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São Paulo, domingo, 11 de maio de 2003

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ESTRANGULAMENTO

Movimento no cais de Santos vem crescendo a taxas superiores a 11% ao ano; estrutura está abandonada

Gargalo no porto já ameaça as exportações

FAUSTO SIQUEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS

A combinação entre movimentação crescente de cargas e ausência de investimentos em infra-estrutura ameaça transformar o principal porto do país em um gargalo para as exportações brasileiras.
Responsável por 26% do comércio exterior do país, o porto de Santos (SP) começou a sentir mais intensamente os efeitos de dois anos consecutivos de crescimento a taxas superiores a 11%.
Em 2001, o porto de Santos movimentou 48,1 milhões de toneladas, 11,8% a mais do que no ano anterior. No ano passado, o movimento alcançou 53,4 milhões de toneladas, 11,03% a mais que em 2001. Comparado com o mesmo período do ano passado, o primeiro trimestre deste ano registrou aumento de 16,32% no fluxo de mercadorias.
O crescimento no movimento contrasta com o histórico abandono da estrutura viária do porto por parte do governo federal, acionista majoritário (possui 99,97% das ações) da Codesp (Companhia Docas do Estado de São Paulo), estatal administradora do cais santista.
Desde março, o escoamento da safra de soja adicionou pelo menos mil novos caminhões por dia ao movimento do porto e provocou filas nas vias de acesso ao cais, devido à falta de áreas para estacionamento na faixa portuária.
A partir desta semana, a Codesp espera a chegada por dia de mais mil a 1.200 caminhões carregados com açúcar. De acordo com dados da Unica (União da Agroindústria Canavieira de São Paulo), cerca de 60% do açúcar brasileiro exportado é enviado para o exterior a partir de Santos.
Mesmo com a queda na produção nacional -nesta safra, a indústria canavieira deu preferência ao álcool-, os embarques de açúcar deverão pelo menos igualar os 8 milhões de toneladas do ano passado, segundo previsão da Codesp. No caso da soja, a parcela exportada por Santos deverá atingir 10 milhões de toneladas, 2,2 milhões a mais que em 2002.

Espera
Segundo o Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens da Baixada Santista, representante dos caminhoneiros, cada veículo que atualmente chega ao porto espera de 24 a 36 horas para descarregar.
"Estamos à beira de um colapso. Chegam mil por dia e desembarcam 600. Sempre sobram 400 para o dia seguinte. Hoje, temos na rua um shopping center a céu aberto para o bandido escolher o caminhão que quer levar", reclama o presidente do sindicato, Heraldo Gomes de Andrade.
De acordo com ele, a situação se agrava com os períodos de chuva -que, nos casos da soja e do açúcar, exigem a interrupção dos embarques nos navios devido ao risco de a mercadoria se deteriorar.
"O principal gargalo do porto de Santos é o sistema viário. Se continuarmos com esse crescimento brutal de movimentação, teremos problemas no futuro. É necessário um planejamento mais adequado do governo", afirmou Carlos Eduardo Bueno Magano, presidente do Sopesp (Sindicato dos Operadores Portuários do Estado de São Paulo), representante das empresas que executam os serviços de operação de carga no cais.

À espera das obras
Desde a gestão Fernando Henrique Cardoso, o governo federal acena com a construção de avenidas perimetrais nas margens esquerda (Guarujá) e direita (Santos) do porto, promessa reafirmada pelo atual ministro dos Transportes, Anderson Adauto, que incluiu a obra, orçada em R$ 350 milhões, entre as prioridades de sua pasta. O objetivo é agilizar a chegada das cargas ao porto, que ficará ainda mais facilitada após a conclusão da obra do Rodoanel, em São Paulo.
Para o sindicalista Andrade, porém, as avenidas perimetrais somente agravarão os problemas se antes não forem implantados estacionamentos. "Nas condições atuais, sou contra a Perimetral. Não haverá onde colocar tantos caminhões", disse.


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