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PIB a 3,5% não é tragédia, afirma Belluzzo
Na opinião do economista, a crise global levará o Brasil a diminuir o ritmo e pode requerer um forte corte de juros
A exploração dos campos do pré-sal ajudará o Brasil a absorver melhor o impacto da desaceleração mundial, afirma conselheiro de Lula
Joel Silva - 13.jun.08/Folha Imagem
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O economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Unicamp
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
O desempenho da economia
brasileira no segundo trimestre
foi animador, mas, agora, já se
notam sinais de desaquecimento, diz o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, 65, professor da
Unicamp e conselheiro informal do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. Para ele, não se
deve fazer drama com a diminuição do ritmo do país, pois os
futuros avanços partirão de um
nível de atividade elevado.
FOLHA - O PIB brasileiro cresceu
6,1% no segundo trimestre porque
os juros ainda não começaram a fazer efeito. Como fica o cenário para
o Brasil em 2009, considerando
também a crise global?
LUIZ GONZAGA BELLUZZO - Minha
impressão é que já há sinais de
desaceleração. Acho que teremos, sim, uma taxa de crescimento mais baixa. Mas precisamos ter claro que uma queda de
6% para 4% ou 3,5% [ao ano]
não é nenhuma tragédia. A partir de um nível já alto, vai ter
um crescimento menor. E não
há como evitar essa desaceleração, pelo menos nos próximos
anos, enquanto durar a desaceleração global.
FOLHA - O senhor disse anos?
BELLUZZO - O Brasil terá que
atravessar um período de ajustamento, no tempo que durar a
recessão global. Mas, depois,
tem a exploração do pré-sal,
que começa a dar resultados.
Será necessário então cuidar do
financiamento à exploração. A
descoberta do pré-sal pode reduzir um pouco as trombadas
do ajustamento brasileiro.
FOLHA - A economia dos EUA cresceu 3,3% no segundo trimestre. Isso
significa que o alastramento dos
problemas bancários pela economia
ainda não se deu?
BELLUZZO - Na verdade, o setor
externo deu uma contribuição
importante para que o PIB
americano não recuasse. Porque todos os componentes da
demanda agregada caíram: o
emprego caiu, a produção caiu,
o desemprego aumentou. O
efeito positivo do setor externo
vai depender [daqui para a
frente] da reação das outras
economias à recessão dos EUA.
Os países que precisam do empuxo da economia americana
estão começando a entrar em
recessão, como a Europa e a
Ásia. A China certamente vai se
desacelerar, e não temos certeza -pois trata-se de um momento inédito- de qual será a
sua reação. O seu peso não é suficiente para compensar uma
desaceleração dos EUA e da
Europa. Não digo que não possa, mas tenho minhas dúvidas.
FOLHA - Analistas afirmam que o
Brasil não mostra estar sofrendo
muito com a crise justamente porque a China segue crescendo bastante. Quais seriam as conseqüências para o país se ela diminuir consistentemente o ritmo?
BELLUZZO - A queda de preços
das commodities que estamos
vendo é resultado da desmontagem de posições no mercado
futuro mas também das expectativas de demanda no mundo
real. Temos que esperar para
ver o que acontece. O BC brasileiro está em uma situação
muito difícil, precisando tomar
decisões complexas. Seria conveniente que tivesse mais tempo para pensar, mas isso não é
possível.
FOLHA - O senhor acha que o BC errou ao diagnosticar que a inflação tinha um componente forte de demanda interna?
BELLUZZO - Esse é um juízo
muito complicado, não dá para
ter uma posição radical em relação a isso. Sempre que você
toma posição radical, você corre o risco de errar. Como disse
[Antônio] Delfim [Neto], se você não tem certeza do que está
fazendo, faça devagar...
FOLHA - No aumento da Selic, o BC
está indo bem rápido...
BELLUZZO - Ali atrás, o julgamento do BC era que havia um
choque de commodities junto
com a aceleração do crédito e
da demanda interna, um processo que poderia levar à disseminação do choque de preços.
Agora, estamos em um momento diferente, mudaram as
perspectivas. Diria que é um
azar o BC ter que decidir agora,
ele pode se equivocar.
FOLHA - Continuar elevando os juros é um equívoco?
BELLUZZO - Corre-se o risco de
se cometer um exagero.
FOLHA - É possível combinar controle da inflação com crescimento
da economia?
BELLUZZO - Acho que o Brasil
vem tendo um comportamento
mais do que razoável. Desde
2004, o país está crescendo a
taxas compatíveis com uma inflação baixa. Porém, dependendo da velocidade [da desaceleração global], a política econômica [do país] é outra.
FOLHA - Como seria, nesse caso?
BELLUZZO - Tem que desmontar
rapidamente esse diferencial
de juros, senão você vai aprofundar a sua recessão, como os
alemães fizeram em 1930. Eles
acharam que o choque de 1929
era transitório, mantiveram
uma política de juros altos para
atrair de volta os capitais e conseguiram na realidade agravar
a sua deflação interna, o que levou a um desastre. Não digo
que a nossa situação é a mesma;
porém, se a desaceleração for
muita e a aversão ao risco continuar e começar um movimento de capitais daqui para
fora, podemos ter uma situação
difícil a enfrentar.
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