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TELEFONIA
Modelo de competição que visava ampliar serviço fracassa, e empresas focam ampliação em mercado corporativo
Cliente "pobre" está fora dos planos de teles
LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL
O modelo de estímulo à competição entre operadoras de telefonia fixa local, elaborado pelo governo em 2001, caminha rapidamente para o fracasso.
Anunciado com pompa pela
Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) em novembro
do ano passado, o projeto tinha
como objetivo permitir que segmentos da população de baixa
renda, que ainda tiveram a oportunidade de adquirir uma linha
telefônica, pudessem conseguir
isso graças à chegada de muitas
operadoras às suas cidades.
Segundo a previsão da agência
na época, a concorrência entre
novas operadoras que conseguissem concessões forçaria a redução de preços e abriria o caminho
para as classes D e E obterem suas
linhas.
O que tem ocorrido, no entanto,
é justamente o contrário. O Brasil
tem atualmente 49,3 milhões de
linhas fixas. Empresas como a
AT&T, CTBC, GVT, Telemar e
Embratel, que já conseguiram ou
estão para receber autorizações
ou concessões para expandir seus
serviços de voz no país, têm anunciado claramente que os alvos de
seus novos negócios serão basicamente empresas.
Atender a pessoas dos segmentos de menor renda não consta de
suas estratégias, pelo menos a
curto e médio prazos. No máximo, pretendem vender seus serviços para clientes das classes A e B,
já saciadas em suas demandas por
telefones.
Nelson Cascelli, vice-presidente
da divisão de telecomunicações
do grupo Algar, sediado em Uberlândia (MG), é um responsável
pela administração da operadora
CTBC. Ele deixa claro os objetivos
da empresa. "Estamos solicitando
à Anatel a ampliação de nossa
concessão para cidades como
Campinas, no interior de São
Paulo. Mas iremos atender apenas empresas, e não residências",
afirma Cascelli.
A Anatel garante que essa estratégia vai totalmente contra o projeto da agência de popularizar as
telecomunicações. Renato Guerreiro, ex-presidente da Anatel, declarou literalmente em novembro
de 2001 que o regulamento da expansão dos serviços telefônicos
visava "permitir o acesso àquela
faixa da população que ainda está
alijada dos benefícios trazidos pelo modelo [de telecomunicações"".
Entrega de telefones
Segundo a agência, toda operadora que estiver atuando em determinada região ou cidade é
obrigada a fornecer linhas residenciais para quem fizer o pedido. Mas várias operadoras não estão interessadas nisso, pois teriam
como clientes pessoas de baixa
renda e de baixo consumo. Com
risco de mais inadimplência em
seus negócios.
Operadoras já se preparam para
driblar a exigência da Anatel, oferecendo, por exemplo, linhas telefônicas caras, que desestimularão
sua procura pela população. Ou
linhas de baixa qualidade.
A AT&T, por exemplo, acaba
de receber autorização para oferecer serviço de voz em sete cidades,
entre elas São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
O presidente da empresa, Arthur Ituassu, afirma que o foco
dos negócios será mesmo corporativo. "Quem quiser uma linha
residencial poderá fazer o pedido,
mas o mercado vai perceber que é
melhor ser atendido por outras
operadoras."
Custos
Também a Embratel, que acaba
de receber autorização para oferecer serviço local de voz para qualquer lugar do país, afirma que sua
prioridade inicial será atender a
empresas.
"Vamos atender duas cidades
até dezembro. Elas não foram definidas, mas as pessoas não poderão pedir linhas residenciais",
afirma Purificación Carpinteyro,
vice-presidente de serviços locais
da companhia.
Esse tipo de estratégia vai contra
as determinações da Anatel. Carpinteyro afirma que a Embratel
está estudando tecnologias alternativas, a fim de não arcar com os
altos custos da telefonia para residências proveniente da interconexão com as redes de outras operadoras.
"Telefonia residencial não pode
ser cara, nem muito barata que
coloque em risco a qualidade das
ligações", diz Purificación.
A Telefônica também tem afirmado que sua prioridade na expansão dos serviços de voz será o
mercado corporativo.
Longa distância
Além do fracasso do projeto de
criar mais competição na telefonia local, o governo também não
deve conseguir ampliar o número
de operadoras que oferecem ligações de longa distância nacionais
e internacionais à população.
Em São Paulo, por exemplo, a
maioria das pessoas pode optar
pelos códigos 15 (Telefônica), 89
(Vésper), 21 (Embratel) e 23 (Intelig). A Telemar, por exemplo, irá
oferecer seu código 23 para empresas instaladas fora de sua região (que inclui RJ, MG, ES, Nordeste e parte do Norte do país).
São Paulo está na lista. "Mas não
vamos fazer publicidade do nosso
código para os consumidores residenciais", afirma José Fernandes Pauletti, presidente da Tele
Norte-Leste Participações, holding que abriga a Telemar.
Quem quiser utilizar o 31 em casa terá de adivinhar o código ou
estar bem informado das mazelas
do mundo das telecomunicações.
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