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Dividido, BC sobe juro em mais 0,75 ponto
Três dos oito diretores da autoridade monetária votam por aumento de meio ponto na taxa Selic, que vai a 13,75%
Analistas acham que divisão pode levar a uma redução do ritmo de alta dos juros já na próxima reunião do Copom, no final de outubro
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Cinco meses depois de iniciar o processo de alta dos juros, o Banco Central dá sinais
de que o ciclo de apertos pode
estar arrefecendo. Ao anunciar
nova alta de 0,75 ponto percentual na taxa Selic, o BC disse
que 3 dos seus 8 diretores votaram por um aumento menor,
de apenas meio ponto.
No mercado financeiro, já se
esperava que o Copom (Comitê
de Política Monetária do BC)
fosse elevar a taxa Selic de 13%
ao ano para 13,75%, nível mais
alto desde outubro de 2006. O
que não estava previsto era a
falta de consenso na diretoria.
Normalmente, a falta de unanimidade no Copom serve para
indicar qual será a decisão nos
próximos encontros do comitê.
A última vez em que houve divisão foi em julho do ano passado, quando alguns diretores votaram por um corte de 0,25
ponto, mas foram vencidos por
quem defendia uma redução de
0,50. Na reunião seguinte, o BC
reduziu a Selic em 0,25 ponto.
"O Copom está dividido
quanto à intensidade do remédio. Seguramente, essa dosagem foi repensada", diz Fernando Blanco, presidente da
seguradora de crédito Coface.
Para Elson Teles, economista-chefe da Concórdia Corretora, as decisões do BC continuam sendo pautadas pelo
comportamento da economia
brasileira, com pouca influência da instabilidade externa. "O
principal fator continua sendo
a questão doméstica", diz Teles.
As turbulências dos mercados, segundo o economista, não
devem ter muita influência na
trajetória da taxa Selic. Nesse
caso, a maior ameaça à inflação
seria uma contínua desvalorização do real, que encareceria
matérias-primas e produtos
importados. "Mas, se por um
lado o dólar subiu, por outro o
preço das commodities tem
caído bastante, então uma coisa pode compensar a outra."
Já Carlos Thadeu de Freitas
Filho, economista-chefe da
SLW Asset Management, diz
que, apesar do forte crescimento do PIB no segundo trimestre, nas últimas semanas já podem ser identificados sinais de
desaquecimento, que, se confirmados, podem fazer o BC diminuir o ritmo de alta da Selic.
"O crédito já mostra desaceleração, e alguns setores também
passam por desaquecimento
nas vendas. O estoque de automóveis, por exemplo, está no
maior nível desde 2006."
Desde que deu início ao movimento de alta dos juros, em
abril, o BC tem deixado claro
que sua principal preocupação
é com a velocidade de expansão
da economia, que, na sua visão,
pode levar a desequilíbrio entre
o nível de consumo e de produção, o que geraria mais inflação.
Por isso, nem a desaceleração em índices de preços nas
últimas semanas foi suficiente
para fazer o BC interromper o
aperto monetário. Em agosto,
por exemplo, o IPCA subiu
0,28%, ante 0,53% em julho.
Mas a principal preocupação
do BC é com 2009, pois já é dado como certo que a alta dos
preços deste ano ficará acima
do centro da meta do governo,
de 4,5% (com intervalo de dois
pontos) -até agosto, o acumulado do ano está em 4,48%.
Como uma alta dos juros pode levar até um ano para fazer
efeito por completo na economia, a decisão de ontem busca
conter a inflação de 2009. Até
agora, porém, a atuação do BC
não tem sido suficiente para
convencer o mercado financeiro de que será possível trazer o
IPCA de volta a 4,5% em 2009.
Pesquisa semanal do BC com
analistas mostra que o mercado
espera inflação de 5% no ano
que vem. Essa projeção tem sido mantida há oito semanas,
apesar dos aumentos nos juros.
Colaborou TONI SCIARRETTA,
da Reportagem Local
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