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CONTAS EXTERNAS
Estimativa era que investimentos alcançassem US$ 16 bilhões no ano, mas já há quem fale em US$ 8 bilhões
Mercado e governo já admitem fluxo menor
DA REPORTAGEM LOCAL
O mercado nunca esteve tão
pessimista em relação à entrada
de investimento direto estrangeiro no país neste ano.
Segundo o boletim Focus, elaborado pelo Banco Central, a média das expectativas das principais instituições financeiras que
operam no país é que aporte neste
ano US$ 12,3 bilhões em investimento direto estrangeiro. No fim
de março, essa projeção girava em
torno de US$ 13,4 bilhões.
Para Alexandre Schwartsman,
economista-chefe do Unibanco,
essa expectativa ainda é otimista
demais. "Nosso prognóstico é que
o investimento direto estrangeiro
fique entre US$ 8 bilhões e US$ 10
bilhões neste ano", afirma
Schwartsman.
O governo também está cada
vez mais pessimista. Na sexta-feira passada, o diretor de Política
Econômica do Banco Central,
Ilan Goldfajn, admitiu que os investimentos diretos estrangeiros
podem encerrar o ano em um nível ainda menor que os US$ 13 bilhões da última estimativa do governo, ficando entre US$ 11 bilhões e US$ 12 bilhões.
No início do ano, o governo estimava que a economia brasileira
poderia alcançar os US$ 16 bilhões em IDE, nível muito próximo dos US$ 16,6 bilhões registrados em 2002.
Na avaliação de economistas e
analistas consultados pela Folha,
o cenário internacional neste ano
-marcado por baixas expectativas de crescimento, além da guerra entre Estados Unidos e Iraque- ajudou a motivar a revisão
dos números de forma negativa.
Dificuldades
Além de esperar poder contar
com um volume menor de dólares em investimentos vindos do
exterior, o setor privado voltou
em março a se deparar com um
outro problema: a dificuldade para rolar as parcelas de vencimentos de suas dívidas com os credores internacionais.
Em junho do ano passado, o setor privado passou a ter drásticas
dificuldades para conseguir rolar
suas dívidas no mercado externo.
De um percentual de rolagem
de dívida que chegou a quase
100% em 2001, as empresas se depararam com uma nova realidade
em junho, quando apenas 22%
dos vencimentos foram renovados. Em todo o ano passado, o setor privado conseguiu renovar
apenas 43% das parcelas de seus
débitos externos que venceram.
Crédito
Em março, último dado disponibilizado pelo BC, esse percentual de rolagem voltou a ser pífio:
foi de apenas 26% das dívidas que
venceram.
Sem conseguir renovar suas dívidas, uma alternativa para as empresas é fazer a conversão. Por essa operação, as dívidas são convertidas em investimento. Isso
pode ser feito com a empresa dando ações para quitar parte de seus
débitos.
A conversão de dívidas em investimentos não é considerada de
todo má por economistas e analistas financeiros ouvidos pela Folha. Se, por um lado, as conversões inflam o resultado do investimento direto estrangeiro, criando
a ilusão de que dinheiro novo está
entrando no país, por outro representam para as contas externas do país uma saída menor de
dólares, que seriam usados para
quitar débitos no exterior.
Câmbio
Indiretamente, o câmbio também é favorecido, pois quando
uma empresa ou instituição financeira têm de pagar uma dívida
no exterior têm de comprar dólares no mercado, o que aumenta a
pressão sobre o dólar.
"A tendência é ter havido também no mês passado um montante grande de investimento direto
originário de conversões de dívida. Isso reflete a crise de liquidez
do mercado internacional, que
ainda não foi superada", afirma
Antônio Corrêa de Lacerda, presidente da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas
Transnacionais e da Globalização
Econômica).
(FABRICIO VIEIRA)
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