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Especialistas atacam proposta de limitar atuação da Petrobras
Ildo Sauer, ex-diretor da estatal, diz que governo "não tem legitimidade" para restringir ação da empresa no pré-sal
Planalto pretende evitar monopólio da companhia nos campos descobertos; para professor da UFRJ, acionista será prejudicado
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
ROBERTO MACHADO
DA SUCURSAL DO RIO
Os planos do governo federal
de reduzir os poderes da Petrobras na exploração dos novos
megacampos de petróleo na camada pré-sal foram duramente
criticados por especialistas do
setor. O ex-diretor de Gás e
Energia da Petrobras Ildo
Sauer disse ontem que o governo Lula "não tem legitimidade"
para tirar da estatal o direito de
explorar a camada pré-sal, tampouco definir o destino da riqueza que será gerada na nova
fronteira de exploração.
"Esse não é uma assunto para
ser decidido exclusivamente
pelo Executivo ou por meia dúzia de ministros. É uma questão
que deve envolver o Congresso
Nacional e a sociedade brasileira, que deve ser consultada sobre como o país deve se apropriar desses recursos", disse.
Conforme a Folha noticiou
ontem, o governo federal discute a formação de uma empresa puramente estatal para
gerir os novos campos e contratar outras petroleiras para a
exploração. O objetivo é evitar
o risco de a Petrobras tornar-se
poderosa demais.
"Não acho que a riqueza gerada por essa nova fronteira de
exploração deva ficar exclusivamente com a Petrobras, mas
tirar dela o direito de explorar
essa nova área é um crime, é ingenuidade ou é má-fé", disse.
O ex-diretor da Petrobras
defendeu uma grande mobilização nacional equivalente à da
campanha "O Petróleo é Nosso". O objetivo, diz, é tirar das
mãos do governo a prerrogativa de decidir sobre o assunto. A
campanha "O Petróleo é Nosso" mobilizou o país no fim dos
anos 1940 e culminou com a
criação da Petrobras em 1953.
A criação de uma nova companhia estatal também não é,
segundo Sauer, uma iniciativa
trivial. Para alcançar o estágio
tecnológico atual, a Petrobras
foi obrigada a investir bilhões
de dólares em pesquisa, que
permitiram que ela alcançasse
a camada pré-sal, afirma.
Acionistas
Para especialistas ouvidos
pela Folha, o Brasil já conta
com um órgão regulador para a
indústria do petróleo-a ANP
(Agência Nacional de Petróleo)- e com uma estatal que lidera a exploração e a produção
no país- a própria Petrobras.
"A descoberta do pré-sal foi
da Petrobras. Os direitos do
descobrimento são da Petrobras. Aliás, são dos acionistas
da Petrobras. Como fica o acionista nessa situação? A idéia de
criar uma estatal é absurda",
diz Giuseppe Bacoccoli, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Bacoccoli também faz críticas à proposta de criar um modelo híbrido para a exploração
e a produção -com as características do atual sistema (de
concessões) e as do sistema de
partilha da produção.
"No sistema de concessão, as
empresas pagam ao Estado em
dinheiro. E quem determina
esse percentual é o próprio governo. Já no sistema de partilha, o que será dividido é o próprio óleo. Mas, em ambos,
quem determina as regras é o
governo. Por isso mesmo não
faz o menor sentido criar uma
estatal", afirma Bacoccoli.
O diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE),
Adriano Pires, também defende o sistema de concessões: "A
estratégia de não concentrar a
exploração do pré-sal é inteligente, mas é por isso mesmo
que existe o modelo de concessões. O atual sistema atende
perfeitamente ao novo cenário
da indústria do petróleo".
Pires afirma que ajustes ao
modelo serão bem-vindos: "O
governo pode até mudar a sistemática de convocação dos
leilões, por exemplo. Evitar
momentos de queda acentuada
na cotação do petróleo, acompanhando de perto a conjuntura internacional. No limite,
deixar de fazer leilões por até
dois anos".
Sobre a criação de uma nova
estatal no setor de petróleo, o
diretor do CBIE é taxativo:
"Sou radicalmente contra. No
Brasil, criar estatal é criar cabide de emprego. E para administrar as áreas do pré-sal já
existe órgão regulador".
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