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São Paulo, domingo, 11 de maio de 2003

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CONTAS EXTERNAS

Estimativa era que investimentos alcançassem US$ 16 bilhões no ano, mas já há quem fale em US$ 8 bilhões

Mercado e governo já admitem fluxo menor

DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado nunca esteve tão pessimista em relação à entrada de investimento direto estrangeiro no país neste ano.
Segundo o boletim Focus, elaborado pelo Banco Central, a média das expectativas das principais instituições financeiras que operam no país é que aporte neste ano US$ 12,3 bilhões em investimento direto estrangeiro. No fim de março, essa projeção girava em torno de US$ 13,4 bilhões.
Para Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Unibanco, essa expectativa ainda é otimista demais. "Nosso prognóstico é que o investimento direto estrangeiro fique entre US$ 8 bilhões e US$ 10 bilhões neste ano", afirma Schwartsman.
O governo também está cada vez mais pessimista. Na sexta-feira passada, o diretor de Política Econômica do Banco Central, Ilan Goldfajn, admitiu que os investimentos diretos estrangeiros podem encerrar o ano em um nível ainda menor que os US$ 13 bilhões da última estimativa do governo, ficando entre US$ 11 bilhões e US$ 12 bilhões.
No início do ano, o governo estimava que a economia brasileira poderia alcançar os US$ 16 bilhões em IDE, nível muito próximo dos US$ 16,6 bilhões registrados em 2002.
Na avaliação de economistas e analistas consultados pela Folha, o cenário internacional neste ano -marcado por baixas expectativas de crescimento, além da guerra entre Estados Unidos e Iraque- ajudou a motivar a revisão dos números de forma negativa.

Dificuldades
Além de esperar poder contar com um volume menor de dólares em investimentos vindos do exterior, o setor privado voltou em março a se deparar com um outro problema: a dificuldade para rolar as parcelas de vencimentos de suas dívidas com os credores internacionais.
Em junho do ano passado, o setor privado passou a ter drásticas dificuldades para conseguir rolar suas dívidas no mercado externo.
De um percentual de rolagem de dívida que chegou a quase 100% em 2001, as empresas se depararam com uma nova realidade em junho, quando apenas 22% dos vencimentos foram renovados. Em todo o ano passado, o setor privado conseguiu renovar apenas 43% das parcelas de seus débitos externos que venceram.

Crédito
Em março, último dado disponibilizado pelo BC, esse percentual de rolagem voltou a ser pífio: foi de apenas 26% das dívidas que venceram.
Sem conseguir renovar suas dívidas, uma alternativa para as empresas é fazer a conversão. Por essa operação, as dívidas são convertidas em investimento. Isso pode ser feito com a empresa dando ações para quitar parte de seus débitos.
A conversão de dívidas em investimentos não é considerada de todo má por economistas e analistas financeiros ouvidos pela Folha. Se, por um lado, as conversões inflam o resultado do investimento direto estrangeiro, criando a ilusão de que dinheiro novo está entrando no país, por outro representam para as contas externas do país uma saída menor de dólares, que seriam usados para quitar débitos no exterior.

Câmbio
Indiretamente, o câmbio também é favorecido, pois quando uma empresa ou instituição financeira têm de pagar uma dívida no exterior têm de comprar dólares no mercado, o que aumenta a pressão sobre o dólar.
"A tendência é ter havido também no mês passado um montante grande de investimento direto originário de conversões de dívida. Isso reflete a crise de liquidez do mercado internacional, que ainda não foi superada", afirma Antônio Corrêa de Lacerda, presidente da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica).
(FABRICIO VIEIRA)


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