|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EMPREGOS
Migração nos últimos 20 anos, causada por terceirização, faz setor industrial perder força no mercado de trabalho
Indústria emprega menos; serviços crescem
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Quem há 20 anos trabalhava numa telefônica ou numa indústria
como faxineiro ou na área de manutenção hoje provavelmente está empregado numa empresa terceirizada que presta esses mesmos serviços ao setor industrial.
Essa é uma das conclusões tiradas a partir de levantamento inédito do IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística), obtido
pela Folha, segundo o qual desde
1983 houve uma forte migração
do emprego industrial para o setor de serviços.
Em 1983, a indústria respondia
por 23,7% do número total de
pessoas empregadas. Os serviços,
por 47%. Em 2002 (até junho), a
participação da indústria caiu para 15,8%. A do setor de serviços
subiu para 55,5%.
Para Lauro Ramos, economista
do Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada) especializado em mercado de trabalho, o
principal motivo para a mudança
foi a terceirização de atividades
não-essenciais à indústria.
A migração tornou-se mais intensa no início dos anos 90. "Na
década de 90, o emprego industrial caiu muito com o processo
de abertura comercial, que obrigou as empresas a se tornarem
mais competitivas", afirma a economista Shyrlene Ramos de Souza, do IBGE.
De 1983 a 1992, a participação
do emprego industrial perdeu
pouco mais de três pontos percentuais -caiu de 23,7% para
20,4% do total. De 1993 a 2002, a
queda superou quatro pontos
-de 20,1% para 15,8%.
Desde 1999, a participação do
emprego industrial se estabilizou
em torno dos 16%. Para Ramos,
isso mostra que possivelmente
chegou ao fim o processo mais intenso de terceirização e que a indústria deve manter o atual efetivo nos próximos anos.
Apesar de o crescimento dos
serviços ter absorvido as perdas
da indústria, houve uma precarização do mercado de trabalho. É
que, segundo Ramos, aumentou a
informalidade. Motivo: o setor de
serviços emprega 60% de seus trabalhadores sem carteira, enquanto na indústria 70% dos empregados são registrados.
No comércio, a participação
também cresceu, mas com menos
intensidade. O segmento respondia por 13,6% dos trabalhadores
em 1983. Alcançou 15% em 1993 e
manteve o patamar.
No caso do desemprego, as taxas de todos os setores caíram em
meados dos anos 80 (Plano Cruzado). Subiram novamente no
início dos anos 90, com a abertura
comercial. Cederam um pouco a
partir de 1994 com o Plano Real,
mas voltaram a crescer a partir de
1998, sob o impacto das crises russa e asiática.
Na indústria, o desemprego
cresceu de 6,2% em 1994 (ano do
Real) para 8% em 2002 (até junho). Em 1983, fora de 7,3%. Nos
serviços, que historicamente têm
o menor nível de desemprego, a
taxa aumentou de 3,8% em 1994
para 5,6% neste ano.
A taxa média de desemprego
em 1983 era de 6,7%. Em 1994, de
5,1%. Em 2002, de 7,3%.
O levantamento do IBGE revela
ainda uma queda do número de
pessoas no mercado de trabalho.
Em 1983, do total de pessoas em
idade para se empregar (a partir
de 15 anos), 60,4% estavam trabalhando ou procurando trabalho
-ou seja, pertenciam à PEA (População Economicamente Ativa).
Esse número caiu para 59,3% em
1994. Recuou para 56% em 2002.
Para Ramos, as pessoas estão
estudando mais e entrando mais
tarde no mercado -o que ele
considera positivo. Também cresceu o desalento, o que as faz desistir de buscar emprego.
Texto Anterior: Mercados e Serviços: FGTS para consórcio de imóvel não decola Próximo Texto: Telefonia: Cliente "pobre" está fora dos planos de teles Índice
|