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CONTAS EXTERNAS
Em março, empresas pagaram dívidas de US$ 389 mi com ações; valor é computado como "dólar produtivo"
Investimento direto é menor que o anunciado
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A queda no fluxo de investimento direto estrangeiro no mês
de março foi ainda pior que a oficialmente anunciada.
Há duas semanas, o Banco Central divulgou que o investimento
direto estrangeiro (IDE) em março fora o menor em oito anos, de
apenas US$ 284 milhões.
No entanto, a situação é mais
drástica, como apurou a Folha
com base em números do próprio
BC. Isso porque o valor divulgado
pelo governo inclui a entrada de
recursos provenientes da conversão de dívidas do setor privado
em investimento. Uma forma de
essa operação ser realizada é a seguinte: uma empresa que tem
uma dívida com um credor no exterior usa suas próprias ações, em
vez de dinheiro, para pagá-la.
Esse tipo de operação, conhecida como conversão, ajuda a inflar
o resultado do IDE, sem representar entrada de dinheiro novo.
Movimento típico em períodos
de crise, as conversões mensais
superaram o investimento direto
apenas outras duas vezes desde
95. Em março último, elas registraram US$ 389 milhões.
O IDE só não foi mais inflado
pelas conversões porque houve
saída de recursos por empréstimos entre companhias -outro
dado que entra na contabilidade
dos investimentos diretos.
"O investimento direto estrangeiro novo é fundamental para
ampliar a capacidade produtiva.
No fundo, o resultado registrado
como conversão se refere a dinheiro que já havia entrado no
país e deveria sair quando a dívida
fosse paga", diz Antônio Corrêa
de Lacerda, presidente da Sobeet
(Sociedade Brasileira de Estudos
de Empresas Transnacionais e da
Globalização Econômica).
"Diante da iliquidez do mercado financeiro, muitas empresas
acham melhor optar pela conversão da dívida do que não fazer nada", diz Lacerda.
O volume de conversões havia
superado o investimento direto
em julho do ano passado, quando
secou o crédito internacional para
o país, obrigando muitas empresas a quitarem suas dívidas.
Sem ritmo
Fernando Ferreira, diretor da
consultoria GlobalInvest, aponta
as perspectivas de crescimento da
economia como principal foco de
quem pretende investir no país.
"O investidor estrangeiro não vai
querer trazer dinheiro para cá se
não acreditar em crescimento forte e sustentado da economia",
afirma Ferreira.
As projeções do mercado em relação ao tema não são animadoras. Último levantamento do Banco Central com instituições financeiras mostra que a expectativa é
que o PIB (Produto Interno Bruto) registre crescimento neste ano
de apenas 1,9%.
Já no mercado financeiro, o capital estrangeiro tem tido destaque relevante.
Na Bolsa de Valores de São Paulo, o saldo entre compras e vendas
de ações por estrangeiros está positivo em mais de R$ 1,5 bilhão.
Na colocação de US$ 1 bilhão em
títulos no mercado internacional
há poucos dias, o governo brasileiro se deparou com uma demanda seis vezes superior ao
ofertado. Os C-Bonds, papéis da
dívida brasileira mais negociados
no exterior, atingiram seu valor
recorde. Mas, diferentemente do
IDE, esse capital é extremamente
volátil. Com a mesma velocidade
com que entra, pode deixar o país
e os ativos brasileiros.
"O IDE é caracteristicamente de
volatilidade menor, por isso é preferível ao capital que é direcionado ao mercado de títulos", afirma
Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Unibanco. "Com
o fim do período das grandes privatizações, a média de entrada de
IDE vai se estabilizar em um nível
inferior ao registrado no final da
década de 90 e no ano 2000."
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