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ESTRANGULAMENTO
Movimento no cais de Santos vem crescendo a taxas superiores a 11% ao ano; estrutura está abandonada
Gargalo no porto já ameaça as exportações
FAUSTO SIQUEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS
A combinação entre movimentação crescente de cargas e ausência de investimentos em infra-estrutura ameaça transformar o
principal porto do país em um
gargalo para as exportações brasileiras.
Responsável por 26% do comércio exterior do país, o porto
de Santos (SP) começou a sentir
mais intensamente os efeitos de
dois anos consecutivos de crescimento a taxas superiores a 11%.
Em 2001, o porto de Santos movimentou 48,1 milhões de toneladas, 11,8% a mais do que no ano
anterior. No ano passado, o movimento alcançou 53,4 milhões de
toneladas, 11,03% a mais que em
2001. Comparado com o mesmo
período do ano passado, o primeiro trimestre deste ano registrou aumento de 16,32% no fluxo
de mercadorias.
O crescimento no movimento
contrasta com o histórico abandono da estrutura viária do porto
por parte do governo federal,
acionista majoritário (possui
99,97% das ações) da Codesp
(Companhia Docas do Estado de
São Paulo), estatal administradora do cais santista.
Desde março, o escoamento da
safra de soja adicionou pelo menos mil novos caminhões por dia
ao movimento do porto e provocou filas nas vias de acesso ao cais,
devido à falta de áreas para estacionamento na faixa portuária.
A partir desta semana, a Codesp
espera a chegada por dia de mais
mil a 1.200 caminhões carregados
com açúcar. De acordo com dados da Unica (União da Agroindústria Canavieira de São Paulo),
cerca de 60% do açúcar brasileiro
exportado é enviado para o exterior a partir de Santos.
Mesmo com a queda na produção nacional -nesta safra, a indústria canavieira deu preferência
ao álcool-, os embarques de
açúcar deverão pelo menos igualar os 8 milhões de toneladas do
ano passado, segundo previsão da
Codesp. No caso da soja, a parcela
exportada por Santos deverá atingir 10 milhões de toneladas, 2,2
milhões a mais que em 2002.
Espera
Segundo o Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens da Baixada Santista,
representante dos caminhoneiros, cada veículo que atualmente
chega ao porto espera de 24 a 36
horas para descarregar.
"Estamos à beira de um colapso.
Chegam mil por dia e desembarcam 600. Sempre sobram 400 para o dia seguinte. Hoje, temos na
rua um shopping center a céu
aberto para o bandido escolher o
caminhão que quer levar", reclama o presidente do sindicato, Heraldo Gomes de Andrade.
De acordo com ele, a situação se
agrava com os períodos de chuva
-que, nos casos da soja e do açúcar, exigem a interrupção dos embarques nos navios devido ao risco de a mercadoria se deteriorar.
"O principal gargalo do porto
de Santos é o sistema viário. Se
continuarmos com esse crescimento brutal de movimentação,
teremos problemas no futuro. É
necessário um planejamento
mais adequado do governo", afirmou Carlos Eduardo Bueno Magano, presidente do Sopesp (Sindicato dos Operadores Portuários
do Estado de São Paulo), representante das empresas que executam os serviços de operação de
carga no cais.
À espera das obras
Desde a gestão Fernando Henrique Cardoso, o governo federal
acena com a construção de avenidas perimetrais nas margens esquerda (Guarujá) e direita (Santos) do porto, promessa reafirmada pelo atual ministro dos Transportes, Anderson Adauto, que incluiu a obra, orçada em R$ 350
milhões, entre as prioridades de
sua pasta. O objetivo é agilizar a
chegada das cargas ao porto, que
ficará ainda mais facilitada após a
conclusão da obra do Rodoanel,
em São Paulo.
Para o sindicalista Andrade, porém, as avenidas perimetrais somente agravarão os problemas se
antes não forem implantados estacionamentos. "Nas condições
atuais, sou contra a Perimetral.
Não haverá onde colocar tantos
caminhões", disse.
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