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ARTIGO
Desaceleração já começou
FERNANDO SAMPAIO
DA EQUIPE DE EDITORIALISTAS
O CRESCIMENTO do
PIB no 2º trimestre de
2008 -de 6,1% sobre
igual período de 2007, e de 1,6%
sobre janeiro-março- foi bem
maior do que no primeiro trimestre e um pouco maior do
que esperavam, em média, analistas de bancos e consultorias.
Essa constatação talvez reitere o ceticismo a respeito da
possibilidade de que já esteja
em curso um processo (ainda
incompleto) de redução de descompassos entre a oferta e a demanda. Uma leitura cuidadosa
dos dados, no entanto, sugere
que a economia transitou, no
primeiro semestre de 2008, para um ritmo de expansão mais
modesto do que o do segundo
semestre do ano passado. E o
conjunto dos desdobramentos
da conjuntura (brasileira e
mundial) reitera a perspectiva
de que a desaceleração terá
prosseguimento até os primeiros meses de 2009.
Peço ao leitor boa dose de paciência, porque, para esclarecer
que já ocorreu uma redução na
velocidade de expansão do PIB,
é preciso chamar a atenção para minúcias de seu cálculo, bem
como para as diferentes interpretações (às vezes conflitantes) suscitadas pelas várias maneiras de exprimir as variações
do PIB.
Primeiro é preciso lembrar
que do quarto trimestre de
2007 para o primeiro de 2008 a
velocidade marginal de crescimento do PIB -isto é, sua variação sobre o trimestre imediatamente anterior, já descontadas as flutuações típicas de
cada época do ano- despencou: ela passou de 1,9%, o que
corresponde a "asiáticos" 7,4%,
quando expressamos a taxa em
termos anualizados, para modesto 0,8% (ou 3,4% ao ano).
À época a redução do ritmo
de crescimento foi (corretamente) minimizada porque
elementos pontuais prejudicaram o PIB nos três primeiros
meses deste ano-com destaque para a greve da Receita Federal (que parece ter prejudicado mais o fluxo de exportações
do que o de importações) e para
paralisações atípicas de plantas
produtivas dos setores de petróleo e farmacêutico.
É evidente que, no segundo
trimestre, a regularização dos
trabalhos da Receita e a reativação de unidades produtivas
contribuíram para a reaceleração do PIB. Em que medida?
Não se sabe. Parece mais prudente examinar o que ocorreu
no primeiro semestre de 2008
como um todo. Constata-se que
o PIB superou em 6% o dos seis
primeiros meses de 2007. E essa taxa interanual é até ligeiramente maior do que a observada no segundo semestre do ano
passado: alta de 5,8% (sobre julho-dezembro de 2006).
Esses números sugerem que
o ritmo de expansão permaneceu praticamente estável da segunda metade de 2007 para a
primeira metade de 2008. Essa
impressão se desfaz quando verificamos o que ocorreu com o
ritmo médio de crescimento
ante o trimestre imediatamente anterior: essa velocidade
marginal diminuiu nitidamente, de 1,83% (ou 7,5% ao ano)
para 1,2% (ou 4,9% ao ano).
Esse segundo retrato parece
mais fiel à realidade e mais condizente com uma redução dos
descompassos entre oferta e
demanda. Aponta na mesma
direção a evolução dos estoques da indústria, apurada pela
FGV: no segundo semestre de
2007, eles encolheram, porque
a produção não conseguiu
acompanhar as vendas, e no
primeiro semestre deste ano
eles foram recompostos.
Olhando à frente, a maturação dos investimentos (em forte expansão) sinaliza um aumento importante da capacidade de oferta da economia. Em
paralelo, o aperto nas condições de crédito no mercado interno e o aprofundamento da
desaceleração das economias
ricas apontam para uma redução adicional do ritmo de crescimento do presente ao início
de 2009.
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