidas. A fuga de recursos levou à disparada do dólar,
que, por sua vez, pressionou a inflação e fez com que o BC, na ocasião, elevasse as taxas de juros.
O economista Antônio Corrêa
de Lacerda, presidente da Sobeet
(Sociedade Brasileira de Estudos
de Empresas Transnacionais e da
Globalização Econômica), concorda com a avaliação de que a
vulnerabilidade do Brasil persiste.
"Mas, num cenário internacional
de baixos juros, a situação é relativamente tranqüila", afirma.
Lacerda diz, porém, que outros
dois fatores também podem afetar o financiamento da dívida externa brasileira: a crise política enfrentada pelo governo com o caso
Waldomiro Diniz e a instabilidade gerada por atentados terroristas como o ocorrido em Madri.
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