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DEPOIS DO FMI
Escassez de dólares para financiamento comercial para as empresas brasileiras continua, apesar do acordo
Megapacote não trouxe linhas de crédito
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O megapacote de ajuda concedido ao Brasil pelas principais organizações internacionais na última semana surpreendeu o mercado, causou euforia no país e
chamou a atenção da imprensa
internacional. Mas, segundo analistas, está longe de resolver um
dos principais problemas enfrentados pelo país agora: a escassez
de linhas de financiamento comercial para as empresas brasileiras.
"O apoio financeiro foi mais expressivo do que esperavam os
mais otimistas. Mas a tensão eleitoral segue deixando o mercado
cauteloso. Não vai ser de uma hora para outra que as linhas retornarão", afirma o diretor financeiro do banco Santos, Clive Botelho.
Segundo o diretor de um banco
estrangeiro, a relutância das instituições internacionais em financiar as empresas brasileiras é explicada pelo temor em relação às
eleições. O receio de que algum
dos candidatos, se eleito, adote
mecanismos de controle cambial
ainda apavora alguns investidores.
Fernando Barbosa, economista
do BBV Banco, lembra que o desaquecimento da economia mundial também deve contribuir para
que a recuperação das linhas de financiamento seja lenta.
Outra causa para a retração das
linhas comerciais-inclusive no
mercado doméstico-é, segundo
analistas, a especulação. Alguns
bancos preferem segurar dólares
e esperar por altas maiores do que
emprestar recursos.
O fechamento das linhas de crédito no mercado internacional
para o país aumentou a compra
de dólares pelas empresas, que
elevaram suas remessas para quitar dívidas. Isso contribuiu significativamente para a alta do dólar.
E, segundo analistas, se os financiamentos não voltarem rapidamente, a pressão sobre a moeda
norte-americana pode continuar.
"As linhas de crédito devem voltar a se abrir, mas não acredito
que esse movimento ocorra na intensidade desejada", diz Dawber
Gontijo, estrategista-chefe do
HSBC Investment Bank.
A escassez de crédito ameaça o
bom desempenho apresentado
recentemente pelo setor de exportação. Segundo Roberto Iglesias,
secretário-adjunto de Política
Econômica do Ministério da Fazenda, nenhuma empresa deixou
ainda de exportar por causa da
falta de crédito.
"Se as linhas não voltarem agora, os efeitos sobre as exportações
podem começar a ser sentidos nas
próximas semanas", diz Iglesias.
Se o mercado internacional
continuar fechado, a pressão no
câmbio não deve acabar tão facilmente, como era esperado por
parte do mercado após a conclusão do acordo. Na última sexta-feira, o dólar e o risco-país -índice que reflete as expectativas do
mercado em relação à capacidade
de o país honrar suas dívidas-
voltaram a subir fortemente.
Saídas
Pelas contas CC-5 (contas de
pessoas ou empresas residentes
ou instaladas no exterior), a saída
de recursos cresceu expressivamente no mês passado. Em julho,
as remessas para o exterior por esse canal alcançaram US$ 1,249 bilhão. Em junho, a saída pelas CC-5 foi a metade disso.
Em momentos de maior tensão
e nervosismo, as contas CC-5 são
muito utilizadas, pois não é necessário avisar ao Banco Central o
motivo das remessas.
Em julho, o déficit total das operações financeiras -que incluem
os ingressos de investimentos estrangeiros, os pagamentos de juros e as remessas de dólares- ficou em US$ 2,98 bilhões. No mês
anterior, a fuga havia alcançado
US$ 4,2 bilhões, a maior desde a
maxidesvalorização do real, em
janeiro de 1999.
O que amenizou a saída de dólares pelas operações financeiras foi
o resultado positivo do segmento
de câmbio comercial. Em julho, as
operações na área de comércio
exterior do câmbio ficaram positivas em US$ 2,92 bilhões.
Colaborou Érica Fraga, da Reportagem
Local
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